quarta-feira, agosto 31, 2005

melancólicos sem causa?

uma pausa para falarmos um pouquinho sobre... música. "carta capital" 354, de 10 de agosto de 2005, reportagem-reflexão sobre o mais novo lançamento de los hermanos.

ainda espero parar para escrever melhor sobre isso, mas por enquanto não consegui ter idéias realmente legais sobre o novo disco dos rapazes, nem ao menos me sentir sinceramente empolgado por ele - hoje em dia, me causa um tanto de indisposição o tom choroso, essa melancolia meio sem razão evidente (após os rebeldes sem causa, quando criarão o [des]movimento dos melancólicos sem causa?)... mas, ok, os garotos são bravos, respeitáveis, produtivos. em homenagem a eles, por enquanto, coloco na faixa de gaza ao final do texto jornalístico o bônus de respostas dadas por marcelo camelo e por rodrigo amarante (bruno medina e rodrigo barba ficaram "invisíveis", desta vez), mas não aproveitadas na reportagem final.

SOB O SIGNO DA MELANCOLIA

Por Pedro Alexandre Sanches

Como uma banda inconseqüente de pop-rock se torna ao mesmo tempo uma instituição artística admirada por amantes da sacrossanta MPB, críticos e outros bichos? Como uma outra banda, experimental e toda tatuada de conceitos e elucubrações, consegue se manter popular e instigar laços sólidos com legiões hipnotizadas de fãs?

O quarteto carioca Los Hermanos vive a situação esquisita de ser, ao mesmo tempo, os dois grupos descritos acima. A história parece se desenrolar para eles de modo sempre inverso ao inicialmente imaginado, seja quando compõem um rock underground que vira sucesso nacional até em cima de trio elétrico de axé music (Anna Júlia, de 1999), seja quando tentam neutralizar a massificação ficando rebuscados (no disco Bloco do Eu Sozinho, de 2001). Num caso como no outro, não só não perdem público como ampliam a multidão a seu redor.

Transparecendo certo desconforto tanto pelo lado cara como pelo lado coroa dessa moeda, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba vêm desenvolvendo uma relação ambígua com a arte, a música, o estrelato vulgar da era das celebridades, os fãs, os que os criticam, até com a própria imagem. Ao chegarem ao quarto álbum, 4 (Sony & BMG, R$ 30), parecem comprimidos num remoinho de tensão e conflito onde se juntam todos esses fatores.

O resultado da soma de todas as cores será imprevisível, como tudo continua a indicar. Mas a princípio 4 parece um disco feito sob medida para desagradar a caras e a coroas.

Começa pela imagem dos rapazes (todos eles entre 26 e 28 anos), cada vez mais diáfana. Se já vinham aparecendo desgrenhados em barbas do tipo anos Lula, hoje suas imagens simplesmente se dissiparam: não há foto de nenhum Hermano no pacote que acondiciona o CD.

Continua nos formatos musicais do álbum. Após fincar marcas personalistas, sobretudo em Bloco do Eu Sozinho e Ventura (2003), Los Hermanos diluem uma identidade peculiar em 4, que namora imagens musicais banalizadas nos últimos anos por grupos estrangeiros de rock climático, messiânico e deprimido, como Radiohead e Coldplay.

Consuma-se na tez das letras fluidas (ou inconsistentes, para quem quiser detratar), dos vocais sentidos (ou choramingados) e do conjunto melancólico, tristonho (ou esquivo, desanimado).

Embora exprimam também o sofrimento do ato de dar entrevistas para divulgar o trabalho, Camelo e Amarante, os dois cantores-compositores, interrompem o aparente processo de fuga e reagem ao atrito e à comoção que voltam a causar.

Camelo cita o termo "angústia" ao discorrer sobre imagem e discurso. "Quem tem que ter público é arte: o artista faz a arte e a arte tem o público. Fica uma confusão grande, de dar tanta estima a quem fez e tirar a estima da própria obra. A gente sabe do poder de influência do que escreve, mas não gostamos de ser estimados como porta-vozes de alguma coisa. Mesmo quando falo das minhas músicas fico inseguro, me embanano todo... Sei tão pouco por ser tão mais afetivo que sabedor."

"Gosto, sim, do Radiohead, e não do Coldplay. Mas está mais pra coincidência o lance com os climas. Hoje sinto que sempre vou ser um pouco aquele Rodrigo que aos 12 anos comprou o primeiro disco dos Smiths e o segundo do The Cure", explica Amarante, dando pistas de uma já antiga vertente soturna.

"Posso dizer que nunca ouvi nenhum disco do Coldplay. De Radiohead, conheço aqueles mais famosos. A melancolia não é uma propriedade dessas bandas, assim como uma barba não é propriedade nossa", diz Camelo. "Nada foi feito com nenhuma intenção, nem de parecer o Radiohead nem de parecer o Dorival Caymmi."

Ao citar a melancolia caymmiana, ele libera mais uma pista, cujas pegadas se espalham por todo o disco. Mais que nunca, Camelo é o lado molhado de Los Hermanos, escrevendo canções de paisagem marinha como Fez-se Mar, É de Lágrima (que revisa o mote antigo de Lobão e Júlio Barroso em Me Chama, ao contrapor e justapor sem muita cola os termos "lágrima" e "mágica") e Dois Barcos.

No contraponto, Amarante pincela o lado seco e voa sob títulos como Os Pássaros e O Vento. Onde tudo se mistura, Camelo pode soar aéreo (Horizonte Distante) e Amarante, aquoso (Paquetá), mas a bipolaridade entre os dois também pertence àquela matéria que ao mesmo tempo esfarela e solda a identidade dos Hermanos.

É que, contrariando linhagens históricas de bandas e parcerias (Lennon & McCartney, só para citar um caso), os dois optaram por conviver dentro de uma mesma banda, mas compondo isoladamente, cada um na sua, ao mesmo tempo rejeitando e enfrentando suas diferenças & semelhanças.

A versão de Camelo: "Só temos uma parceria efetiva, que é A Flor (1999), que fizemos juntos em Recife, na nossa segunda viagem para fora do Rio. Tenho uma dificuldade imensa de criar coletivamente. Você precisa fazer escolhas a partir do nada, e escolher coletivamente me parece uma loucura. Mas acho que sou mais parecido com Rodrigo do que com qualquer outro compositor, provavelmente".

A versão de Amarante: "Sem dúvida somos parceiros. Mesmo não escrevendo juntos, somos parte de um mesmo organismo, nossos discursos dialogam, são saudavelmente dissonantes. Nossas músicas se apóiam e se sustentam juntas numa bela incoerência. Aí esse papo de irmãos faz muito sentido. Somos muito próximos e ao mesmo tempo tão diferentes. Assim se dá nossa parceria, e é a melhor possível".

Outro efeito desse método pouco usual é o que descreve Camelo, admitindo que não deve ser lá muito fácil ("lidar com gente é a coisa mais difícil que se pode fazer"): "No nosso processo de feitura não existe liderança. É tudo muito democrático e afetivo. Nos juntamos não pela afinidade estética, mas pela afinidade pessoal".

Se há conflitos e ansiedades internos a administrar, Los Hermanos também já protagonizaram episódio em que a tensão extravasou e se tornou exterior. Aconteceu há cerca de um ano, e teve por outro bode expiatório o músico Chorão, líder da banda hardcore Charlie Brown Jr. Um episódio de rivalidade e discordância de postura entre duas bandas ultrapopulares culminou numa cabeçada dada por Chorão em Camelo, que em decorrência teve de fazer duas cirurgias, para corrigir um desvio no septo nasal.

O desconforto cresce quando o assunto vem à baila. À época, todos se recusaram a debater publicamente o episódio, mas Camelo se vê forçado a fazer agora a revisão, movido pelo prazer/pressão de voltar ao noticiário por força de querer/ter de divulgar comercialmente seu novo trabalho.

"Continuam correndo os dois processos que movi contra ele, um civil e outro criminal. Sinto uma indiferença enorme por Chorão, ele conseguiu o que ninguém conseguiu até hoje: me perder como interlocutor", afirma, irritando-se quando defrontado com a hipótese de que seqüelas do confronto infeliz pudessem ser um dos inúmeros colaboradores para a resultante sorumbática do CD de volta de Los Hermanos.

É que, no geral, tanto ele como Amarante contestam a melancolia como vetor principal de 4. Contestam fazendo sua defesa, no entanto.

Camelo: "A melancolia é um lastro da vida, é um sentimento. Falar dela de alguma forma expurga. Você consegue materializar e olhar para fora. É um sinal de que a gente está muito bem, eu acho. Sinal de que está mal é ficar falando de alegria o tempo inteiro. Nem tudo que se opõe à euforia e melancólico, não acho que a melancolia sirva como linha condutora do disco".

Amarante: "Acho que as pessoas reparam mais na melancolia porque isso as incomoda, como se a tristeza fosse alguma coisa forçada, imposta. É triste para muitos o que uma música emocionante pode revelar, ou quer revelar".

Ali, ele parece próximo da resolução do enigma Los Hermanos, que nem os autores ainda dominam muito bem. A negação parcial à melancolia pode ser um dos muitos laços que atam a banda a tantos e tantos admiradores. O nó cego seria a própria melancolia, que poucos gostam de sentir, mas que muitos cultivam mesmo sem querer.

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bônus 1: marcelo camelo fala

desfrutar ou fugir da idolatria dos fãs?
"musicalmente, a gente não se afeta muito por isso. é claro que a vida que a gente vive afeta, talvez por isso a resposta à turnê ensurdecedora e eufórica do primeiro disco tenha sido o 'bloco do eu sozinho'. não era a resposta panfletária, contra qualquer coisa, mas a reação de vida mesmo, de nós como pessoas. agora estamos numa relação mais serena com a carreira, uma relação mais madura com o público, sobretudo da nossa parte. eu, pelo menos, faço com muito afeto, tentando preservar a legitimidade do olhar afetivo, como um olhar inocente, sem intenção, afetivo."

[comentário meu: o que será que leva artistas - ou políticos, comunicadores, apresentadoras infantis, jornalistas etc. - a pensar que a relação "madura" com o público se deve sobretudo a eles próprios? será que é mesmo assim?]

radiohead, coldplay, caymmi
"posso dizer que nunca ouvi nenhum disco do coldplay. de radiohead, conheço aqueles discos mais famosos, gosto muito de 'kid a'. parecer com eles não foi uma intenção, mas se no frigir dos ovos você achar que a gente se aproxima disso em detrimento de uma estética mais pessoal, acho legítimo. fico me perguntando se as pessoas perguntavam ao caymmi se ele era melancólico, ou ao fernando pessoa. a melancolia não é uma propriedade de radiohead ou coldplay, assim como uma barba não é uma propriedade nossa. nesse sentido, acho que a gente é mais humano do que coldplay, estamos mais próximos de ser pessoas de verdade do que ser o coldplay."

espelhos distorcidos
"talvez a gente ainda seja muito comparado a um universo restrito, que é o do pop-rock internacional. o mercado brasileiro ainda se espelha muito no mercado estrangeiro, talvez por isso as referências que se trazem para a gente sejam essas mais próximas dos próprios jornalistas do que da gente. é como wilco, não sei de onde se inventou que a gente gostava do wilco. nunca ouvi, não sei nem do que se trata, gostaria muito de conhecer porque já ouvi dizer que a banda é ótima. coldplay eu conheço porque toca mais na rádio. radiohead, não, já é uma banda de que a gente gosta mais."

[comentário meu: acho que camelo reclama sutilmente, aqui, do profundo complexo de inferioridade que faz com que milhões de pessoas que se consideram "antenadas" e "informadas" pensem que a música pop gringa é melhor (ou, no negativo, menos tosca) que a música pop brasileira. mera ilusão, garotada. música não tem fronteira, e achar todo o trigo lá fora e todo o joio aqui dentro é uma maneira triste, melancólica, arrevezada de ter vergonha-medo-ódio-horror de si próprio. é o oposto do triunfalismo que compõem blurs, strokes e white stripes pelos países "civilizados" afora - o triunfalismo pode ser o contrário de derrotismo, mas eu acho que o triunfalismo É o derrotismo. com quantos wilcos se faz um nelson cavaquinho?]

laços de família
"a gente não é uma banda que se juntou porque todo mundo gostava do mesmo tipo de música. a gente não embarca numa onda de alguém, porque no nosso processo de feitura não existe liderança. é muito democrático e afetivo. nos juntamos não pela afinidade estética, mas pela afinidade pessoal. então o produto final de um grupo como esse é muito difícil de ser dirigido, apontado para algum lugar. o resultado é como nós quatro queríamos que soasse. é o que acho que é o nosso grupo. é a nossa coletividade.

estresses em família
"a gente fica dois meses fazendo e discutindo um disco, é claro que desse processo saem faíscas também. é impossível não sair. mas no final das contas o que importa é que a gente gosta muito um do outro. a gente passa por cima das discussões, e sabe que a discussão faz parte do nosso processo, do lugar onde a gente vai chegar. somos quatro, muitas vezes as decisões não são consensuais. são discutidas e argumentadas, a gente não fica partindo para o voto e jogando as diferenças para debaixo do tapete." [pergunta: gasta energia, demanda esforço?] "é, mas é muito revigorante e renovador o fato de estar fazendo um arranjo. o passo dado ali já suprime qualquer discussão chata que acabou de passar, porque a gente sabe que tem um lugar para chegar, que tem que fazer um disco dali. se ficássemos os quatro para jogar biriba num sítio acho que seria impossível, a gente ia sair na porrada com 15 dias e ia embora cada um para um canto. a gente está ali para fazer um disco."

sem músicas em parceria com amarante?
"o ato de compor depende muito de ter vontade, de partir para dentro para fazer se não não consegue terminar. mas também tem uma parcela de inspiração e introspecção muito grande. você tem que evocar uma coisa maior que você, jogando com palavras também. é algo mais intrínseco do que alguma coisa que você domine com sua força de vontade. tem muito de imprevisível e de involuntário. eu tenho uma dificuldade imensa de criar coletivamente. fazer uma música é você evocar uma coisa a partir do nada. o que você faz é escolher coisas dentro de um universo limitado, que é o universo musical de 12 notas, dos acordes, e do universo das palavras, que é abrangente, mas também tem fim. você precisa fazer escolhas, e escolher coletivamente me parece uma loucura. a gente tem uma parceria efetiva, que é 'a flor', que fizemos juntos em recife, na nossa segunda viagem para fora do rio. foi a única vez. as duas outras parcerias que temos foram de eu dar um pedaço de música e ele desenvolver, ou de eu ter uma letra e ele fazer uma melodia. a lembrança de 'a flor' é boa, muito boa."

hermanos parecidos ou diferentes?
"acho que não discordaria, não, que a gente é mais parecido do que diferente. sou mais parecido com rodrigo do que sou parecido com qualquer outro compositor, provavelmente."

show bizz legal ou chato?
"tem várias coisas ótimas, o show em si é um negócio muito valioso. o exercício de dar entrevistas muitas vezes, por formatar na nossa cabeça o que a gente faz intuitivamente, é esclarecedor, mesmo que seja puramente retórico e não leve a lugar nenhum. muda nossa condição, nosso olhar, formata mesmo um pouco melhor na nossa cabeça. por outro lado, a imagem e o olhar sobre nós, pessoas, é muito prejudicial para o lado artístico, o fato de você ser observado e não ser observador. você ser muito observado lhe tira um pouco a condição de observador, essa é uma coisa que vai de encontro à função do artista, dificulta um pouco o olhar. (...) tenho muita angústia em ser uma pessoa que está aqui falando contigo e de você colocar minhas opiniões na revista ou jornal como se eu tivesse alguma coisa... me sinto mais observador, tão inseguro já em relação às minhas próprias coisas que eu digo, tão incerto, tão mudando de opinião até das coisas que eu mesmo escrevo ali nas letras. ao mesmo tempo, tranqüilo de saber que aquilo ali é um retrato passageiro, não me sinto fiador das minhas palavras."

peso grande nos ombros?
"é, mas é um peso que também você pode vestir ou não. você pode tentar virar o bastião do que quer que fosse, mas a gente não gosta desse papel, não representa ele. (...) ao mesmo tempo a gente é totalmente porta-voz das coisas que diz ali. a gente fala coisas de um universo personalíssimo, que são universais e têm o mesmo poder de transformação que uma palavra de ordem ou um panfleto, talvez até maior. a gente sabe disso, do poder de influência do que escreve e de como isso modifica a vida das pessoas através do afeto. a gente não é inocente de lavar as mãos para isso, de não olhar isso ou mesmo de temer isso de alguma forma. a gente aceita isso, porque sabe que é uma das prerrogativas da arte. o que a gente não gosta é de ser estimado como porta-voz de alguma coisa. (...) quando o assunto gira em torno de outras coisas, eu até tenho opinião, mas o papel que me é dado como artista é de alguém que sabe das coisas, mas tem menos conhecimento de causa do que se se for ouvir quem estuda, quem acompanha, pode dar um panorama. se estou decepcionado com corrupção, quem não está?, mas esse tipo de observação... se por um lado o artista é um bom termômetro da população e tem essa habilidade de uma certa forma, eu, como espectador, estou muito cansado de ouvir o que as pessoas acham das coisas."

bônus 2: rodrigo amarante fala

"paquetá"
"meu pai me contou a história, então resolvi escrever aquilo. meu pai é tão ou mais palhaço que eu, me levou a escrever com senso de humor, relaxamento. o ambiente que ele me sugeriu, o misto de inocência adolescente e malandragem carioca, me levou ao tema. 'paquetá' é sobre o discurso masculino diante da mulher, a incapacidade de dizer qualquer coisa que não um pedido de desculpa, apesar do vasto vocabulário. acho que existe uma fartura de músicas brasileiras que se propõem a revelar a força e a beleza da alma feminina de uma forma séria e tocante. escrevi 'paquetá' querendo, do outro lado, revelar a fraqueza e a feiúra da alma masculina de uma forma bem humorada e até ridícula."

[comentário meu: linda inversão de expectativas, mas... por que seguimos vitaminando o mito dessa dualidade desequilibrada, a "beleza da alma feminina" versus a "feiúra da alma masculina"? quando a bela alma masculina vai escapulir da invisibilidade, falando de si por si própria?]

sem músicas em parceria com camelo?
"sem dúvida somos parceiros. mesmo não escrevendo juntos somos parte de um mesmo organismo, nossos discursos dialogam, são saudavelmente dissonantes. nossas músicas se apóiam e se sustentam juntas uma bela incoerência. aí esse papo de irmãos faz muito sentido, somos muito próximos e ao mesmo tempo tão diferentes. essa convivência é inspiradora, um combustível do questionamento. não fazemos música juntos pelo simples fato de isso ser muito difícil e dispersivo no sentido do discurso. eu e ele temos coisas diferentes a dizer, pontos de vista bem distintos e escolher cada palavra, cada acorde, seria muito difícil. o fato de juntos trabalharmos as músicas um do outro, de criar forma pras músicas juntos, impregna o universo de um no outro e assim se dá nossa parceria. É a melhor possível."

radiohead, coldplay
"gosto, sim, do radiohead e não do coldplay. mas está mais pra coincidência o lance com os climas. Hhje sinto que sempre vou ser um pouco aquele rodrigo que aos 12 anos comprou o primeiro disco dos smiths. E o segundo do the cure. acho que isso influencia minha música muito mais do que a minha admiração pelo radiohead. mas, da mesma forma, muita coisa que não é música me influencia na hora de fazer música: o senso de humor escrachado da minha sábia avó por exemplo. posso tentar fazer uma análise do momento histórico, opor o fluxo de informação sem credibilidade aos espaços vazios nos arranjos, às melodias menos certeiras, vacilantes. acho um exercício divertido, mas não me sinto tão apto quanto você para o serviço (sinceramente). acho que minha infância de surfe, carnaval e roque inglês me determina muito mais do que esse hoje coincidente."

turbulências, recuos, fugas?
"acho impossível escrever música para fugir de alguma coisa. escrevo para correr o risco 'sem o qual a vida não vale a pena', como já disse clarice lispector. o resto é a conseqüência. deve ser. e se há turbulência é porque há movimento e isso já é melhor do que ficar parado esperando uma encomenda. não dá pra ficar pensando no que representar (eu não penso assim). tudo deve ser conseqüência desse ato inconseqüente de escrever."