quarta-feira, março 05, 2008

amanhã ou depois de amanhã

desde os tempos do onça eu ouço milton nascimento, desde os tempos do ronca. não que eu quisesse ou não, é que ele sempre esteve em toda e qualquer esquina do brasil, quiséssemos nós ou não. é como roberto carlos, você pode até detestar, mas eu tenho certeza absoluta de que passou boa parte da sua vida ouvindo as canções dele(s).

durante muito tempo, a maior parte do tempo, eu ouvi milton nascimento (e, de quebra, toda a constelação rebelde que orbitou ao redor dele no chamado "clube da esquina") com um misto de desinteresse, repulsa, irritação, constangimento, antipatia... mais que tudo, diria que o ouvi desconcertado, e por isso mesmo preferindo fugir a escutar, pensar, assimilar, interagir.

mas isso foi no tempo do ronca (alô, pablo, você que tem o mesmo nome de uma canção do milton). depois, devagarzinho, fui aprendendo a reposicionar milton nascimento (& cia.) dentro do meu ouvido – a ponto de atualmente, em não poucos momentos, ter vontade de chorar quando conecto do meu ouvido para dentro aquele imaginário conturbado e perturbado que ele(s) vocalizava(m) nos tempos do ronca.

porque é - só para ser banal - o milton dos tempos do ronca o que mais me emociona no ano da graça de 2008. é aquele que se confundia e se misturava com lô borges (e com o clube todo, o baile todo, nos bailes da vida) e produzia pétalas de mistério, fragmentos musicais de ponte, de fuga e de estrada como “sentinela”, “beco do mota”, “para lennon e mccartney”, “clube da esquina”, “durango kid”, “tudo que você podia ser”, “cais”, “o trem azul”, “cravo e canela”, “dos cruces”, “um girassol da cor dos seus cabelos”, “san vicente”, “paisagem na janela”, “me deixa em paz”, “nada será como antes”...

publico este textinho impressionista aqui no mesmo momento em que bob dylan deve estar trepado num palco, fazendo um show para os cá de são paulo, e acho que é mais que mera coincidência isso tudo aí. estou, nestes dias mesmo, concluindo uma reportagem sobre o clube da esquina, e me sinto bem mais emocionado e perturbado do que, acho, a reportagem conseguirá expressar no final. como numa nuvem cigana, parece que de repente os tempos do ronca SÃO aqui e agora.