terça-feira, junho 06, 2006

odair josé goes chico buarque



então, comadre, compadre, esse aí em cima é o refrigerador da geladeira lá de casa.

ali mora um pequeno pingüim - cê sabe, joinha, pingüins precisam de ambientes gelados para bem viver.

mas, como o mundo está ao contrário e quase todo mundo já percebeu, o viramundo passou por ali (alô, gabriel!) e, no giramundo, deixou que o iglu lá de casa recebesse a apimentada visita de uma nega cubana das mais calientes - importada diretamente de la habana, açúcar!

[cuba É o pólo norte? alô, comanche, o tio sam ainda tá tremendo de medo dessa batucada? frio É medo?]

pois, compadre, comadre, já é 2006 e a cena acima documentada aconteceu no duro - aconteceu, virou manchete. se até o papa já anda saindo em busca de deus (sem conseguir encontrá-lo), nada mais natural que o pingüim-imperador geladinho receba para uma feliz comunhão de discordâncias, no refrigerador lá de casa, o calor humano de la cubana condimentada.

[o pingüim branco-no-preto É a preta cubana, pois não?]

de turbande e charutão, a dona padece a queimadura das geleiras. gosta mesmo é do calorão dos furacões tropicais. mas é mulher forte, agüenta o tranco, cede aos encantos antárticos do pequeno pássaro porque sabe que pingüins-maomés jamais arredam o pé paralisado da montanha-geladeira em que deram de enregelar.

[é como se assim, de repente, sabe?, meu congelador houvesse virado palco para um pontudo romance entre cláudio lembo & heloísa helena - ou eu deveria dizer, cláudia lemba & heloíso heleno (evo viu a uva!, o índio agora É o colonizador?), neste mundo virado de viés em que o puritano-moralista É a ema da pá virada (e vice-versa)? vai saber..., lalaiá laiá...]

e já que no tabuleiro da cubana tem, oi, tem de tudo, tem, tá vendo ali entre os munguzás & carurus da fogosa, escondidinho, falando pelos cotovelos, o baiano raul seixas?, essa a mais completa metamorfose ambulante (alô, ciganos!) no caminho do meio entre caetano veloso & waldik soriano & rita lee, entre núbia lafayette & roberterasmowanderléa & galsimonebethânia?

[rezou? já ajoelhou, agora vai ter que...]

a bênção, padre profano raulzito. abençoa a galera daqui, abençoa judas, e abençoa também, entre tapas & beijos, o casamento celebrado por ti(, américa), há dez mil anos atrás, entre a cubana odaira & o pingüim buarquim:

"por quem os sinos dobram"
(raul seixas)

nunca se vence uma guerra lutando sozinho
cê sabe que a gente precisa entrar em contato
com toda essa força contida e que vive guardada
o eco de suas palavras não repercutem em nada

[congela. interpola. transborda (alô, pcc!) o trechim de "o dia em que a terra parou", de raul seixas & claudio roberto:]

no dia em que a terra parou...
o comandante não saiu para o quartel
pois sabia que o soldado também não tava lá
e o soldado não saiu pra ir pra guerra
pois sabia que o inimigo também não tava lá
e o paciente não saiu pra se tratar
pois sabia que o doutor também não tava lá
e o doutor não saiu pra medicar
pois sabia que não tinha mais doença pra curar

[descongela. esquenta. volta, ao som dos sinos do baioque:]

é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
evita o aperto de mão de um possivel aliado
convence as paredes do quarto e dorme tranquilo
sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

coragem, coragem, se o que voce quer é aquilo que pensa e faz
coragem, coragem, que eu sei que voce pode mais

[fotografa o flagrante, clica, grava que é 2006, sampleia & corta & cola. aproveita e percebe pelas bordas (à margem) como o bolo popular brasileiro fica bem (mesmo sem ser assim uma brastemp) com essas duas cerejinhas furta-cor no topo (invertido) da pirâmide social. continua tocando no assunto, vai - cê sabe que dói, mas é gostoso...]