terça-feira, outubro 02, 2007

pobres meninos ricos

já que o pedro noizyman trouxe o assunto à baila, vamos falar um pouquinho sobre ronnie von?

como preâmbulo (1), segue abaixo um pequeno texto publicado sob a finada vinheta "o não-lançamento", da falecida coluna "ruído", na "folha de s.paulo" de 28 de junho de 2002. lá eu falava do disco em questão como sendo de 1968, mas, ao que parece, ele só foi cair no comércio no começo de 1969.

depois (2), vem a reportagem publicada originalmente na "carta capital" 444, de 16 de maio de 2007. nessa ocasião, o não-lançamento virava lançamento, neste tempo maluco em que lançamentos (quanto mais relançamentos) valem menos e menos a cada dia...

em seguida (3), como contraponto, emendo uma historinha sobre um anti-ronnie von, alguém que nada (nada?) tem a ver com ele: dori caymmi, numa reportagem da "carta capital" 397, de 14 de junho de 2006, que eu nunca havia copiado aqui (como várias outras, aliás, êita, vida corrida), e ficou meio perdida no espaço-tempo concreto de lá, e a partir de agora fica perdida no cyber-espaço-tempo de cá, lado a lado com um seu antípoda.

por fim (4), um outro "não-lançamento" da era pré-cambriana, este de dori caymmi, extraído da "folha" de 18 de abril de 2003.

(obs.: os poucos grifos que surgem lá pelo meio dos textos são meus -óbvio-, mas feitos agora, posteriormente.)

dá-lhe, ronnie dori von caymmi!


1
O NÃO-LANÇAMENTO

Não ria. Em 1968, Ronnie Von aderiu à tropicália e lançou este curiosíssimo álbum verde-amarelo-azul-anil-vermelho e experimental. Na caldeira couberam arranjos do maestro erudito Damiano Cozzella, canção de protesto, falsos jingles comerciais, paródia a Orlando Silva e o nascente soul brasileiro. O fracasso foi retumbante, e Ronnie se converteu em maldito até se voltar aos hits bregas tipo "Tranquei a Vida" (77). A riqueza perdida é da Universal.


2
POBRE MENINO RICO
Os jovens descobrem os rocks de Ronnie Von, enquanto ele se distrai com um programa de variedade na tevê aberta

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

A Jovem Guarda foi um movimento musical ultracomercial desenvolvido nos anos 60 por jovens pobres, suburbanos ou interioranos, culturalmente desinformados e politicamente alienados, certo? Mais ou menos. Perdido nas malhas do "reino" governado por Roberto Carlos, havia ao menos um rapaz oriundo de família rica, filho de diplomata, formado em economia, admirador de jazz, bossa nova e música erudita. Ronnie Von era o nome artístico dele.

Mais de 30 anos depois da estréia como cantor de iê-iê-iês dos Beatles traduzidos para o português, Ronaldo Lindenberg Von Schilgem Cintra Nogueira toca em frente a carreira de publicitário (é dono de uma agência) e vive afastado da criação musical. De herança dos tempos da jovem guarda, quando cantava e apresentava programas televisivos movido pela pinta de galã, mantém contato direto com o público de segunda a sexta, na tela da Rede Gazeta.

O programa Todo Seu liquidifica um perfil popular com certas pitadas de sofisticação, e sem as apelações habituais. Pesquisas mostram que cerca de 70% dos espectadores pertencem às classes A e B, assim como o apresentador, um fluminense de Niterói que mora em uma mansão no bairro paulistano do Morumbi.

O dado simultâneo de conflito e aproximação espontânea entre camadas sociais distantes é uma constante na história de Ronnie. Ele se lembra de quando a família descobriu, ouvindo no rádio o programa Disco Estrelinha, que o jovem herdeiro havia virado cantor.

"Minha tia-avó convocou uma reunião familiar, o tom era 'onde foi que nós erramos?', 'criamos uma cobra para nos picar', 'esse menino vai colocar nosso nome na lama, nesse ambiente promíscuo'...", lembra. "Outras famílias tinham os filhos envolvidos com bossa nova, e estava tudo bem. Comigo não teve acordo, saí dali arrasado. Vim para São Paulo, com a mão na frente, a outra atrás. Fiquei num hotelzinho discutível na praça Júlio Mesquita, com moças de vida difícil, rufiões, policiais."

Convertido em sucesso instantâneo, conheceu o que hoje chama de "preconceito às avessas": "Comecei a ouvir textos no rádio, 'esse filhinho de papai está ocupando o lugar de alguém que precisa'. Eu tinha cara de quem acabou de sair do banho, era pior ainda. Diziam que eu era 'o usurpador do trono do Rei'. Aconteceu essa segregação e essa realidade, eu nunca participei da Jovem Guarda."

Tampouco os amigos de juventude e colegas de "música brasileira ortodoxa" o pouparam. "Meus pares da esquerda não aceitavam aquela 'música de alienados' feita com 'instrumentos eletrônicos'. Minha amiga Elis Regina dizia: 'Você ficou louco? O que está fazendo com esse bando de cabeludos?'. É um ambiente muito cruel, muito duro. Fui considerado menor a vida inteira. E foi preciso a molecada da garagem para redescobrirem o que fiz."

Refere-se ao fato de que se afastou da música há dez anos, mas a música não parece querer se afastar dele. À revelia, um Ronnie Von surpreso testemunha o interesse crescente de jovens roqueiros de perfil independente e experimental pela obra inconseqüente que criou, sobretudo no intervalo entre 1968 e 1973.

O resultado mais recente do interesse é o Tributo ao Ronnie Von, que a jornalista Flávia Durante dirigiu de modo independente, com bandas recrutadas numa comunidade de devoção ao cantor no Orkut. Sem edição tradicional em CD por enquanto, o projeto está disponível na Internet (www.ronnievon.blogspot.com), para download exclusivo e gratuito. O tributo virtual reúne 30 bandas em recriações dos rocks e baladas da chamada "fase psicodélica" de Ronnie. Já rendeu mais de 15 mil downloads. Ou seja, tem sido mais consumido que a grande maioria dos discos brasileiros em circulação no mercado tradicional.

"Procurei a discografia dele na internet, e me apaixonei perdidamente", conta Flávia. "Alguns dos participantes são realmente fãs, vários com histórias curiosas, como a Royale, de Piracicaba, cujo vocalista não se chama Ronaldo à toa: a mãe era fanática pelo Ronnie."

Grande parte do culto atual ao artista se origina de Ronnie Von, gravado em 68 com o maestro erudito Damiano Cozzella e recém-relançado em CD pela gravadora Universal. Era um disco de humor não só psicodélico (nome que se dava à época ao rock feito supostamente sob o efeito de drogas alucinógenas), mas também tropicalista, sem que o autor tivesse muita consciência disso.

Mal-sucedida em termos de vendagens, a "fase psicodélica" se espremeu entre duas outras, de apelo fortemente comercial. Entre 1966 e 1967, Ronnie firmara a imagem de "pequeno príncipe", com sucessos como A Praça, de Carlos Imperial, também descobridor de Roberto Carlos. De 1977 em diante, virou ídolo romântico com baladas radiofônicas como Tranquei a Vida (1977) e Cachoeira (1984).

"Quem dizia o que eu tinha que cantar era o departamento de marketing da gravadora. Cantava o que mandavam, se o diretor dizia 'vai por aqui' eu ia. Até hoje, na tevê, é assim. Eu me deixo envolver, não tenho personalidade forte o suficiente para me insurgir, dizer 'não, eu não quero'. Quanta bobagem eu fiz na vida. Errei muito mais que acertei", auto-avalia.

Mas Ronnie Von também marcou alguns gols. Foi ele, por exemplo, quem impulsionou a primeira banda 100% original de rock brasileiro, os Mutantes de Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias.

Assim ele se lembra do episódio: "Eu só tinha uma ligação mais forte com os Mutantes. Dei o nome ao grupo, levei para meu programa na Record, O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Muitos anos depois fiquei sabendo que fui contratado para ser anulado, para não concorrer com o Jovem Guarda (o programa de Roberto Carlos na Record). Não havia elenco, éramos só os Mutantes e eu. Tocávamos o lado A de Revolver (disco de 1966 dos Beatles), intervalo comercial, o lado B de Revolver, pronto".

No mesmo embalo, foi criado o álbum Ronnie Von Nº 3 (1967), um dos primeiros balões de ensaio para o lançamento da Tropicália. "Foi o maior fracasso da minha vida, quebrou minhas duas pernas. Ninguém comprou, foi devolvido à gravadora", avalia. Os arranjos eram do maestro Rogério Duprat. Os Mutantes e os Beat Boys, futuras bandas tropicalistas, o acompanhavam. Nenhum desses nomes constava dos créditos do disco, apenas o do então iniciante Caetano Veloso, como compositor e vocalista da faixa Pra Chatear.

"Não aparecia o nome de ninguém, não sei por quê. Perdi completamente o contato com Rita Lee. Convidei 36 vezes para ir ao meu programa, não sei se ela não gosta de mim", lamenta. "Não sou chegada em programas de tevê. Dia desses a gente junta a creche e faz um piquenique", Rita responde.

Algo parecido aconteceria em 1981, quando ele gravou Visagem, de Fagner e Fausto Nilo. "Tecnicamente é a canção mais bem gravada da minha vida, com arranjo de Cesar Camargo Mariano. Não aparece o nome dele, a mesma história de novo."

De modo geral, profissionais de renome pareciam se envergonhar de imprimir a assinatura lado a lado com a de Ronnie Von. Àquela altura, ele já andava imerso na onda dita "romântica", ou "brega".

Diz que se sentiu alijado e viveu situações de humilhação por conta da segmentação vigente. "Eu comungo dos mesmos ideais dos formadores de opinião, leio o que eles lêem. Mas acham que no ofício deixo a desejar. Quando é assim, você nem se olha no espelho. A pior luta do homem é a luta com ele próprio."

A zona máxima de confusão entre tantos valores se deu nos impopulares discos "psicodélicos", cinco LPs confusos por excelência, que misturavam Tropicália, rock rural, canções de Tom Jobim, Ivan Lins e Zé Rodrix, utopia pan-americana, até um ponto de umbanda levado na guitarra (Cavaleiro de Aruanda, do argentino Tony Osanah, dos Beat Boys).

São essas as canções que seduzem o público roqueiro jovem de 2007. Aqui, os músicos de agora sublinham a empatia pela inconsciência do "pequeno príncipe", como relata o entusiasta Leonardo Bonfim, um dos participantes do tributo virtual: "Eu pirei completamente no disco de 68. Acho um dos melhores discos psicodélicos de todos os tempos". No Japão, o LP tropicalista chega a ser vendido por 1,8 mil dólares.

Aos 62 anos, o pobre menino rico do iê-iê-iê assiste à movimentação como um espectador incrédulo e algo distante. Talvez seja esse, desde sempre, um retrato fiel dele e da música pop que tentava fazer, ao comando dos departamentos de marketing, para o "povão".


3
DORI E SEUS "PRIMOS"
Hoje um nacionalista exilado nos EUA, o filho de Caymmi comenta as divergências da geração heróica da MPB

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Aos 62 anos, o arranjador, compositor e cantor Dori Caymmi vive imerso em uma profunda dicotomia. Filho mais velho da instituição nacional Dorival Caymmi e reconhecido pela nata da sua geração como um dos músicos mais completos do Brasil, ele se define como um "nacionalista" por excelência, até mesmo um "xiita" em favor da musicalidade à brasileira.

Sim, ele é mesmo. Mas Dori é um nacionalista atípico, que, desde que Fernando Collor confiscou a poupança dos brasileiros, optou por viver e trabalhar em Los Angeles.
"Não saí daqui para ser o imigrante. Saí porque já estava de saco cheio do sistema. Saí assim meio triste, meio decepcionado", explica, de passagem por São Paulo. "Eu não podia gravar, porque se tivesse que gravar teria que ser independente. Lançamento de disco meu é pela janela. A gente joga e quem pegar, pegou. É fora do mercado, uma coisa que aconteceu com a maioria dos artistas que têm amor pelo Brasil."

Ele exerce o amor nacionalista do exílio voluntário e em visitas esporádicas à terra natal, como a de agora, quando lança por aqui o disco Rio-Bahia, encomendado por ingleses e japoneses e gravado em dupla com a colega de geração Joyce. Quando volta para os Estados Unidos, leva revigorada consigo a sensação de que este aqui "não é o Brasil formidável que me prometeram".

"Você chega a um lugar, sempre tem aquelas três pessoas com muito dinheiro, aí tem uma classe média abonada que puxa o saco... E depois tem o povo, a grande maioria", sintetiza.

O rumo que traçou para si faz pensar no de outro colega de geração. Como Dori, Sergio Mendes se formou na bossa nova. Diferente de Dori, logo virou ícone mundial kitsch-tropical, ao criar versões bilíngües de músicas de Jorge Ben, Tom Jobim e Burt Bacharach. Recentemente, rejuvenesceu a fórmula no vigoroso disco Timeless, em que se coligou com rappers daqui e de fora, como Marcelo D2 e will.i.am,. "Não gosto de hip-hop, sou xiita mesmo", protesta Dori.

Mas foi Sergio Mendes quem o levou aos EUA, onde produziu o primeiro disco estrangeiro de Dori, que diz que as coincidências entre ambos param por aí. "Não pude mais trabalhar com Sergio, porque ele queria tomar conta, queria que eu fosse um objeto dele. Ele só gosta de rico, eu lido com pobre, e procuro, seguindo a vertente do meu pai, não me tornar um milionário", dispara.

O xadrez de diferenças e coincidências leva, agora, a outro colega de geração, sempre citado ao lado de Dori no rol dos mais completos criadores de música brasileira. Edu Lobo, diferentemente de Dori e de Mendes, jamais deixou o País. Mas vive um outro tipo de isolamento, derivado da própria discrição, do freio no ritmo de criação e, talvez, das incompatibilidades entre as fontes mais elaboradas da MPB e o Brasil que toca nas rádios e tevês.

"Edu é, para mim, o grande compositor da minha geração. É o meu favorito. Ele, Chico Buarque e Francis Hime são pessoas que também têm as mesmas preocupações nacionalistas, sem serem baratas. É uma coisa da gente como país, com a geografia, o Nordeste, o problema social", identifica-se.

Não, ele não se vê num meio termo entre o pólo norte de Mendes e o pólo sul de Lobo – diz que é 100% pólo sul, mesmo radicado lá no Norte. "A minha preocupação nunca foi de fazer nada para americano. Faço meu trabalho, eles que toquem. Não faço nenhuma concessão, não vou fazer fox-trot. Fiz frevo, nos meus discos é tudo ligado ao Brasil."

Evidentemente, não se resume ao trio Edu-Dori-Sergio a diáspora da estridente geração musical a que eles pertencem. Em início de carreira, Dori lustrou a face de produtor, diretor musical e arranjador trabalhando com artistas de que depois ele se desencontraria. Depois de trabalhar com Nara Leão no musical militante Opinião (1965) e em outros discos, veio a ser o produtor dos álbuns de estréia de Gilberto Gil (Louvação, 1967) e de Caetano Veloso e Gal Costa (Domingo, 1967).

A divergência se chamou tropicália, que num primeiro momento cindiu a antes chamada "segunda dentição da bossa nova" entre os que aceitaram a assimilação brasileira dos Beatles e do rock (Caetano, Gal, Gil, Mutantes etc.) e os que não a aceitaram (Chico, Edu, Dori, Joyce etc.).

Dori ensaia teoria mais excêntrica para explicar a diáspora, dividindo aqueles grupos em "centro" e "periferia". "Você, sendo da megalópole, não é tão questionado. Não se expõe tanto, não se arrisca tanto. O cara que vem do interior vem com tudo, 'pô, tenho que fazer meu nome'. Meu pai fez isso. Caetano Veloso ia ser famoso em Santo Amaro da Purificação? Gilberto Gil ia ser famoso em Vitória da Conquista?", pergunta-afirma. Filho daquele que alguns chamam de "o homem que inventou a Bahia", ele próprio nasceu no Rio, assim como Chico, Edu, Marcos Valle, Joyce e a irmã Nana Caymmi.

Põe mais pimenta no vatapá: "Isso continua acontecendo. Ana Carolina seria famosa em Juiz de Fora? Hoje é a maior vendedora de discos do Brasil, e pega clássicos como Retrato em Branco e Preto e Beatriz e transforma numa piada, numa coisa completamente...", suspende o adjetivo no ar.

Compositora e arranjadora quase solitária entre as mulheres dessa geração (e também de outras), Joyce contemporiza as desavenças: "Isso é briga de primo. É todo mundo da mesma família, todos filhos de João Gilberto e Tom Jobim".

De perfil também discreto, a artista carioca que não saiu do Brasil, mas se apóia no entusiasmo de selos estrangeiros para seguir criando fala de Dori o mesmo que Dori fala de Edu: "Acho que Dori é o melhor de todos nós, o mais completo. Seguramente não é o mais popular, famoso ou reconhecido, mas entre nós é unanimidade, é só ver o respeito que todos têm por ele".

Joyce ressalta outras dimensões, para lá do desconhecimento do Brasil de hoje em relação ao músico que foi diretor musical em sucessos populares globais como Sítio do Picapau Amarelo (1977) e Gabriela (1975). "Morar na Califórnia, junto à indústria de cinema e fonográfica, dá outro perfil à carreira dele. Ele se inseriu nesse mercado, trabalhou com Sarah Vaughan, Diana Krall."

Outro filho da diáspora é Nelson Motta, o mais constante parceiro de composição nos primeiros anos. No festival de MPB que marcou o advento da tropicália, a dupla inscreveu O Cantador, defendida pela gaúcha Elis Regina; hoje, estão distanciados.

"Dori é um grande músico, mas para ele os valores são estritamente os musicais. Para mim, não, música sempre foi uma coisa maior. Dou tanto valor às palavras quanto às notas, dou mais valor ainda à soma de tudo isso com o que a música provoca nas pessoas e na sociedade, não só com acordes e melodias", delimita Motta.

Desde os anos 70 até hoje, o mais constante fornecedor de palavras à música de Dori é Paulo César Pinheiro, que no disco Rio-Bahia oferta a poesia amarga de Saudade do Rio, com versos como cada vez que alguém no Rio abre a janela/ já tem mais uma favela.

"Na primeira versão ele tinha pegado mais pesado, eu corrigi um pouco. A música tem um lado romântico muito bonito, que não pede a agressão", conta, em tom brincalhão, mas que realça o Dori sempre em contradição com quaisquer "primos", talvez também consigo mesmo.

Nesse balanço, o nacionalista migrante preserva o pai de sangue (anda contrafeito com o que considera desrespeito da imprensa à saúde frágil de Dorival, hoje com 92 anos). Mas não se exime de concluir com uma história "ruim" sobre o pai supremo de todos os primos briguentos, João Gilberto, que ele classifica, sem papas na língua, como "castrador" ("você vai cantar junto, ele atemoriza de tal maneira que você canta igual a ele").

"Fiz um arranjo para ele num especial de televisão (em 1980), ele mudou a harmonia completamente. Quando ouvi larguei o estúdio e fui embora, nunca mais tive contato."

João bronqueou? "Não sei, nem tive idéia. Eu nunca tive muita importância. Não devo ter nenhuma importância para ele, foi ele que me influenciou e teve importância para mim. Mas eu não vou mais aturar maluco, não, isso eu evito", completa, dias antes de voar de volta para Los Angeles.


4
O NÃO-LANÇAMENTO

Diretor musical de momentos como a estréia de Caetano e Gal em LP (em 67) e a trilha do "Sítio do Picapau Amarelo" (77), Dori Caymmi está prestes a lançar o novo "Contemporâneos", em que canta com os irmãos Nana e Danilo, Edu Lobo, Chico, Caetano etc. Enquanto isso, sua pequena discografia de MPB densa e elaborada continua quase toda abandonada. É o caso deste álbum homônimo de 1980, que reuniu versões do próprio autor para músicas que ele havia criado para festivais da canção ("Saveiros"), filmes de cinema ("Tati, a Garota") e telenovelas como "Gabriela" ("Porto", "Alegre Menina") e "Terras do Sem-Fim" ("Estrela da Terra"). Está no catálogo da gravadora EMI.