terça-feira, janeiro 29, 2008

no wonder there's panic in the industry...

"carta capital" 480, 30 de janeiro de 2008.

o título da reportagem, you know, é recolhido de um verso de britney spears.

e, falar nisso, diz que(-diz-que-) o fábio assumpção, da rede globo, também andou indo para o "rehab", para a mesma clínica "rehab" das estrelas de hollywood, por que será, né?...

será que as indústrias, as "firmas", andam desparafusando o dispositivo trágico de enlouquecer as pessoas, às raias da síndrome do pânico? e, sabida a responsabilidade psicopata das indústrias na volta do parafuso, será que elas próprias, as pessoas (que, you know, somos "nozes") não têm sua cota de responsa íntima, particular e intransferível na volta do parafusão, na rebimboca da parafuseta?

não somos racistas? não somos sexistas? não somos capitalistas? não somos canibais? não criamos nossos próprios monstros, monstrinhos e monstrões?


PÂNICO NA INDÚSTRIA
A EMI anuncia que demitirá até 2 mil funcionários, e a greve em Hollywood ameaça se alastrar para gravadoras

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Tradicional casa fonográfica dos Beatles e dos Rolling Stones, a gravadora britânica EMI anunciou em 15 de janeiro uma reestruturação que implicará na demissão de 1,5 mil a 2 mil de seus funcionários nos próximos seis meses. Considerado o total de 5,5 mil contratados no mundo todo, o encolhimento resultante será de cerca de um terço.

Poucos dias antes, a empresa havia sido publicamente ameaçada por um dos líderes de vendagens de discos, o cantor de pop dançante Robbie Williams. Provavelmente inspirado pela greve de roteiristas que há três meses abala Hollywood, Williams se declarou em greve contra a EMI e afirmou que não entregará o álbum que deve à casa, com lançamento previsto para setembro.

Segundo o jornal britânico The Times, um dos grupos de rock mais populares do planeta, o Coldplay, estaria disposto a aderir à greve. "Artistas querem trabalhar com gente de música, não com homens de negócios", afirmou o empresário da banda, Dave Holmes, em referência à recente aquisição da EMI pelo fundo de investimentos britânico Terra Firma, em meio a crise de vendas e denúncias de fraude na gestão anterior.

No dia 17, o anúncio de que os Rolling Stones lançarão um CD por outra gravadora (a norte-americana Universal) forneceu indicação de que não será renovada a parceria de 16 anos com a EMI, que expira em maio. No ano passado, Paul McCartney rompeu uma ligação de quatro décadas e meia com a multinacional, que vive às voltas com litígios judiciais com o espólio dos Beatles. O CD mais recente de Paul foi lançado em parceria com a rede de cafés Starbucks.

"O foco da redução de pessoal é eliminar possíveis áreas de duplicidade de funções dentro do grupo, permitindo mais agilidade nas tomadas de decisão e uma estrutura mais sustentável dentro do novo cenário", ameniza Marcelo Castello Branco, presidente do escritório brasileiro da EMI, que esteve no epicentro das denúncias de fraude em 2006. Segundo ele, a filial local (que tem Marisa Monte e Charlie Brown Jr. entre os nomes mais rentáveis) passou por ajustes recentes e, assim, supostamente não seria colhida pelas novas turbulências na matriz.

Os conflitos na EMI formam a ponta mais estridente de um cenário a cada dia mais grave, o da derrocada das grandes gravadoras de discos frente a pirataria, downloads, circulação virtual de música e inadaptação aos novos tempos.

Parece sintomático que outra das maiores gravadoras, a Sony BMG, busque âncora salvadora no "disco mais vendido de todos os tempos", Thriller, de Michael Jackson, com 105 milhões de cópias desde o lançamento, em 1982, até hoje. Prepara para março uma reedição pomposa, acrescida de DVD, gravações inéditas e novas versões de Billie Jean, Beat It e outras músicas, pilotadas por artistas da moda na black music, como will.i.am, Akon, Fergie e Kanye West. Tão assolado por escândalos quanto a indústria por rombos, Michael em pessoa permanece calado e em constrante crise criativa.

Outra figura-símbolo do atual momento do mundo da música se chama Britney Spears, também da Sony BMG. Ex-atriz mirim do Clube do Mickey, ela colabora com o pão nosso de cada dia da mídia sensacionalista com uma sucessão interminável de dramas pessoais, atitudes descontroladas e ameaças suicidas.

Tratada como piada enquanto se autodestrói em público, Britney faz "sucesso" por razões que nada têm a ver com música. Mas em Blackout, CD ultracomercial lançado no final de 2007, espalha pistas sobre seu estado e o das gravadoras. Não é surpresa este pânico na indústria, canta, entre lamúrias como vocês não vão prestar atenção em mim? e vocês querem um pedaço de mim? Vendeu até agora cerca de 2 milhões de exemplares, contra 22 milhões do recorde da artista, em 1999.

O estado de espírito não é só dela, mas da maioria dos nomes de ponta no atual mercadão musical. Britney, Robbie Williams e as jovens Amy Winehouse e Lily Allen marcam presença menos pela música que pelas incessantes idas a clínicas de reabilitação e desintoxicação. Rehab, interpretada por Amy com vozeirão de cantora antiga de jazz, foi uma das canções mais expressivos de 2007. Querem me levar para a reabilitação/ e eu digo não, não, não, ela canta, entre uma e outra internação.

Outro dos pontos controversos da propalada reestruturação da EMI diz respeito à busca de patrocinadores privados para os artistas sob contrato. "Isso não é novidade. Artistas como Marisa Monte, Caetano Veloso e Ivete Sangalo atuam exemplarmente dentro dessas possibilidades", diz Castello Branco. "Queremos ser um driver dessas alternativas e atuar em parcerias que contribuam para a maior visibilidade de nossos projetos."

Pode não ser novidade, mas o fato é que, pressionadas pela insuficiência de lucro nas lojas, as gravadoras cada vez mais tentam abocanhar outras fontes de receitas dos artistas, como as de shows e contratos publicitários. A Sony BMG, por exemplo, anunciou a criação da subsidiária Day 1 Entertainment, uma "agência de talentos" para gerenciar as carreiras de músicos e, talvez, jogadores de futebol.

"A previsão é de que neste primeiro ano a Day 1 faça de 300 a 400 shows e contrate de três a cinco artistas no Brasil. Só na América Latina já chegamos a 50 artistas", comemora o gerente-geral local da Sony BMG, Alexandre Schiavon. "Apesar de outra grande queda de mercado neste ano, que, creio, deva ficar em 30%, fechamos o segundo ano consecutivo com lucro e 21% acima do ano anterior."

Devem estar relacionadas a esse novo contexto afirmações do empresário de Robbie Williams, Tim Clark, de que o novo todo-poderoso da EMI, Guy Hands, age como um "fazendeiro" que "escraviza" seus contratados. No ano passado, Williams teve de amargar o fato de a EMI usar o relativo fracasso comercial do álbum Rudebox como um dos bodes expiatórios da crise que levou à venda ao fundo de investimentos. Agora, um editorialista financeiro do Times tomou partido da EMI e classificou como "risível" a queixa sobre escravidão. Astros do rock, lembrou, estão entre os seres humanos mais ricos e paparicados do planeta.

Mas não são inéditas acusações como a de Williams. Em 1994, George Michael processou a Sony por um suposto "contrato de escravidão". E perdeu. Em 1993, Prince estampou na bochecha o termo "escravo", em protesto contra sua gravadora na época, Warner. Em 2007, ele distribuiu o CD mais recente gratuitamente, em shows e encartado numa edição do jornal britânico Daily Mail.

Contra o modelo criado pelas gravadoras, insurge-se um novo, capitaneado por outro nome ejetado da constelação da EMI, o Radiohead. No final do ano passado, o grupo alvoroçou a indústria mundial ao lançar o álbum In Rainbows de modo independente e virtual. Inicialmente disponível apenas no site da banda, foi comercializado em download, por um preço a ser definido individualmente por cada consumidor, e que poderia ser igual a zero.

Os resultados concretos do levante do Radiohead ainda são controversos, mas é fato que o grupo conquisou repercussão ímpar e se libertou da faixa média de direitos autorais praticada pela indústria cultural (em regra, cerca de 10% do total das vendas) e ficou com a totalidade do valor arrecadado no sistema "faça você mesmo".

Outro exemplo de mudança de foco nas relações entre a música e a indústria fonográfica foi dado pelo brasileiro Gilberto Gil, que no último dia 21 se despiu das vestes de ministro da Cultura para anunciar, numa entrevista coletiva no escritório brasileiro do Google, a criação de um canal exclusivo dentro do site de compartilhamento de vídeos YouTube.

O endereço www.youtube.com.br/gilbertogil passa a disponibilizar, gratuitamente, a produção audiovisual do músico, o que inclui desde vídeos históricos a gravações inéditas de ensaios, cenas caseiras, bastidores e colaborações de fãs. Em apresentações recentes, o artista tem fugido à praxe proibitiva de casas de espetáculos para pedir que os espectadores filmem os shows em câmeras e celulares e os publiquem eles mesmos na internet.

Segundo Gil, o acordo com o Google não significa o abandono de um contrato de 30 anos com a Warner. "Acho que meu próximo disco, Cordel Banda Larga, será o último no antigo formato. Mas pretendo manter o vínculo com a Warner, até porque é instrutivo para eles, para que possam vivenciar comigo novos modelos de negócio", diz.

O músico-ministro contorna a questão ética por trás da duplicidade de funções que exerce e de um possível uso político do canal exclusivo no site do Google: "Me atenho ao lado artístico e empresarial. Se alguém filmar uma solenidade e publicar, a gerência do canal vai entender se é conveniente ou não manter". A gerência é feita pela equipe que faz o site de Gil, coordenada por sua esposa, Flora.

Como acontece em todo o YouTube, o canal se move na linha tênue entre a oficialidade e a informalidade, já que é farta a quantidade de pirataria em circulação, como em fonogramas pertencentes a gravadoras e editoras ou imagens antigas de propriedade de emissoras de tevê. "Alguém me mostrou um vídeo de Gil com os Mutantes no festival da Record (de 1967). É o caso de conversar com a emissora e legalizar o que ainda não for legal", afirma o presidente do Google Brasil, Alexandre Hohagen, que chefia uma equipe de 200 funcionários, iniciada há 30 meses. Na semana de estréia, o vídeo estava livremente disponível no canal.

A diretora de marketing do Google local, Patrícia Pflaeging, admite a tensão por trás da mudança de modelos, falando do susto da gravadora diante da proposta de liberar a obra de Gil no YouTube: "Na primeira reunião, a Warner queria morrer". O músico afirma: "É um exercício menos para o artista que para a gravadora, que precisa desesperadamente encontrar modelos ágeis, sair daquela coisa mastodôntica das 'majors'’ e entrar um pouco no universo das 'minors'".

Patrícia diz que uma carta-acordo foi assinada pelo Google e por Gil, mas o artista e Hohagen são uníssonos em afirmar que não existe um contrato em termos comerciais, nem geração de receitas para nenhuma das partes. "É uma ação que não visa lucro nenhum. Nesse momento, o objetivo é puramente artístico", diz o presidente do Google.

Se é assim mesmo, nesse ponto os 10% de direitos autorais pagos por gravadoras aos criadores são trocados por um redondo zero via internet. Quanto ao Google e cyber-empresas correlatas, entra-se num território de lucro mais ou menos impalpável. "Se atrair mais usuários, posso expandir o negócio, levar mais visitas ao site do Gil", afirma Hohagen, sem quantificar.

Mas, ao contrário do que Gil sugere, conglomerados de nome Google, Microsoft ou Apple nada têm de "minors". E são eles os adversários posicionados atrás das ruínas das velhas e palpáveis fábricas de discos.