terça-feira, dezembro 05, 2006

hoje ainda é o primeiro dia do resto das nossas vidas

em 1999, trabalhando na "folha de s.paulo", tive a oportunidade de fazer uma entrevista histórica com baden powell num hotel paulistano, ocasião em que ele revelou, por exemplo, que já não cantava mais os saravás dos afro-sambas em parceria com vinicius de moraes, porque havia virado evangélico.

foi uma entrevista difícil, porque o homem em si, além de genial, era bastante difícil, e não fazia questão nenhuma de ser delicado ou agradar repórter. mas foi maravilhoso, emocionante, arrebatador para um repórter relativamente jovem, de 30 e poucos anos. por alguma razão que eu não soube direito, transcrevi e editei a entrevista na "ilustrada" utilizando boa parte das (muitas) coloquialidades que baden dizia. de presente, pela entrevista que tanto me orgulhava, ganhei uma baita bronca de um leitor - já não lembro exatamente o que ele argumentava, e nem sei se a carta dele foi publicada (acho que não foi), mas se não me falha a memória ele dizia que reproduzir a fala coloquial do artista era um modo de esculhambá-lo, de desrespeitá-lo. em suma, uma operação ideológica (e eis aí uma crítica que, aliás, nunca ouvi ninguém fazer quando a jornalistada reproduz, por exemplo, a fala coloquial de um rapper ou de uma funkeira).

enfim, tomei a bronca e fiquei achando que o cara tinha razão. ademais, qual transcrição, edição, redação, redução ou interpretação seria não-ideológica? era engraçado [e dizer "engraçado" é um modo de (não) dizer que isso aí era - e é - uma baita pressão que vem por todos os lados] saber que entrevistados reclamaram, reclamam e reclamarão dos modos como suas falas são selecionadas-cortadas-editadas-reduzidas, tanto quanto é possível um jornalista tomar um puta esporro de um não-entrevistado por ter se mantido estritamente fiel à fala dos personagens de tal ou qual reportagem. tipo, se correr o baden pega, se ficar o powell come.

mas, então, de volta para o presente: tudo isso é porque agora, apesar de broncas passadas e futuras, me deu uma baita vontade de transcrever uma outra entrevista do modo mais literal e coloquial possível - é a que fiz com os mutantes, numa tarde de segunda 29 de novembro de 2006, num salão de hotel na cidade de são paulo [a reportagem resultante está na "carta capital" 422, ora nas bancas, que é metade complementar da entrevista que vem transcrita aqui embaixo]. sim, deve ser operação ideológica, com objetivo sei lá qual - talvez o de afirmar que é histórico poder encontrar e conversar com os mutantes, seja em 1969, 2001 ou 2006, seja com ou (infelizmente) sem a presença de rita lee, seja quem forem 10 mil anos depois esses tais mutantes.

a propósito, a operação ideológica, desta vez, deu um trabalhão danado. havia uma platéia considerável espalhada pelo comprido salão, que incluía as esposas de arnaldo baptista (lucinha) e de sérgio dias (lourdes), assessoras de imprensa & outros. ouvindo a fita, as vozes não raro se sobrepõem e se confundem; a de lucinha estava longe demais, foi difícil de decifrar na fita cassete para muito além da memória; outras vezes fica difícil decifrar de quem são as vozes que vêm; em certos momentos, todo mundo fala junto mesmo, e aí é aquela água. ah, e posso também ter entendido errado um ou outro termo (e se, porventura, algum mutante ou participante do colóquio vier a passear por aqui e vir sua fala modificada, agradeço entusiasmadamente toda e qualquer correção; para isso mesmo a internet é letra viva, assim como também o são os mutantes, não é mesmo; aliás, a internet É mutante, não?).

enfim, o que vem abaixo é a tentativa mais rigorosa possível de reproduzir o bate-papo como ele aconteceu - o que inclui (talvez para purgar a bronca do antigo leitor, mas mais para inscrever no monolito do futuro, mesmo) manter intactos também os cacos, as coloquialidades e os micos do repórter (mesmo quando causem a este vergonha e uma baita vontade de apagá-los ou corrigi-los). ideologia para todos, democraticamente!, sem hierarquias!, aiô, silver! ideologia ou morte!

o esforço e o risco se impõem (assim eles ensinam, como naná e itamar), não só pelo caráter "histórico" de uma entrevista em grupo com os novos (velhos) mutantes, mas também porque foi tão divertido, porque eles pareciam tão contentes, porque dinho leme sorria do jeito caladão dele, porque zélia duncan parecia feliz enquanto pisava em ovos, porque sobressaltos e silêncios emocionados de gregos & troianas se antecipavam a respostas mais delicadas (em especial as que envolviam o nome de rita lee, evidentemente). talvez vá daí também um pouquinho de ideologia; mas talvez, quem sabe, pudéssemos substituir o termo "ideologia" por "emoção", "intuição", sei lá. porque, assim como música, jornalismo descarnado e calculista também não é mais "moda", não tá com nada, é treco de dinossauros mamutes, não de mamutes mutantes.

pois vai daí a entrevista, com meus agradecimentos empolgados a mutantes, a novos mutantes, a velhos mutantes, a não mutantes e nunca mutantes (ah, e salves especialíssimos aos pop-maestros celestes baden "saravá" powell, rogério "coração materno" duprat e raul "eu vi pedro negar cristo por três vezes" seixas!). a nós.


pedro alexandre sanches - a impressão mais freqüente era de que essa volta dos mutantes nunca iria acontecer. o que permitiu que ela acontecesse?

sérgio dias - never say never. a gente sempre foi fã do james nond.

arnaldo baptista - lá vem 2007, dois-zero-zero-sete.

sérgio - são dois 007.

pas - mas deve haver um momento histórico que permita que aconteça de fato, não? qual é este momento de agora, o que aconteceu?

sérgio - tem. acho que é o mesmo momento que criou a banda. acho que por razões razões acima do nosso conhecimento, no momento, nunca dantes navegadas...

zélia duncan - conjunções...

sérgio - conjunções desastrais [risos]...

pas - depois de quanto tempo, mesmo?

sérgio - 33 anos. idade de cristo. [essas contagens são meio confusas, né? rita lee saiu dos mutantes há 34 anos; arnaldo, há 33; o último disco "original" dos mutantes, tendo apenas sérgio como remanescente da formação original, saiu há 30 anos.]

pas - como foi gestada a volta? não sei para quem olho para perguntar isso, vou olhar sempre para a cortina [risos].

sérgio - pergunta para o dinho, ele é que sabe bem. [para o repórter] que legal o seu tênis.

pas - você olha para o meu tênis e eu olho para a cortina...

sérgio - o bico parece que é de outro...

zélia - o tênis está gripado.

sérgio - ele está gripado! legal, o bico é maior! ele é conversível? que marca é isso?

pas - não sei...

arnaldo - a sola de borracha é rubber sola. rubber soul [risos].

pas - mas, então, por que, e como foi?

sérgio - porque... nunca teve não porque. depois que a juventude passou por nós e a gente foi viver as nossas vidas... eu estava nos estados unidos, arnaldo estava vivendo aqui, rita estava fazendo a vida dela, dinho estava fazendo a vida dele, foram outros caminhos que a gente teve que viver para chegar até aqui. por exemplo, por que eu estou em são paulo? estava nos estados unidos, depois vim para o rio de janeiro, fizemos uma casa em araras, depois resolvemos vir para são paulo. são tantas coisas externas, se for parar para pensar onde isso começou a gente pode dizer que... imagina quando o cara botou a primeira pedra fundamental no barbican [o teatro londrino onde se deu a apresentação de volta, em maio passado]. foi lá que começou, então, porque, se for pensar, é muito louco o negócio. da maneira como a coisa aconteceu é mais ou menos exatamente o que eu sempre pensei que iria ser: basta um telefonema.

pas - você sempre pensou que ia ser assim?

sérgio - sempre, sim. acho que todo mundo. muita gente botava esqueleto dentro do nosso armário, e não tinha nenhum, nada a ver.

pas - qual foi esse telefonema?

sérgio - o telefonema foi... para mim foi o do dinho. quando ele disse "eu topo", aí foi que caiu a ficha.

arnaldo - para mim quem falou foi o aluizer [malab, empresário sediado em belo horizonte, que gerencia e/ou gerenciou o trabalho de artistas como pato fu, otto, arnaldo baptista (em seu retorno solo, há dois anos) e, agora, mutantes].

dinho leme - é, o aluizer foi quem falou com todos nós.

sérgio - ele foi o cara que fez o tricô. e foi muito bom.

arnaldo - ele trabalha na empresa polvo, a voz do polvo é a voz de deus.

lourdes dias - não, é malab, malab produções [risos; o logotipo da malab é um polvo, daí o trocadilho de arnaldo].

sérgio - apesar de malab, ele tem uma boa lábia. mas aí, sei lá, a maneira como aconteceu foi muito... foi completamente fora da nossa jurisdição... foi o cara do barbican, foi o eduardo, foi o aluizer, foi tudo menos a gente.

pas - quem é o eduardo?

arnaldo - não lembro quem é o eduardo.

sérgio - não lembro o nome, o eduardo que era da trama. edu era curador do barbican, e ele falou para o chefe de lá, que estava fazendo aquela exposição, que fazer uma coisa de tropicália sem mutantes era completamente irrelevante, não tinha o menor sentido. aí, sei lá, acho que isso escapou na imprensa lá fora, eu recebi e-mail da menina da "mojo magazine", dizendo "escuta, você vai tocar de novo aqui, que legal". eu disse "pô, não tô sabendo". daqui a pouco começa a pipocar em tudo quanto é lado, a rádio kiss dizendo que a gente já estava ensaiando, que eu estava falando com liminha [outro dos ex-mutantes que, como rita, não topou a nova jornada] pelo telefone [ri].

pas - vocês não estavam ensaiando?

sérgio - não. o legal disso tudo foi que fez os telefonemas acontecerem. quando dinho falou que tocava, aí para mim é muito sério, porque eu sei, o dinho não é moleque, ele sabe o que significava para ele ter que dizer "eu toco". é uma encrenca do cacete, você voltar 30 anos depois e pegar um palco como o barbican de frente. o nosso off-Broadway foi lá, o primeiro show do resto da nossa vida foi lá. foi um belo desafio.

pas - dinho, o que levou a falar esse "sim" neste momento?

dinho - talvez o motivo seja esse. se fossem me convidar para fazer um som dentro de casa, na praia, como me convidavam sempre, eu não ia.

zélia - ele só sai de casa para ir para o barbican [risos, comentários paralelos].

sérgio - dinho é muito elegante.

pas - você não estava fazendo mais nada com música?

dinho - não.

sérgio - eu sou fã dele, ele é quem faz o fórmula-truck. eu fico vendo lá.

dinho - mas é isso aí, a vontade de fazer um negócio legal, mesmo. tanto é que eu falei para o sérgio: "tô dentro, mas vamos ver até onde eu chego". fui sentindo que dava.

pas - e tem este moço aqui [para arnaldo], que tinha feito um disco solo e vinha progredindo muito nos últimos tempos.

arnaldo - é, aos poucos. eu não estava conseguindo ligar meus equipamentos ainda, eu ainda pasto horrores para conseguir lá. tenho os melhores amplificadores da terra, né?, audio research e valvulados. mas não tenho pré-amplificador. passei uns cinco anos para conseguir um valvulado, agora consegui. é muito difícil. além disso consegui um alto-falante subsônico, tecnologia inglesa, americana. a gente ouve até 16, ele alcança abaixo de 13. é igual a um trovão, que você não ouve nem no barbican. eu nunca tinha ouvido, até que comprei. isso é bipolar, não vai para a frente nem para trás, só para a frente, 10 mil watts. é bom. então eu estou construindo esse som, e aos poucos eu vou... por exemplo, eu não posso tocar bateria com os mutantes, que eles não têm dois ximbaus e dois bumbos. a minha tem. antigamente eram dois bumbos e um ximbau. então, se eu tocasse ia ser pela metade. também tenho dois baixos gibson, os mutantes não têm. eu teria que fazer diferente. então tem todas essas coisas que a gente tem que aos poucos se entrosar, né? mas está sendo coisa, para mim, que eu não pensava que fosse possível. um exemplo: eu gostar, adorar a guitarra do sérgio, e agora eu acho que é a melhor que existe. mas antigamente, se batesse na minha cabeça, eu não ia acreditar. é piração total o que aconteceu. a guitarra do sérgio ficou em segredo, até para mim, dois anos atrás eu não entendia. agora eu entendi e aprovei.

sérgio - é, tem coisa nessa guitarra que até hoje não foi contado, tem segredos tecnológicos.

pas - que você sabe?

sérgio - é lógico, foi o meu irmão que fez.

pas - onde está o cláudio [cláudio césar dias baptista, irmão mais velho de arnaldo e sérgio e uma das figuras pardas por trás dos mutantes, era engenheiro de som e fabricava instrumentos musicais]?

sérgio - está em rio das ostras.

pas - vai assistir ao show, será, em algum momento?

sérgio - tomara. difícil é conseguir arrancar ele de lá.

arnaldo - tomara que ele não vá [risos].

pas - por quê, arnaldo?

arnaldo - porque eu não gosto.

sérgio - não fala, é seu irmão.

arnaldo - que nem falar mal de fumar, falar mal do cláudio césar, eu sou assim.

sérgio - tá certo.

pas - é, os mutantes voltaram, realmente [risos].

zélia - com tudo que isso significa.

sérgio - com tudo que isso significa.

arnaldo - eu saí dos mutantes por causa dele, então para mim é importante. para outros talvez não.

pas - mas você também não vai ficar bravo se ele aparecer lá, vai?...

arnaldo - desde que ele não ponha amplificador transistorizado, perfeito [risos gerais].

sérgio - os meus são válvula!

arnaldo - nem guitarra. eu usei o contrabaixo dele a vida inteira de mutantes, e no festival o output do baixo do césar era horrível. o serginho tem distorcedor, então não importa qualquer amplificador porcaria, porque o distorcedor é alto. mas eu tinha que botar meu baixo no máximo, com o amplificador no máximo, com um barulho horrível, e tentar fazer o festival inteirinho com aquele som horrível.

sérgio - e todo mundo gritando...

arnaldo - é, que o cláudio césar tinha feito. mas vai entender isso... agora tenho um gibson.

pas - [para arnaldo e sérgio] e vocês dois no palco, juntos, fazia um milhão de anos que não acontecia?

sérgio - fazia, muito.

pas - desde a época dos mutantes?

sérgio - é. teve alguma coisa, de o Arnaldo dar canja, mas muito pouco.

pas - e como está sendo?

arnaldo - eu estou desbundado.

sérgio - está sendo, como eu posso dizer?... um cataclisma [ri].

arnaldo - a catapulta [ri].

sérgio - catapulta, cataplasma.

pas - uma catapulta, arnaldo? catapulta é o que atira algo para outro lugar, não?

sérgio - uma vez pintou um gato, que ele chamou de catapulta. cat-a-pulta [risos].

arnaldo - trocadilho..., eu misturei as coisas [ri]...

sérgio - o "pulta" é que até agora eu não entendi...

arnaldo - tá catando...

sérgio - catando "pulta"...

pas - ou pulga...

arnaldo - é, também.

pas - bem, temos que falar naquele assunto... um dia vocês tiveram que telefonar para rita lee, que acabou não topando...

arnaldo - ah, isso o sérgio sempre fala, "eu telefonei". eu nunca telefonei para ela.

sérgio - o arnaldo nunca telefonou para a rita.

arnaldo - para mim, eu não ligo a mínima [risos].

sérgio - eu telefonei.

arnaldo - é.

pas - e aí?

sérgio - aí... não, eu mandei um e-mail para ela...

pas - então você não telefonou também?

sérgio - não, eu não tinha o telefone dela. aí mandei o e-mail, ela gentilmente declinou da oferta. mas é lógico que eticamente teria que avisá-la, né?

pas - não chegou a haver uma negociação, ela não chegou a cogitar?

sérgio - não, não existe negociação. como negociação?

pas - quero dizer que vocês poderiam ter tentado convencê-la.

sérgio - não, não, não, não existe. tá a fim? não tá a fim? have a nice day. é assim que é. bicho, é igual... nunca consegui paquerar na minha vida, não sou desse tipo. eu saio já beijando. eolou, rolou. não rolou, tio, tchau. você não viu o que eu fiz com essa mulher [dirigindo-se a zélia]? "uuuuuuh" [imita os vocais pândegos/fantasmagóricos de "2001"], aquilo foi demais, ela está maravilhosa. a zélia é um amor, né? meu deus do céu, dançando castanhola no "el justicieiro"...

zélia - perdi minha fama de mau, cantando agudinho ali.

sérgio - imagina, "cabeludo patriota" [grita, imitando a música]. "uuuuuuh", imagina a zélia fazendo "2001", estudou tanto para isso [risos]...

zélia - anos de pesquisa...

sérgio - anos de pesquisa, para fazer "uuuuuuuuh"... ai, ai.

pas - ele falou de brincadeira, mas "estudou tantos anos para isso" pode ter outro sentido, para cantar nos mutantes...

zélia - é...

sérgio - olha, bicho, eu não tinha a menor noção de quem essa mulher era. caí de costas depois da minha ousadia. fui à casa dela, ainda estava aquele negócio de ela ser convidada especial. eu chutei o pau da barraca. "escuta, e aí?"

zélia - "qual é?"

sérgio - "vamos? vamos entrar na história, vamos nessa..." aí ela me mostrou o dvd dela. malandro!... puta que pariu...

pas - o "eu me transformo em outras"?

zélia - é.

sérgio - cara, é de matar. fodeu. a gente ouviu as maiores cantoras do mundo, né? vivi muito, a gente viveu muito perto de elis...

arnaldo - gal...

sérgio - gal... gente muito séria. e fazia muito tempo que eu não ouvia alguém cantar como a zélia. quando eu vi ela cantar no "eu me transformo em outras", bateu uma coisa que... não tem palavra, é honra. você ter uma elis regina no grupo é foda. é horrível você ter que dar um termo comparativo desse, mas dentro do brasil elis é um marco, dentro do mundo elis é um marco. mutantes é um marco. e a zélia... marcou, bicho.

pas - você diria mais ou menos como se hoje houvesse uma elis nos mutantes, então? essa idéia é interessante...

lourdes - não, não é isso, não.

sérgio - não tem nada a ver, estou falando da elis porque digo da qualidade técnica, de timbre e de saber o que está fazendo, saber como colocar emoção no que canta. você ouve aquele vibrato da elis, aquilo não é vibrato, aquilo é tremor, aquilo é emoção pura. isso você não acha em técnica. tem cantoras que tem técnicas estupendas, mas a emoção que uma intérprete passa é o quilate da coisa. é ali que você vê. pode estar no meio de onde for, pode estar tocando num cafundó do judas, você vai ouvir aquela mulher cantar e vai cair de costas. e é o caso da zélia.

zélia - bonito.

lourdes - a gente foi ao outro show da zélia, maior rock'n'roll...

sérgio - é, maior roqueira, meu, tocando guitarra e tudo.

pas - [para zélia] ainda assim, com ele dizendo tudo isso, em certo sentido a sua missão é a mais complicada, a mais delicada, não?

zélia - é, é... cada um tem o seu tributo ali...

pas - como e por que você veio a aceitar?

zélia - outro dia eu estava até falando, gente, este ano está acabando, quanta coisa aconteceu na minha vida que eu não podia fazer a menor idéia. eu conheci o sérgio naquele domingo chuvoso... como fã e artista tive ali naquele dia uma honra, putz, já conheci o sérgio, vou conhecer o arnaldo agora, mas... como uma fã que sempre adorou esse som. não sonhava nunca em ser cantora junto com eles. nem depois de ter conhecido.

sérgio - foi uma coisa muito louca. a gente se conheceu por acidente...

zélia - a gente se esbarrou, né, Sérgio?

sérgio - é, se esbarrou, mas o legal disso é que a gente teve a consciência do moment, "opa!".

zélia - é, tem gente que você se esbarra, e tem gente que você se encontra. de repente a gente se encontrou, foi muito surpreendente, por tudo. não só pelo meu timbre de voz, mas por tudo. pouco tempo depois, sérgio me ligou... quer dizer, uma pessoa que estava comigo ligou para o aluizer, o aluizer estava perto deles, aí eu mandei um beijo para o sérgio, aí desligamos. dois minutos depois ligaram, "o sérgio quer falar com você". sérgio botou pelo telefone, "olha aqui o que a gente está fazendo", e eles começaram a tocar. eu fiquei feliz, "parabéns!, que lindo!, obrigado por ter botado para eu ouvir!". e aí, pouco depois, ele fez o convite para eu ir até lá.

pas - isso nós estamos quando, exatamente?

zélia - estamos em final de março, começo de abril, eu acho. pô, o show era em maio, loucura. aí eu vim a são paulo, conheci o arnaldo também, de repente estava lá conversando com os dois, parecia que eu estava meio doidona. cara, não é possível isso [ri]. e ainda com medo, e quando chegar no estúdio? até falei, já grilada, "olha, sérgio, se não der certo, pelo menos eu tive o prazer de passar uma tarde cantando com vocês". e aí, quando acabou aquele ensaio, o sérgio falou: "vamos?". e aí eu comecei a mudar a minha vida inteira por causa disso. e sabendo o tamanho do risco que eu estava correndo.

pas - teve que mudar tudo?

sérgio - todos nós, bicho. imagina só, pensa bem o que estava na reta. ok, tem essa tal famosa frase, "podia ser o maior mico internacional do ano", frase cunhada. e realmente a gente foi direto para a boca do leão, mesmo. ou era ou não era. a gente foi tocar? fomos. fomos onde? no barbican. qual é o dvd, o do último show? não, foi o do barbican, o primeiro. quer dizer, não teve meio termo. foi uma coisa muito "what you see is what you get".

zélia - é por isso que não adianta muito conjeturar, eu acho, pelo menos, de por que isso tudo aconteceu. para a minha vida só tem uma resposta: por causa da música. eu cheguei naquela tarde lá, já tinha tido a emoção ali de ver o arnaldo e o sérgio, de conhecer o dinho, que eu não conhecia também... mas, quando a música começou a ser tocada, acabou. aí é o que arrebata. é o que arrebatou os fazedores de opinião lá no dia da apresentação do "fantástico", porque a música está ali viva.

sérgio - ...é o que tem arrebatado os fazedores de opinião no mundo há alguns anos...

zélia - é, a gente fez o barbican, aí fez seis shows nos eua, nos lugares mais bacanas, fillmore, hollywood bowl, aquelas coisas todas, e por quê? só tem uma resposta, é a música. porque não adianta as pessoas terem na cabeça quem é o sérgio, quem é o arnaldo, se eles fossem cantar e a música não saísse. acontece que eles estão lá, as pessoas olham para eles e se emocionam. e, quando a música começa, a garotada de 17, 18 anos levanta também.

pas - mas para eles, fosse o máximo ou não fosse, eles são os mutantes...

zélia - claro, eram eles.

sérgio - mas podia ser um flop, uma porcaria, um bode. podia não rolar energia.

pas - mas eram vocês, mutantes.

zélia - são os criadores, né?

sérgio - por exemplo, eu vi deep purple quando tinha 17 anos, quando a gente estava tocando no olympia. o deep purple estava tocando lá, eu nem sabia, fui ver um negócio da minha guitarra, entrei lá e dei de cara no backstage com o deep purple tocando. porra, aquilo foi uma apoteose, uma loucura, um absurdo, nunca vi um som tão alto na minha vida. era assim, dantesca, a coisa. aí depois, em 1980 e não sei quanto, fui ver, quando eles se reagruparam, a mesma formação, no radio city hall. sentei na frente, quinta fileira, e não rolou, tio. agora, mutantes está rolando. se não estivesse, tio, eu era o primeiro a parar.

zélia - mas o que você está querendo dizer é que eram os caras...

sérgio - se não nos satisfizesse... a primeira coisa, antes de tudo, é que tem que satisfazer a gente.

zélia - claro. por isso embarquei da maneira que embarquei, de cabeça. teve aquele telefonema para a rita, que para mim foi importante...

pas - queria mesmo que você contasse isso, que era uma parte delicada, até por você ter já uma ligação com ela...

zélia - é, eu já conhecia a rita há muito tempo, somos parceiras, você sabe que eu adoro ela. liguei, porque acho que seria estranho a rita saber pelo jornal.

pas - e ela soube por você?

zélia - soube por mim, foi a primeira pessoa a saber.

sérgio - foi ela que deu a notícia, né?

zélia - é, ela que resolveu falar [risos].

sérgio - falamos "não vamos falar para ninguém", quem mandou ela falar? ela que falou, quem mandou?

zélia - ela falou "vocês sabem da última?" [ri]. mas ela foi extremamente receptiva e carinhosa, e só falou coisas bacanas comigo no telefone, e isso também me encorajou. ah, poxa, se os caras me chamaram e ela achou legal... aí um abraço, né?, não importa...

sérgio - mas legal é que a zélia gostou.

zélia - é, muito mais que isso, né?

arnaldo - o resto é conversa de barbican...

zélia - é isso aí [ri]!

sérgio - de bêbado, né?...

arnaldo - de bárbico...

zélia - vaia de bêbado não vale...

pas - e, bem, deu certo, o risco valeu, zélia se transformou em mais uma, e essa de forma intensa...

zélia - é, foi um salto. só não foi totalmente no escuro porque a música estava ali. mas, para mim, pessoalmente, foi um salto um pouco no escuro, porque, cara, quando a gente entrou no barbican... eu fazendo os coros, quando foi chegando a hora de cantar "baby", que foi meu primeiro solo, eu ficava dizendo para mim "calma, calma, calma" [arnaldo ri], porque... mutantes é assim, quando os caras começam a tocar uma introdução, eles já são aplaudidos lá fora, as pessoas já sabem o que vem. e na primeira vez de "baby" o que vinha era eu, não era o que eles estavam acostumados a ouvir. eu tinha medo disso um pouco, mas, ao mesmo tempo, a aventura, estar apoiada por eles, obviamente me deu força.

pas - e tem um jogo interessante aí, que é de eles não terem ido buscar uma pessoa que lembrasse imediatamente a rita lee.

zélia - ...uma cópia, isso foi bacana.

arnaldo - é isso que eu estava quase falando: na inglaterra, ver uma rita lee você vê toda hora na esquina [risos].

pas - ah, é?

arnaldo - mas ela [olha para zélia] é difícil.

sérgio - um monte de loirinha de olho azul, né? aí essa morena maravilhosa, essa cabrocha...

zélia - [ri] não se fazem mais cabrochas como antigamente...

pas - talvez a fernanda takai [que foi cogitada antes de zélia, assim como rebeca matta] tivesse uma dificuldade extra, por haver uma semelhança mais forte com a rita. seria mais comparável com ela, o que não tem tanto sentido com você.

zélia - é, não. quem não gosta é porque não gosta de ser tão diferente. não pode dizer que estou imitando, absolutamente, seria ridículo, mas, ah, "não tem nada a ver", tudo bem, cada um tem sua opinião. mas obviamente eu parto dali, do que ela fez. estou ouvindo o que ela fez o tempo todo. mas não estou nunca desejando ser aquilo, porque para mim seria uma missão impossível, e ridícula. então é legal que nos eua, por exemplo, eles nunca se apresentaram. até um jornalista escreveu, eu achei engraçado, que ninguém teve saudade do que não viu [arnaldo ri], porque foram os primeiros shows lá. de certa maneira, o que as pessoas guardam dos mutantes é aquele som, são as imagens que a gente vê na tv, mas o show em si não foi tão apresentado, né, sérgio?

sérgio - não.

zélia - então agora a gente está indo para apresentar o show desse som.

pas - se pensar nos jornalistas musicais que estão militando hoje no brasil, a maioria de nós também nunca viu mutantes. eu nunca vi.

zélia - é, o próprio lauro [lisboa garcia, jornalista do "estado" que os entrevistara no mesmo dia] disse "pô, eu nunca vi um show dos mutantes, que legal".

sérgio - isso é legal para você ver que, dentro do brasil, onde tudo é "não", onde tudo é impossível, tudo é difícil, acho que é legal que a gente diz "sim".

zélia - é verdade. sem truque.

sérgio - a gente conseguiu fazer um sim, sem truque, sem correção monetária... foi simples.

zélia - verdade, a gente tem mania de enterrar as coisas e as pessoas, né?

sérgio - ou então emaranhar elas numa teia de aranha.

zélia - rotular... bota o rótulo e passa para a próxima.

pas - mas, sérgio, você, o arnaldo e o dinho, especificamente, deviam temer o dia em que isso acontecesse - se é que ia acontecer, não?

arnaldo - foi uma aventura, né?

sérgio - para mim, não.

pas - porque estamos falando de um mito que é igual ao dos beatles, é como se os beatles tivessem voltado.

sérgio - mas para os beatles isso não é mito, entende? para os beatles é normal, é o dia-a-dia. o dinho é o dinho, eu vivi com esse cara a vida inteira. lembro dele batendo no pauzinho.

pas - mas aquela responsabilidade, igual você narrou falando do deep purple, o medo de que fosse um mico, não havia?

sérgio - quando a gente sentou e tocou... eu tenho estrada suficiente para saber o que é bom e o que não é bom. você é bom provador de vinho ou não, né? de vinho não entendo porra nenhuma, mas de música entendo um pouco. de banda, de energia de banda, eu entendo. e quando vi o arnaldo tocando, quando vi o dinho tocando, pô, fodeu. tá tudo aí. lógico, era um diamante bruto. tem que polir? tem que polir, vamos polir.

arnaldo - é o sérgio diamantes [risos].

sérgio - [rindo] arnaldo está arrasando hoje. tá com a corda, foi o sorvete.

pas - como estávamos falando há pouco, quase ninguém viu um show dos mutantes, entre as pessoas mais jovens. mas vocês, desse modo, com 20 e tantas músicas, nunca tinham voltado a tocar aquelas músicas também, a refazer aqueles arranjos.

sérgio - não, e a escolha dessas músicas foi justamente por isso. foram as que não dá para tocar.

pas - como assim?

arnaldo - sem orquestra. porque agora a orquestra são sintetizadores. mutantes tocavam todas as músicas de festival com orquestra. e era horrível.

sérgio - se tocar "caminhante noturno" sem orquestra, é um pé no saco.

arnaldo - e agora ficou diferente.

sérgio - agora a banda tem um porte que comporta tudo isso. a tecnologia hoje em dia nos permite fazer isso, também. não tem nada sampleado lá, é tudo tocado. a gente usa instrumentos virtuais, sons virtuais, mas é tudo executado. quem está tocando somos arnaldo, henrique, vitor [músicos de apoio], eu, é isso aí que você está ouvindo. não tem overdub dentro desta história. não tem clique na orelha do dinho para a gente andar junto com a base que já foi feita. não é seguro, irmão, não tem rede embaixo. se cair, caiu mesmo.

pas - e vocês pularam... [para zélia] você inclusive.

zélia - [ri] nossa, eu quase caí.

sérgio - ué, não é o que o castañeda mandou fazer? castañeda não mandou pular? pulamos.

zélia - é verdade, caraca. quando estava na ponta do trampolim, no barbican, eu pensei: "ai".

pas - mas, espera aí, o pior que podia acontecer era o quê, para zélia, e para vocês?

sérgio - entende o seguinte: para todas as pessoas e para nós, principalmente, mais do que para qualquer pessoa, o que a gente é e o que a gente fez é extremamente importante. para mim é muito importante. mutantes para mim sempre foi muito importante, eu não consigo conceber falar mal dos mutantes, ou dizer que não me serviu para isso ou não me serviu para aquilo. mutantes foi, sim, o começo da minha vida, foi a coisa mais importante que eu fiz. eu tive a sorte e a honra e o privilégio de ser um dos sócios fundadores, com arnaldo e rita e essa coisa toda que aconteceu. então podia, sim, ter sido uma porcaria, um desastre.

arnaldo - exato. isso podia ser o contrário. podia ser vaiado. vai saber...

sérgio - hoje em dia, principalmente, até para a própria opinião brasileira, estava todo mundo com garfo e faca prontos para comer a gente. meu deus do céu, bicho. por que os caras são tão maldosos? essa foi uma das razões principais para mim, e acho que para todos nós, de pegar isso a pulso e dizer "ah, é?, então agora vocês vão ver, quem mandou cutucar?". agora vocês vão ver e vão ter que ouvir legal.

pas - mas há também o contrário disso, que era possível também, de as pessoas serem condescendentes por causa de toda a história de vocês...

zélia - você acha mesmo, pedro?

pas - eu sinto que não é o que está acontecendo, mas acontece com algumas bandas, mesmo pensando no exterior...

zélia - eu conheço uma pessoa no brasil com quem acontece isso - não vou dizer o nome -, que é incrível, tudo que faz neguinho diz "ó, mas também, não, mas espera aí". é raro.

pas - mas não é a uma pessoa que já integrou a banda, né?

zélia - não, não, absolutamente.

pas - foi uma brincadeira, desculpe. mas existem graus de condescendência...

sérgio - mas nós não somos condescendentes.

pas - ...a volta dos Mutantes emociona todo mundo que gosta, e poderia acontecer, não? eu ouvi o disco duas vezes, não tinha visto show, estou chegando agora, e gostei. achei que não preciso ser condescendente. mas podia ser o caso. isso já aconteceu com outras bandas.

sérgio - ah, sim, com certeza, mas aí, qual foi o resultado?

pas - não sei.

sérgio - quem vive das reformações e dessas coisas todas? eu não penso que isso aqui vá acabar aqui.

pas - é? ih, zélia duncan... [zélia ri.]

sérgio - zélia cristina, aqui é zélia cristina.

pas - desculpem, fiz piada, meu papel não é fazer piada... [para sérgio] você acredita que não vá parar aqui? como assim?

sérgio - não. pensa bem, toda essa roda da fortuna que rodou aí, essa merda toda que fez acontecer... nenhum de nós fez nada para isso rolar, bicho, então acho que vai ser muito difícil, muita burrice astral, isso chegar e acabar aqui, parar, a gente não fazer nada, não fazer música... para que então isso tudo? só para a gente tocar no barbican? puta troço chato.

arnaldo - mas eu acho também que nem tudo era contra. a prova foi que o público pagou.

sérgio - com certeza.

zélia - ...que é a coisa mais importante, né?, para a gente.

pas - mesmo os críticos, em geral, acabaram não sendo contra.

sérgio - é, e você vê que gozado, o chamamento não veio da pátria. o chamamento veio do exterior, né?

pas - mas você não sente que a pátria chamava também? todo mundo morria de medo, eu pensava [ponho a mão na cabeça] "meu, esses caras voltarem... que medo". mas que a gente queria, lá no fundo...

sérgio - que coisa simples, né? lembro uma vez, quando a turma da "bizz" fez uma reportagem e era capa, eles vieram falar comigo "escuta, a gente pode tirar uma foto de você, depois uma outra do arnaldo...". eu disse "por que vocês não ligam para eles, marcam um lugar, a gente vai lá e tira a foto?". [arnaldo ri.] puta complicação, bicho, os caras inventavam roda, ficavam rodando lâmpada.

pas - ficou o mito – ou a verdade – de que vocês são complicados.

sérgio - nós não somos complicados. nós somos extremamente complicados, nós somos complexos.

pas - você falou que são extremamente complicados?

sérgio - nós somos extremamente complexos, mas isso não significa que nós somos complicados. a nossa música, apesar de complexa, é de uma simplicidade absurda.

pas - sendo assim, eu diria que em algum momento vocês vão ter que chamar rita lee para fazer uma participação especial...

arnaldo - eu não toco.

sérgio - [ao mesmo tempo que arnaldo] não acho. ela já foi chamada.

pas - por que não, arnaldo?

arnaldo - porque eu não gosto. porque a zélia é mais musical.

pas - as duas juntas, já pensou? [olho para zélia.]

arnaldo - aí...

sérgio - a zélia canta com ela, depois...

lucinha baptista - mas ela falou que só se tiver grana preta. não vai ter a grana preta...

pas - estou provocando vocês, mas...

sérgio - não, provoca...

pas - ...a gente gostaria de ver, também...

sérgio - querido, olha, todo mundo dizia que mutantes não ia acontecer. todo mundo achava que o lula não ia emplacar na segunda vez [ri, zélia também]... Oo brasil é muito louco, bicho. mas, no momento, ninguém aqui está pensando nisso. eu estou muito mais preocupado com todo mundo aqui, em "ok, e agora?". para mim o próximo passo é a gente sentar junto, pegar violão, acender a lareira e começar a fazer música. é isso que eu quero, isso é o barato.

uma das mulheres (qual?) - o arnaldo está louco para isso, não é, arnaldo?

arnaldo - vamos levar adiante, vamos ver até onde a gente vai, né? pode ser longe, pode ser perto, não adianta a gente querer saber o futuro, que é tão difícil, né? vamos fazer, vamos coordenar tudo, eu acho que tem um futuro enorme pela frente. sem amplificadores transistorizados [risos].

sérgio - não tem mais. já não tem.

arnaldo - em todos os shows americanos teve, ele está mentindo [risos gerais].

pas - pronto, acabou a banda [mais risos]!

arnaldo - não, mas não era ele. são os lugares. com o show estava tudo bem.

sérgio - os lugares são todos transistorizados. hoje em dia, pedro, os circuitos são todos integrados, não tem como fugir.

arnaldo - mas agora a gente pode fazer um nosso, né? todos têm até avião que comportam um pouco de som, sei lá...

sérgio - eu dou força, meu. adoraria comprar um avião.

zélia - contrata um avião.

sérgio - chama o aluizer!

pas - o que estou querendo dizer, mesmo tocando em coisas delicadas sobre rita lee, é que eu só ouvi mutantes por disco na vida, e fico emocionado só de ouvir o disco: "os mutantes voltaram, estão tocando superbem, maluquice!". estou falando isso para todos, estou falando ali para a cortina. a zélia também não foi dos mutantes, a participação dela também...

zélia - outro dia eu estava dando uma entrevista e falei: "gente, eu também adoraria ouvir a rita lee cantando com os mutantes, eu ia achar superlegal".

sérgio - sabe o que é, bicho? o negócio é o seguinte: já não rolou, então não adianta perder tempo batendo numa tecla que não...

pas - mas, espera, não é isso que estou querendo dizer. quero dizer que eu, que só ouvi vocês em disco, ou a zélia, que é mais jovem e não era dos mutantes e hoje está tocando nos mutantes... – a gente fica emocionado, não fica, zélia?

zélia - fica!

pas - e eu imagino que vocês fiquem. e imagino que a moça teimosa também vai ficar um monte, no apartamento dela, tendo não participando. então quero dizer assim: a gente está mexendo com material altamente...

lucinha - inflamável.

pas - ...inflamável [risos]. eu queria dizer emocionante, mesmo. inflamável vale...

zélia - emocionado...

sérgio - olha, o negócio é o seguinte: a gente é legal pra cacete. nós todos somos gente muito legal. a rita é legal, eu sou legal, o arnaldo é legal, a zélia é legal, todo mundo aqui é legal. mMas tudo depende de como você faz a coisa, e não é dando chute que se consegue o beijo de uma menina [eeeei! cê tá entendendo???]. é a mesma coisa. e ninguém aqui vai falar mal da rita, ninguém vai sair chutando ela, nem nada disso, sob hipótese alguma. mas o fato é que, hoje, os mutantes somos eu, arnaldo, zélia e dinho. essa é a realidade. a rita não é mutantes.

pas - certo, então minha pergunta era a seguinte: para vocês três, dinho, sérgio e arnaldo, quanto é emocionante esse negócio?

sérgio - nossa!

arnaldo - o quanto a gente vai renovar para o bem? é esse o caminho. quanto, o quanto a gente vai renovar pro bem? pode ser, vai saber...

sérgio - a positividade da coisa, né, cara?

arnaldo - é...

sérgio - tem que ser positivo. por exemplo, o fato de a gente estar junto, aquele negócio do sim... a gente volta lá para o passado, "eu digo sim/ eu digo não ao não/ é proibido proibir", essa coisa do caetano. muita gente esqueceu isso, né? então é um negócio muito legal, você dizer sim, você aceitar as coisas. por que tem que tachar tudo de impossível? por que é impossível que o brasil seja o melhor país do mundo? por que é impossível que o povo brasileiro seja o povo mais inteligente do mundo, ou qualquer coisa do gênero? por que é impossível ter igualdade social? é possível, sim. depende, sim, dos nossos políticos, dos nossos ministros resolverem fazer as coisas certas.

pas - talvez dos nossos artistas também...

sérgio - talvez.

pas - ...De mostrarem o melhor que eles têm...

sérgio - com certeza, com certeza.

arnaldo - também tem a ver saber o que é certo. na minha opinião, o jimi hendrix fala isso em inglês, a humanidade atravessa um período de queimar. é uma coisa que falaram para ele, mas ele fala que queimar pode ser visto de outro jeito. a gente queima o combustível, sem saber que existe movimento sem fogo. mas a terra está o que está.

pas - mas está queimando, ainda?

arnaldo - queimando. e a gente pode queimar de outro jeito, hendrix fala isso.

pas - a gente é inflamável?

sérgio - to burn or not to burn... david byrne...

arnaldo - what's the question?

pas - arnaldo, você fez um disco solo há pouco. tem plano de fazer outros, ao mesmo tempo que toca com os mutantes?

arnaldo - tô com um plano de carreira solo bem importante, que comprei agora em londres um gravador de oito canais, sem fita, digital, muito bom, e ainda estou estudando, para mim, em função do que eu consigo. e eu sei uma coisa, também: eu sou tão importante que, quando eu consigo falar, te atinge. então é nessa que eu ando, você também pode entender errado o que eu falo e dizer "isso é confusão". é isso.

pas - você sabe disso, né?

arnaldo - em parte, né? eu vou tentando fazer o melhor [risos, comentários]...

sérgio - eu acho que sabe. arnaldo é puta velha.

pas - ele foi incisivo, "o que falo te atinge". e sempre foi assim, não?, mesmo quando estava mais quietinho.

arnaldo - [tímido] pode crer.

sérgio - acho que arnaldo nunca falou uma coisa que não atingisse alguém. sempre teve um...

zélia - um alvo, né?

sérgio - como é que se diz? e se fez o verbo. e o verbo era deus, né? OoArnaldo, pô, sempre falou coisas que... hoje em dia, ele está ensaiando, ele fala cada uma que você cai de costa. é de matar. a última coisa que arnaldo vai ser na vida é irrelevante.

arnaldo - uma vez, no ensaio... piração, mas o sérgio falou: "fala alguma coisa". eu falei: "alguma coisa".

pas - uma coisa legal é que sempre houve especulação, se os mutantes voltariam um dia, e até um dado momento se pensava que, se fosse possível, seria sem a presença do arnaldo, por causa de tudo que aconteceu com ele. e, hoje, olha ele aí.

sérgio - eu acho que arnaldo está ótimo.

arnaldo - vaso ruim não quebra.

sérgio - vaso ruim não quebra.

pas - ou vaso bom?...

sérgio - nós temos um monte de mazelas, todos nós. eu tive um monte de problemas na vida, o dinho teve os dele, arnaldo teve os dele. ninguém é invulnerável. nós somos humanos, a gente sofre, a gente ri, a gente brinca, a gente curte. mas o que importa é que a gente dá sempre 110%.

pas - o dinho imagino que não, porque vocês capturaram ele de volta para a música, mas você [para sérgio] tem planos solo?

sérgio - eu, no momento, não estou pensando em nada solo, não. já fiz um monte de coisa solo, mas agora estou fazendo basicamente mutantes. quando vou fazer alguma coisa solo, não sei. essas coisas acontecem.

pas - zélia, há pouco você disse que sua vida toda mudou por causa de mutantes. como vai ser isso para você, daqui para frente?

zélia - eu acabei de fazer um dvd do "pré pós tudo bossa band", que vai ser só dvd, não vai sair em cd. e vai muito bem, cheguei de recife no fim-de-semana, fiz show superlegal lá.

pas - a idéia é conciliar as duas coisas?

zélia - estou levando, as coisas estão indo superbem. e, assim, eu dou prioridade aos mutantes, contanto que as datas sejam bem planejadas. a gente está tentando administrar bem os escritórios, o dos mutantes e o meu, e aprendendo a lidar com isso como duas coisas distintas, para que as duas andem. você sabe o quanto eu cuido da minha carreira, o quanto eu adoro o que eu faço. mas acho até que é porque eu faço como faço que vim parar aqui, por ter a abertura que tenho, por querer me despojar, me aventurar, me arriscar mesmo. tudo bem que agora eu exagerei, [ri], mas o espírito é esse.

pas - você já estava ensaiando um pouco uma coisa assim, com o itamar assumpção, parava seu show e ia fazer.

zélia - já, total, fui tocar as coisas do itamar com naná vasconcelos. o próprio "eu me transformo" foi um pouco isso, eram coisas paralelas, na época eu fazia o "sortimento" e o "eu me transformo". essa porteira já estava aberta, a bagunça boa já estava instaurada. eu quero muito me divertir com a música, no melhor sentido, e aprender com ela, e saber que tenho sempre um monte de coisas para aprender. este ano, nossa, com tudo isso, com eles, com os movimentos que resolvi fazer, com os riscos que até hoje eu estou tomando... ê, vidão. pena que a gente morre.

pas - você falou "riscos que estou..."? "tomando"?

zélia - tomando.

pas - por quê?

zélia - é, teve o primeiro desafio no barbican, e a apresentação para o "fantástico" foi o segundo desafio maior. era uma apresentação com fãs ardorosos, com artistas que adoram mutantes, com jornalistas... todo mundo se apropria, né?, as pessoas acham que são meio donas daquilo. então de repente eu ousei estar ali no meio, e um pouco antes de entrar pensei nisso, falei "caramba, logo eu, mais uma vez me jogar aqui, vamos ver o que vai acontecer".

sergio - estava bem acompanhada...

zélia - ah, estava, lógico, tinha gente para soprar depois [ri].

sérgio - os batedores.

zélia - e aí a gente teve essa surpresa de ver as pessoas muito emocionadas, e gente que eu não esperava que viesse falar comigo tão desarmada veio... acho também que principalmente porque, num certo aspecto, a gente está desarmado. a nossa arma é a música, a minha pelo menos é. eu não estou ali dizendo "eu sou zélia". tenho um amigo, hugo prata, que me viu no ensaio aberto dos mutantes, que foi muito importante a gente fazer. eu estava numa alegria, eu fico numa alegria meio infantil que até tenho que me policiar um pouco. aí ele chegou lá, olhou para mim e disse: "zélia! você aqui?", "você vai filmar?", "você vai cantar?". aí ele disse que olhou para mim ali e pensou que eu estava parecendo aquelas meninas que ganharam a promoção "cante com os mutantes por um dia" [risos]. falei para ele que estava me sentindo como se tivesse aberto o chocolate wonka, o último, falei "eu abri o chocolate wonka, e se tivesse direito a acompanhante eu levava você", porque ele chegou para filmar no mesmo espírito de emoção. então foi uma alegria de criança que me ajudou, me protegeu, para eu não ficar ali "meu deus, a minha carreira, ai, eu tenho um nome". eu pensei nisso, mais isso ficou pequeno diante do que eu senti quando ouvi a música e estive na presença deles. isso realmente foi arrebatador para mim, eu ainda acredito nisso. daqui a um tempo vou fazer um balanço, mas eu vou na intuição, no coração, como faço tudo na minha vida. senão talvez eu não fosse, e eu ia perder.

sérgio - talvez estejamos falando de um momento histórico que vem acontecendo: até muito recentemente esse raciocínio de não fazer coisas inesperadas porque era preciso "pensar na carreira" era o que vigorava – e as pessoas estavam interagindo pouco umas com as outras.

zélia - vou falar um pouco de mim, mas se você pensar um pouco no que venho fazendo, você é um cara que me conhece muito bem, eu já estava abandonando esse pensamento há muito tempo, essa competição de cantoras, essa egotrip demasiada. não que eu não tenha a minha, eu tenho a minha, é claro. mas eu sempre tentei minimizar isso e botar a música antes de tudo. errando e acertando, errando e acertando, normal, mas o meu movimento sempre foi esse, às vezes de uma maneira mais legal, às vezes meio no escuro, mas eu sempre procurei isso para mim. e acho que essa é a prova, não estar tentando provar nada para ninguém, mas existe um desejo de fazer música, e me sinto muito privilegiada e honrada de estar aqui.

[longo silêncio.]

pas - ficou até um silêncio...

[risos, comentários. uma das pessoas presentes diz que ficou emocionada. a assessora de imprensa da sony bmg, cristiane simões, diz "eu também".]

pas - ela falou uma coisa bacana, sobre egotrip, porque, assim como com todas as outras bandas que existiram no mundo, deve ter acontecido com os mutantes, não?

sérgio - como assim?

pas - não sei, quando vocês brigavam. hoje arnaldo fala do transistor brincando com você, diz "ele está mentindo" e você dá risada, mas vocês já brigaram por causa disso...

sérgio - não, nunca brigamos.

pas - se desentenderam, sei lá.

arnaldo - eu só saí dos mutantes e ele continuou [risos].

sérgio - eu não tinha outro. [outro o quê?, não deu para entender...]

arnaldo - eu também não [os risos continuam].

zélia - não tinha briga, eles não se falavam [mais risos].

pas - "ficar de mal", então. as pessoas ficam de mal [olho para zélia]...

sérgio - não, acho que não, o que aconteceu na época foi que a gente estava tomando muito ácido mesmo, e não sabia como lidar com aquilo.

arnaldo - eu não acho, eu não acho.

zélia - eram jovens, né?...

sérgio - muito jovens.

zélia - tudo para processar, ali...

pas - você falou que não acha, arnaldo, por quê?

arnaldo - porque eu acho que a expansão mental é uma coisa que acarreta.

pas - do ácido, você está falando?

arnaldo - é.

pas - mas talvez, de fato, as brigas de juventude não acontecessem hoje. talvez não aconteçam.

sérgio - não sei...

arnaldo - vai saber [risos]...

pas - ou já estão acontecendo, e eu estou aqui bem bobo, achando que não? [mais risos.]

sérgio - o cara está querendo fazer a gente brigar [mais risos]!

arnaldo - não vai conseguir.

sérgio - pô, vai se foder, ô! pô, o tullius detritus, aqui!

arnaldo - não vai conseguir, ele não vai conseguir.

pas - poxa, eu aqui tomando o maior cuidado nas perguntas...

sérgio - [para zélia] lembra do tullius detritus, do asterix?

zélia - ah, do asterix!

sérgio - o tullius detritus era a arma secreta do césar, quando ele ia o cara armava a maior briga, ai, ai... brincadeira isso.

pas - eu tomando o maior cuidado com as perguntas...

zélia - viu? pode se voltar contra você...

pas - ou vai se voltar, fatalmente... [zélia ri.] eu queria falar um pouco sobre o repertório, sobre como vocês escolheram quais músicas voltar a trabalhar.

sérgio - eu comecei a falar que era pelas mais difíceis, pelas impossíveis de tocar. por exemplo, "desculpe, babe" qualquer banda pode fazer. "balada do louco" é uma coisa que até hoje não entendi por que, mas, na hora do "blrrrrrrrr", todo mundo que cantava sempre arrumava uma maneira harmônica ou coisa assim, ninguém assumia a loucura da "balada do louco", em todas as versões que foram feitas até hoje. mas, por exemplo, tocar "caminhante noturno", "dom quixote", "dia 36", "ave, lúcifer", essas são encrenca.

arnaldo - o que ele quis dizer, eu senti assim, é que escolheu um tanto que precisava de orquestra e que sintetizador fazia. certo?

sérgio - eu acho que é mais do que isso. acho que, além disso, são as músicas mais...

arnaldo - ibope...

sérgio - ...como é que se diz?, as mais...

zélia - características?

sérgio - não, as mais místicas, as mais míticas.

zélia - sim.

sérgio - você vê "dia 36", não é brincadeira fazer isso no palco. com cello, baixo...

zélia - o timbre da guitarra...

sérgio - ...o timbre da guitarra é uma loucura...

arnaldo - ...leslie na voz....

sérgio - ...leslie na voz. quer dizer, tudo é uma encrenca do cacete. não é fácil fazer ao vivo. e isso é que era legal. tocar essas aí para mim era o grande barato. tocar "top top" é fácil, mas tocar essas aí é treta.

zélia - em cima daquele som, daquela sonoridade, né?, o arnaldo falando aquelas coisas que até hoje a gente não sabe o que são...

pas - de qual música você está falando?

zélia - de "top top".

sérgio - não pode ser o que é.

arnaldo - uma coisa difícil também é entender o que o autor do "dia 36" tocava.

pas - o autor é você?

arnaldo - não, o johnny dandurand, uma maravilha, usava uns instrumentos antiqüíssimos. então tem a ver a letra com o modo como ele era, um inglês que morava aqui no brasil.

sérgio - foi o cara que entrou no meio de "é proibido proibir", aquele louro louco gritando. foi ele fez que fez, e eu fiz a versão, foi a primeira letra que eu fiz.

pas - arnaldo, quais você mais gosta de fazer?

arnaldo - é [pensa]... "ando meio desligado"... "le premier bonheur du jour" também é gostoso, o coral do vocal é meio bachiano... e aquela rapidíssima, que eu esqueço o nome [cantarola, acelerado], "tatatatatatata"...

zélia - "cabeludo patriota".

arnaldo - [rindo] é, "cabeludo patriota"!

sérgio - o dinho que chama ela rápida pra burro, meu deus do céu!

zélia - e depois fica lá ralando para correr...

dinho - e ele [arnaldo] vai no dobro! [cantarolam a melodia, demonstrando a aceleração cada vez maior.]

zélia - fica embaraçado, o cabelo embaraçado.

sérgio - cabeludo embaraçado. mas saiu.

zélia - você não viu o dvd?

pas - não, ainda não. e o "cabeludo patriota" que, pela primeira vez, tem seu nome original... [interditado pela censura, o rock foi lançado em 1972 com vocais abafados e o título de "a hora e a vez do cabelo nascer".]

sérgio - o verdadeiro nome, né?

zélia - ninguém tossindo.

sérgio - não tem ninguém tossindo, a letra está lá de verdade.

pas - em "top top", também, "sabotagem" virou "sacanagem"...

sérgio - que era o original.

pas - arnaldo, como foi fazer as músicas de que você participa cantando?

arnaldo - ah, interessante. como eu acabei de falar, é um pouco mais fácil de ser total agudo quando você está em coro. então, quando eu ficava solando, eu encontrava uma dificuldade disso ou daquilo, com monitoração, eco, leslie e tudo. mas foi gostoso. o "cantor de mambo" eu adoro cantar.

sérgio - é muito legal, muito.

pas - escutando no fone de ouvido, iquei ouvindo ele arnaldo falar um monte de coisa, preciso ouvir melhor ainda [arnaldo ri].

sérgio - ele fala um monte de loucura. "este é pablo... desde que pablo..." [xiii, para entender esses castelhanos, agora... me corrijam se entendi tudo errado?...]

arnaldo - "(...) de carajo!”, "yo no tengo nada a dicir desde que pablo ha dejado de hablar".

sérgio - [ri] essa eu não conhecia também...

arnaldo - eu invento essas coisas...

sérgio - arnaldo inventa uns troços que são demais.

pas - e o mr. mendes [citado em "cantor de mambo"] é sergio mendes?

sérgio - lógico, é o "carajo".

pas - foi feito para ele?

sérgio - foi, agora finalmente veio à tona.

zélia - agora você vai ouvir de outro jeito essa música, nunca mais será a mesma.

pas - agora mais do que nunca, porque ele está todo todo de novo [com o lançamento do modernoso e multinacional álbum "timeless"]...

zélia - "ganho bem cantando mambo", "moro aqui em hollywood"... [risos.]

pas - ele alguma vez reagiu a essa música?

zélia - vai ver que ele também vai saber só agora.

sérgio - ele vai saber só agora, né?

zélia - a gente vai te dizer daqui a pouco.

pas - como foram as reações dos gringos nos shows que já houve, como vocês sentem?

arnaldo - para mim, foi melhor do que eu esperava. nunca esperei que fosse tão bom.

zélia - em nova york tinha coro para o arnaldo. eles estavam esperando os mutantes, estavam comovidos. é engraçado de ver o jeito que eles chegavam, muito jovens, ou mais velhos, de todas as idades. e mais gringos que brasileiros, exceto em miami.

sérgio - muito mais gringos.

arnaldo - o jeito que eles conseguiam compartilhar isso, o pessoal podia ver um cair, e guerra mundial lá, e não aqui, que nunca existiu bombardeio aqui, né?, então era o jeito que eles conseguiam compartilhar do nosso sentimento, sabe?

zélia - muito, adorei.

pas - em miami eram mais brasileiros?

sérgio - foi onde tinha mais brasileiro. mas o resto todo, seattle, chicago, não tem brasileiro lá, tem muito pouco. san francisco tem menos, los angeles.

zélia - san francisco foi o melhor momento, fillmore...

sérgio - fillmore, meu deus do céu, um escândalo aquilo lá. foi um puta show.

arnaldo - será que fillmore quer dizer "enche mais"? [risos.]

zélia - ou "sente mais"?

arnaldo - ah, é? também, né?, mais fácil.

pas - os shows que vieram depois foram mais legais, mais entrosados, que o que ficou registrado em dvd?

sérgio - diferentes, né?

arnaldo - ele fala uma coisa linda: "livres". por que o outro foi um pouco ensaiado, não sei.

zélia - por isso acho o dvd importante, e não só a audição, porque você vai ver, é emocionante ver a gente em cena.

sérgio - é genial você ver a decolada.

arnaldo - perfeito.

sérgio - a gente decola mesmo em "tecnicolor" [a terceira faixa]. aí decolou, aí a gente sabia já que estava tudo em casa.

zélia - ali a gente está muito consciente. eu adoro, acho que o som que conseguimos tirar é muito bacana, estou muito feliz com esse disco. como sérgio falou, você sente que o tipo de concentração é diferente. é o primeiro. para mim, o primeiro de todos. para eles, o primeiro em 30 anos. uma platéia abarrotada.

sérgio - acho que ele tem uma entrega que, talvez, seja a coisa da virgem, que os outros talvez não tenham. eu não lembro do show.

pas - como assim?

zélia - a primeira vez.

pas - mas a virgem 30 anos depois...

zélia - com teia de aranha, já [risos].

pas - você foi o arnaldo, agora [mais risos].

zélia - eu sou pupila, pupila.

arnaldo - pupila [ri].

sérgio - o que me lembro desse show é que foi de uma entrega inacreditável.

zélia - no dia seguinte eu fiquei doente, todo mundo ficou doente depois. eu caí de cama, e ainda fui para portugal depois cantar.

sérgio - e eu fui para paris.

arnaldo - eu saí do show e, nem sei por que, dei uma cambalhota, quase caí, "eu consegui fazer o show".

sérgio - é, pulou no palco, deu uma cambalhota.

zélia - é, no palco, eu levei um susto. e ele em pé, pô, o arnaldo levantou, eu falei, "gente!", muito legal.

sérgio - foi genial. mas agora a gente está mais dono da bola. ali, não, ali a gente teve que se entregar completamente.

pas - como você disse antes, vocês peitaram inclusive gravar e lançar logo o primeiro show. mas estão crescendo e melhorando a cada show?

sérgio - com certeza.

zélia - ah, é. e, no meu caso, me sinto mais relaxada. ali eu estava como convidada especial de um dia que era uma loucura. agora me sinto mais à vontade, podendo arriscar um pouco mais a minha performance. no ensaio aberto, fui ao sérgio e disse "sérgio, eu posso segurar o microfone na mão?". não vou dizer a resposta, porque é imprópria [risos]. ele falou "vai tomar...!, claro que pode!".

sérgio - "o palco é seu", eu falei isso.

zélia - eu queria ir devagar, imagina já chegar?...

lourdes - cada ensaio é uma coisa diferente, é um grande astral.

sérgio - a zélia é uma lady, uma delicadeza maravilhosa. a maneira como ela lidou com isso tudo, foi tudo tão subliminar... por exemplo, primeiro a gente tinha convidado ela para fazer o barbican, e tinha os outros shows dos eua...

zélia - foram várias etapas, né?

sérgio - lembro um dia que a gente foi ensaiar e a zélia virou e falou para mim "pois é, quando vocês fizerem nova york"... puta que pariu, aquilo bateu e voltou, na hora eu chamei ela e falei: "escuta, não tem essa, não, não tem volta, it's up to you".

pas - e quais são os próximos passos, exatamente? um show de aniversário de são paulo?

zélia - que é a estréia no brasil, no museu do ipiranga.

sérgio - em frente ao museu do ipiranga.

zélia - grande estilo, né?

pas - só falta agora dizer ao povo que ficam...

sérgio - pegue esta coroa e bote na sua cabeça antes que algum aventureiro lance mão dela.

zélia - isso não é um show, é um grito. as cortes portuguesas querem mesmo escravizar o brasil! cumpre, portanto, declarar nossa independência!

sérgio - joguem os laços!

zélia - independência ou morte!

sérgio - eu estou com a espada, já.

zélia - o cara trouxe uma espada de paris, de verdade.

sérgio - uma espada de 1800.

arnaldo - dom pedro segundo era filho de dom pedro minuto, eu vou falar na hora [risos gerais]. piração.

pas - já houve algum show antes no museu do ipiranga?

sérgio - foi sugestão do calil.

pas - do secretário [municipal de cultura, carlos augusto calil]? que legal.

sérgio - do secretário. a gente estava pensando lá onde, ibirapuera...

arnaldo - anhembi...

sérgio - parque da aclimação... todos esses lugares que a gente já fez. quando ele falou do ipiranga, eu caí de costas, que genial, lugar maravilhoso. parece versalhes, né?

pas - qual é a expectativa para essa que vai ser a estréia no brasil? os gringos receberam bem, foi legal, mas agora é com a terra natal.

zélia - tem uma gente nossa lá...

sérgio - tem, a gente já deixou umas bombas...

zélia - tá minado, né?

sérgio - o campo está minado, tem umas minas lá.

arnaldo - também de minas gerais...

zélia - tem muita mina...

sérgio - tem muita mina., vitaminado. é uma mina ao contrário, a da vida, é vitaminado.

zélia - e parece que no verão, junho e julho, já tem umas coisas.

sérgio - sim, junho e julho já estão separados para turnê nos eua. não sei o que vai acontecer em relação à europa, está sendo visto isso.

zélia - e aqui já vai começar, depois de são paulo já tem mais...

sérgio - e a gente não está com pressa, não, a gente está querendo fazer as coisas legais.

pas - mas, espera, vocês fugiram do meu assunto e já foram para os estados unidos. artista sempre fala que não tem medo de nada, então sérgio vai falar que não tem medo, mas não dá medo voltar a tocar para o brasil, tocar no brasil?

sérgio - querido, aos 13 anos eu saí da escola...

zélia - eu estou nessa palavra desde que entrei...

pas - ah, é, essa foi mais para eles...

sérgio - com 13 anos de idade eu saí da escola e resolvi que ia ser profissional. eu não tenho o menor medo. de tocar?

zélia - é a nossa vida mesmo, né?

sérgio - é a nossa vida. vai ser um puta barato.

zélia - se vai ter gente ou não vai ter, se vai ser bom ou não vai ser...

sérgio - vai ser maravilhoso. o show vai ser escandaloso, meu, vai ser fantástico.

lourdes - depois de ter visto todos os shows, estar lá vendo o show de gravação do "fantástico", a minha alegria foi tão grande, "vocês estão tocando no brasil!"...

zélia - é, foi bacana pra caramba, é claro que é diferente.

sérgio - é, é impressionante. me lembro de ver pessoas com quem a gente tem relacionamento, o george israel, que é meu amigo... vi o georginho, ele deu uma transfigurada. quando a gente começou a tocar "tecnicolor" [para zélia], você lembra?

zélia - a expressão das pessoas... uma surpresa, uma alegria.

sérgio - "que é isso?", foi uma coisa absurda. foi fantástico. foi muito bonito ver isso.

zélia - uma mistureba...

pas - são paulo, para vocês dois - não tenho certeza do dinho -, é a cidade natal, e é onde tudo aconteceu, né?

sérgio - com certeza, com certeza. e foi genial porque a gente foi convidado pela cidade. isso é um negócio, são paulo tem nos honrado muito, fomos sagrados cavaleiros.

arnaldo - comenda!

sérgio - comendadores, aqui em são paulo, na câmara municipal, a gente recebeu a comenda josé de anchieta.

pas - são cavaleiros e já vão para o ipiranga...

zélia - dali para o ipiranga é um pulo [risos]!

sérgio - aiô, silver!

pas - você mora em são paulo, sérgio?

sérgio - estou morando.

pas - e arnaldo e lucinha?

lucinha - continuamos entre juiz de fora e belo horizonte.

pas - e dinho?

dinho - eu nasci em campo grande, no mato grosso, e saí de lá com dez meses de idade. fui para rancharia e depois vim para cá.

sérgio - aí se tornou sir ronaldo i de rancharia [risos], como arnaldo batizou.

pas - e aí hoje tem uma niteoiense na banda também...

zélia - é...

sérgio - niterói é foda, bicho, é um lugar forte pra cacete de música dentro do rio de janeiro. tem nego bom pra cacete que vem de lá.

zélia - sabe que músico de niterói só atravessa quando pega a ponte? [risos.]

sérgio - essa arrasou, hein?

arnaldo - maravilhoso.

pas - isso não é uma piada, mas, se não me engando, mr. mendes é de niterói também, não?...

zé - é de niterói! me entregou! [risos gerais.]

sérgio - é verdade? eu não sabia que era de niterói. genial.

zélia - baby do brasil...

sérgio - ...paulinho guitarra, arthur maia...

pas - quem é o paulinho guitarra mesmo?

sérgio - tocou com tim [maia].

zélia - [ao mesmo tempo que sérgio] tocava com ed [motta].

pas - cada um foi para uma geração [risos]...

zélia - fui falar em herança...

pas - no show estão as mesmas músicas do disco, ou entram outras?

sérgio - não, são essas. não dá tempo de a gente fazer outras coisas agora.

zélia - no show para o "fantástico", fizemos só dez, e vimos como o pessoal ficou feliz de ouvir, agora vamos tocar as 21.

pas - e pensam em fazer outro disco depois?

zélia - tudo é possível.

sérgio - não é para isso? não é minha profissão desde os 13 anos?

arnaldo - que nem na música, ninguém pode dizer o futuro, no one can tell. vai saber...

sérgio - vai que o osama bin laden aparece aqui agora, o que você faz?

arnaldo - eu chamo um disco voador [risos].

pas - e há a idéia de fazer coisas inéditas?

sérgio - já tem três músicas inéditas.

pas - feitas pelos mutantes?

sérgio - mutantes sempre trabalhou assim, cada um tinha um pedaço da música e trazia... antes eu estava muito preocupado com isso, mas de repente ouvi "senhor f", porra, foi a primeira música que compus na vida. lembro que eu trouxe a música, arnaldo pôs a letra com a rita... "virgínia"...

arnaldo - demora um tanto, vai ter que adubar, botar água, a semente, uma criação.

sérgio - tenho três que estão desmembradas ainda. tem uma que eu e zélia começamos a mexer já, uma balada.

pas - vai virar parceira também, então?

sérgio - é lógico.

zélia - é...

sérgio - é lógico. aí tenho outra meio mambo aí... e o arnaldo tem umas que ele falou também...

arnaldo - é, "fábula da igualdade dos campos", onde o magnético se encontra com a atração da terra. aí pode-se levitar.

pas - o objetivo é esse?

arnaldo - é, exato, e ainda ninguém conseguiu.

pas - de preferência no museu do ipiranga?

sérgio - o melhor era levitar o museu, né? [risos.]

arnaldo - é, exato.

lourdes - vai sair a marquesa de santos, dom pedro i, dom pedro ii...

pas - ouvindo o disco, senti que vocês fizeram uma síntese do que os mutantes eram nos anos 60 com o que eles foram sendo depois que rita saiu, até mesmo depois que arnaldo saiu. tem um pouco de rock progressivo rolando nas beiradas, ou estou falando bobagem?

sérgio - não sei, não sei. é genial que as pessoas vejam as coisas que a gente não vê. é lógico que eu, arnaldo e dinho não somos as mesmas pessoas de 30 anos atrás. nós sofremos influências e, obviamente, isso vai transparecer na música. mas não foi nada consciente.

pas - novamente, nunca vi um show dos mutantes e não sei como era, mas nos discos não havia o virtuosismo, os solos...

sérgio - tinha, orra!

pas - não tanto...

sérgio - a gente não tinha um disco ao vivo, então fica difícil comparar, mas os meus solos eu sempre toquei. é lógico que agora estou livre para poder tocar o que toco...

arnaldo - eu estou sentindo um pouco de dificuldade, porque nos primeiros lps dos mutantes eu era baixista, de pé no palco, a mise-en-scène era totalmente diferente. sérgio e zélia estão sempre dançando, eu fico lá no teclado fazendo as coisas, então é difícil para mim, mas pode ser que eu possa até tocar baixo numa música, vai saber...

pas - tem vontade?

arnaldo - tenho vontade, eu gosto, mas vai saber se isso vai dar certo...

sérgio - ué, tenta. já fez tantas vezes, né?

zélia - nossa, vai ser lindo isso.

sérgio - quem fez o baixo em "baby" foi arnaldo, aquela linha de baixo é dele.

zélia - ah, é do arnaldo, é mesmo? aquilo é lindo. é melodia aquilo, né, arnaldo?

arnaldo - numa de paralela às coisas de mutantes, eu, quando comecei em mutantes, tinha um conjunto de meninas, e eu tocava baixo de pau.

zélia - é mesmo?

arnaldo - é, chamava kika, ula e tony. eu estudei baixo de arco no conservatório. mas faz tempo, muitos anos atrás. a ula era linda, úrsula. kika, ula e eu. nós fizemos um show no mackenzie.

zélia - seu instrumento sempre foi mais contrabaixo?

arnaldo - é, vai rodando, né? bateria também...

sérgio - aí depois, quando arnaldo passou para teclado, eu comecei a gravar baixo. por exemplo, o baixo em "ando meio desligado" sou eu que estou tocando.

pas - quando você passou para o teclado?

arnaldo - eu não estou capaz de saber em qual lp. acho que no terceiro. nos três primeiros, festivais e tudo, eu tocava contrabaixo, e depois passei para o teclado.

sérgio - tem música dos mutantes em que estou tocando bateria, porque o dinho quebrou a clavícula.

dinho - mas de vez em quando o arnaldo também gostava de tocar bateria. ele ia lá, quando a bateria nossa era alugada, ia lá e furava o tambor [risos].

zélia - ah, mentira!

sérgio - o arnaldo era mau, bicho, que ruindade!

arnaldo - uma vez acho que furei... fiquei contente e furei... mas foi pouquinho...

pas - só para terminar, aí tem os malucos lá, devendra [banhart, fã alucinado dos mutantes], essa gente... [risos] como é isso?

arnaldo - ah, nem queira conhecer.

zélia - loucura! eu era a única que tinha o disco do cara...

arnaldo - eu não sabia quem era...

zélia - falei "gente, ele é legal, deixa ele chegar, o cara é legal...".

arnaldo - ele foi e errou a letra com a gente.

sérgio - ele mandou e-mail para mim, dizendo "eu sei cantar 'el justiciero', essa, aquela". legal, então vai ser "el justiciero", vamos lá [enrola a língua para mostrar que ele errou tudo].

zélia - sérgio já disse "não, não vai ficar!". e eu "não, gente, calma, é o devendra, ele é legal, vamos fazer um negócio". aí ele botou um amigo lá, noah, você vai ver no dvd, eles entram que nem duas lombrigas, é muito legal [risos].

arnaldo - é, foi o grande público que entrou...

sérgio - é o davendra, domercado, daquitanda...

zélia - daquitandra.

pas - mas quer dizer que ele ficou rondando vocês?

zélia - não, isso já estava armado.

sérgio - ele telefonou para o barbican, dizendo que queria estar perto da gente, nem que fosse sendo roadie.

zélia - para quem queria ser roadie, cantar "bat macumba" é um super upgrade!

sérgio - pode crer.

pas - ele só cantou o "bat"? [risos.]

zélia - ele é fã mesmo. no ensaio, tem isso no dvd, ele levou uma câmera, ficou filmando os caras.

pas - mais recentemente, ele grudou no caetano, né?

arnaldo - aaaai...

sérgio - é da venda, do mercado, da quitanda...

pas - no brasil existe esse efeito? chegam jovens artistas doidos por mutantes, como ele?

zélia - pô, lá no rio chegaram. tinha menino com olho inchado desse tamanho, tinha gente chorando. foi uma graça ver as minhas sobrinhas, uma de 13 anos e outra 15, na primeira fila. uma delas me ligou de tarde, "dinda, qual é o repertório?". eu: "ah, luíza, tenho tanta coisa pra fazer...". "ah, a gente quer treinar", "tá bom, luíza". no meio da galera eu vi o filho do lenine, querido, cantando tudo, amarradão. em miami, dois garotões americanos entraram no camarim chorando, tremendo, com o lp para eles assinarem. tinham pago us$ 100 pelo disco.

sérgio - eu não sabia o que fazer a não ser abraçar os caras.

pas - isso deve acontecer aqui também?

dinho - acontece, porque no dia em que fomos receber a comanda na prefeitura tiveram que encher dois auditórios, porque estava lotado.

sérgio - acho que vai ser fantástico esse show do ipiranga. é um lugar forte, né? são duas coisas que aconteceram, a fundação de são paulo e o grito do ipiranga. agora vai ser o show [risos]. a espada eu já comprei.

zélia - ai, gente... vou ter que comprar a peruca da marquesa...

lourdes - cheia de esmeraldas, que a marquesa de santos adorava esmeralda. toda vez ela pedia de presente, e passava por dona maria i cheia de esmeraldas, e dona maria sabendo que o marido dela era quem tinha dado.

sérgio - bocetinha de ouro.

zélia - de esmeraldas, né?

arnaldo - fernão dias não era o caçador de esmeraldas? era dias... dias e noites...

pas - pelo visto, a história do Brasil nunca mais vai ser a mesma depois desse show [risos]...

@

num adendo posterior, por e-mail, zélia duncan respondeu o que faria e o que sentiria se, por acaso, se visse na situação difícil (utópica?) de ter de ceder seu lugar nos mutantes para... rita lee. respondeu o seguinte:

"sincerissimamente falando... eu ia morrer de emoção de vê-los juntos. à vezes eu imagino isso no meio de um show! quando eu liguei pra rita eu disse a ela que o que mais vi naquele estúdio foi ela mesma! pude imaginar os três ali, criando, rindo, implicando. sabe quando você tá guardando um lugar pra um amigo no ônibus ou no cinema, sei lá, seja onde for? dá uma alegria quando aquele amigo chega e acho que seria assim e, já que é sonho, antes de sair, eu pediria pra cantar com ela '2001'. e eu ia fechar os olhos e cantar como mutante: 'dei um grito no escuro, sou parceiro do futuro, na reluzente galáxia'! trrrrimmmmmmm! ops, meu despertador tocou!".