quinta-feira, maio 05, 2005

velha jovem guarda

costumo odiar essa série tosquinha "um barzinho, um violão", com que a gravadora universal fatura uns cobres em cima de karaokês kapengas praticados por grandes nomes da sacrossanta pós-moderna arcaica mpb popular brasileira mundial. mas já que o volume mais recente trata de uma vertente que me instiga - a jovem guarda -, vamos brincar de fazer um faixa-a-faixa?

vamos!

"só vou gostar de quem gosta de mim" (de rossini pinto, lançada por roberto carlos em 1967), com caetano veloso - ainda não consigo superar uma sensação mais ou menos recorrente de que ficou enfadonho ouvir caetano cantar, mas não dá para negar que é um mimo e uma fofura ouvi-lo resolver que "de agora em diante só vou gostar de quem gosta de mim". palmas ao sr. veloso, eu acho que é isso mesmo que ele devia fazer (mas nem por isso precisava passar a só andar com a sandy, né?)

"esqueça" (versão para "forget him", de mark anthony, por roberto corte real, lançada por roberto carlos em 1966), com daniela mercury - uma re-versão suave, se é que isso é possível em se tratando do vozeirão da mercúria. a voz dela sempre me irritou um pouco, não poderia mentir que gosto. mas já parou pra pensar nas razões simbólicas de todo aquele vulcão vocal? mercúria vive na bahia e tem de se impor, carnaval após carnaval, do topo de um trio elétrico, para toda uma multidão que é mais dócil e cordial na aparência que na essência. é preciso ser muito macho para enfrentar a violência nas entrelinhas daquele multidão, e daniela é. continuo não gostando muito de ouvir, mas respeito, deveras - inda mais se ela pede que a gente "esqueça"...

"pensando nela" (versão para "bus stop", de graham gouldman, por rossini pinto, lançada pelos golden boys em 1967), com roupa nova - o lado mais diluído do pop dos anos 80 encontra o lado mais pop da diluição dos anos 60 (atenção: da sambista de raiz beth carvalho ao sambista impuro jorge ben, muita gente boa já se apoiou na negritude vocal precisa dos golden boys). o resultado, sob o desânimo vocal dos roupa-nem-tão-nova-assim, é implosivo, eu diria.

"coração de papel" (de sérgio reis, lançada por ele mesmo em 1967), com luiz possi - medo, pânico, terror! do serjão, roqueiro açucarado que mais tarde viraria caubói de araque, acho que prefiro aquela que diz que "panela velha é que faz comida boa". dessa estranha mistura entre zizi possi e kelly key que é luiza possi, acho que sou mais "baba baby". ah, "baba baby" não é dela, não? ih, que puxa...

"lobo mau" (versão para "the wanderer", de e. marasco, por hamilton di giorgio, lançada por roberto carlos em 1965), com sideral - irmão de rogério flausino, do jota quest, sideral compôs o hit "fácil" para a banda do mano, testou uma imagem de roqueiro bleque pau e depois entrou numas de bad boy mal-educado... mas nem assim esse papo de "eu sou o lobo mau, me chamam lobo mau" chega a colar. porque a gente fica a pensar: afinal, quem é o verdadeiro sideral?

"o ritmo da chuva" (versão de "rhythm of the rain", de john. c. gummoe, por demetrius, lançada por ele mesmo em 1964), com fernanda takai e rodrigo amarante - fofura, fofura, fofura, fofura, fofura. o lado mais meigo do pato fu se encontra com o lado mais meigo de los hermanos para virar do avesso, com imensa doçura, o lado mais meigo da pré-jovem guarda. fofura, doçura, fofura, doçura, fofura.

"quando" (de roberto carlos, lançada por ele em 1967), com
babado novo - veja só como roberto carlos é mesmo um rebelde, até hoje. vive a proibir nove entre dez estrelas de regravarem seus clássicos, mas deixa a banda de axé babado assassinar um de seus rocks mais potentes e importantes. parece que a voz de ivete sangalo pifou e cresceu 9.9 pontos na escala richter de estridência. e ninguém merecia os improvisos "poéticos" salientes da babada nova no final.

"se você pensa" (de roberto carlos e erasmo carlos, lançada por roberto em 1968), com pedro mariano - pedro se arrisca na releitura de outro soul que sua mãe elis regina já relera 30 e poucos anos atrás (o mesmo já aconteceu com "as curvas da estrada de santos"). não chega a ser ruim, mas por essas e outras esse esforçado rapaz vai cada vez mais atraindo para si o ímã da comparação constante (e irritante, para ele e para nós) com dona elis.

"vem quente que eu estou fervendo" (de eduardo araujo e carlos imperial, lançada por erasmo carlos em 1966), com wilson simoninha - maldade da edição do cd parear pedro mariano desempenhando o bonzinho robertinho com wilson simonal jr. interpretando o malvadão erasmão. sou daqueles que costumam achar o vilão mais divertido que o bonzinho. mas simoninha tampouco se livra do excesso de trejeitos à la simonal na versão balada soul do rock chocolate&pimenta sessentão.

"coqueiro verde" (de erasmo carlos e roberto carlos, lançada por erasmo em 1970), com zeca pagodinho - oooops! nada como um sambista (im)puro para bagunçar o coreto! "coqueiro verde" é um dos momentos de fundação do chamado samba-rock (ou seja, 100% pós-jovem guarda), gênero que, sendo culturalmente mestiço desse modo, despertou reações agressivas da corrente purista do samba. zeca pagodinho reinterpretá-la é uma capitulação do bem, uma demonstração de ar puro não purista bafejando os pulmões do sambista, um pequeno momento histórico da música nacional. roberto & erasmo dão (são) samba, podiscrê, amizade!

"erva venenosa" (versão de "poison ivy", de jerry leiber, por rossini pinto, lançada pelos golden boys em 1965), com sandra de sá - cantora de bleque pau que pára sempre um palmo aquém de seus multicoloridos recursos, madame de sá abrilhanta os versos de maldades dedicadas a alguém que é um pote até aqui de fel. "alegria alheia incomoda", "ela é má, pode até te dar um choque", "é pior do que cobra cascavel, seu veneno é cruel", espeta a ferina versão (em anos recentes, já andaram insinuando que este tema serviria como luva para mim, mas eu não visto essa carapuça, não) que sandra reenquadra com simpatia.

"vendedor de bananas" (de jorge ben, lançada pel'os incríveis em 1969), com ney matogrosso - outro samba-rock pós-iê-iê-iê incluído no balaio de gatos de agora, essa já é cantada por ney desde pelo menos 1993. eu parafrasearia a letra que rejeita o lema preconceituoso de ordem (®resso) do tipo "vai trabalhar, vagabundo" e diria ao ney: mexe o traseiro aí no repertório sedimentado, ô, malandro!

"o vagabundo" (versão para "giramondo", de gianfranco reverberi, michele scommegna, rosario leva - quem é essa gente??? - e sergio bardotti, por george freedman, também lançada - acho eu - pel'os incríveis modelo 1969), com engenheiros do hawaii - a edição do cd desta vez é perspicaz em vez de maldosa e brinca com a ambiguidade da recusa e da aceitação do estigma de "vagabundo" pelos incríveis pré-"eu te amo, meu brasil". a versão hawaiiana é pop, suave e simpática - e eu consegui, uma vez na vida, falar bem dos engenheiros do hawaii!!!!! aleluia, pai, o papa é pop!

"você pediu e eu já vou daqui" (de antonio marcos e zairo marinoso, lançada por antonio marcos em 1969), com nando reis - impressionante a semelhança de estilos e imaginários, entre o chique e compenetrado nando reis e esta cançoneta esquecida do deprezão cafonão antonio marcos. legal, legal, legal (apesar de doída, dorida, dolorida). [e, olha, não posso negar que dói no ouvido o erro do português ruim do antonio marcos, "quando você (...) querer voltar pra mim" - mas, pô, basta de purismo gramatical brasileiro, né? porque, se soar assim agressivo demais aos ouvidos o português precário da pátria-amada-salve-salve, então por enquanto não restará muito recurso a não ser furar os tímpanos... todos estão surdos???] [e, pootz, eu queria taaanto saber quem é essa pessoa dona desse tão sugestivo nome "zairo marinoso"...]

"sentado à beira do caminho" (de erasmo carlos e roberto carlos, lançada por erasmo em 1969), com fernanda porto - ai, que medo, será que a balada mais triste e linda do pós-iê-iê-iê virou drum'n'bass para tocar na gringolândia hipnotizada por tom jobim e dj marky? ufa, não, afinal de contas este é um disco acústico (uh, que ssssssooooooonooooooo... já é a faixa 15 e eu ainda não dormi, nem eu mesmo sei por quê...). impressionante como la porto parece com la mercury quando canta - e olha lá que, ao que conste, fernanda nunca subiu ao topo nem mesmo correu atrás do trio elétrico...

"namoradinha de um amigo meu" (de roberto carlos, lançada por ele em 1966), com biquíni cavadão - ô, cride, fala pra mãe, por que terminar esse disco looongo com uma versão tão melancolicamente entediada de um rock tão imensamente loquaz de pai rc? acorda, brasil!

resumo da ópera deste momento-irrelevância? dez mangos!