quinta-feira, janeiro 11, 2007

se lembra da jaqueira (da portela), maninha?...

duas ou três coisas curiosas encontradas no livro "estação brasil - conversas com músicos brasileiros", da jornalista argentina violeta weinschelbaum, no capítulo em que ela entrevista dona maria bethânia.

1
"Em uma entrevista de 1969 você contou que Caetano costumava te dizer que Deus não existia. Que influência tiveram essas palavras em você?

Era em Santo Amaro, eu era muito menina. Ele me dizia: 'Deus não existe, eu inventei tudo, fiz tudo com a minha cabeça. Não existe essa rua, nem essa cadeira, você não existe'. Caetano sempre disse essas coisas, e acho que sofre muito com isso.

Com essa dúvida?

Ele não tem dúvidas, tem certezas que oscilam [risos]. Eu olho pra ele e sei o quanto é vulnerável, sei que ele gostaria de ter alguma fé, mas não se permite isso. Acho que ele não relaxa. Olha no pescoço dele!"

hahahaha! êita, será que a maninha mais nova não existe?!, que ela foi inventada pelo mano caetano?! se for num sei, mas parece que ela acha que ele sofre muito com isso..."

2 e 3
aqui, a autora pergunta a bethânia por que ela seguiu em trilha paralela à da tropicália, sem aderir exclusivamente ao movimento. pergunta-o traçando uma relação com o fato de, mais nova que os tropicalistas, bethânia não ter vivido o impacto da eclosão da bossa nova na mesma medida dos demais. em meio à resposta, ela diz assim:

"Tem uma coisa na história da bossa nova que é uma carta branca, uma revelação, talvez a mais bonita para mim: quando Vinicius de Moraes, João Gilberto e Tom Jobim resolveram fazer o primeiro disco da bossa nova, a cantora convidada foi Elizeth Cardoso, que não tem nada a ver com a bossa nova. É o contrário: uma mulher com um vozeirão, uma mulher de interpretação, de palco, de grandes gestos e uma voz mulata, uma voz brasileira. Ela é extraordinária, a nossa Divina. A bossa nova é linda, é a revolução, Vinicius foi um grande revolucionário, Baden Powell, João, Nara Leão, a menina da burguesia carioca que fez uma música que mudou tudo na maneira de se expressar, mudou tudo em nossa música. A bossa nova é um divisor de águas".

será que ela está falando de elizeth cardoso, ou dela própria, hein? será constante essa voz "estrangeira", feminina, fazendo o fio da meada? será que, estabelecendo esse nexo acima, ela quer dizer que maria bethânia foi a elizeth cardoso da tropicália?, pairando por cima da movimentação como musa inspiradora-catalisadora que "não tem nada a ver" com isso? será que ela aprendeu isso tudo com elizeth cardoso? pois maria vai além:

"O tropicalismo chega depois, de outra maneira. Absorvi tudo o que pude da bossa nova, com o maior amor e respeito e com grande admiração, também pelo tropicalismo. Mas o que sou eu? Eu não sou nada, sou livre, sou o que me der vontade naquela hora. Gosto de ver os movimentos passarem: o tropicalismo, a bossa nova, o iê-iê-iê, a Jovem Guarda, Roberto Carlos, o samba-rock, o samba-reggae, gosto de ver tudo isso e, de vez em quando, cantar algumas dessas coisas".

será que, sendo assim, ela é a moça da janela que apenas olha a banda passar, a carolina que não viu o tempo passar, aquela "carolina" de chico buarque que seria amada-e-hostilizada numa versão pós-tropicalista (1969) de seu mano? sendo assim, será que maria é a síntese entre caetano e chico? será que, carolina-lindonéia não contente em apenas mirar da janela estática a banda e o tempo passando, ela pula lá seus cercados para ir participar vez em quando duns movimentos? será que ela aprendeu isso tudo com nara leão?

sendo assim, será que maria (ou seja, chico-e-caetano) é o sábio chinês que sonhou ser a síntese borboleteante entre elizeth e nara? se lembra da jaqueira (da portela e da mangueira), maninha?