quarta-feira, abril 09, 2008

as mariposa

há muito tempo eu (não) vivi calado, mas agora resolvi falar (de novo).

lá vem mais um show de roberto carlos, e lá vem nova leva de reportagens sobre o cara, a árdua busca por novidade onde novidade não há, nem pretende haver. do final de 2007 para cá, os textos dos colegas jornalistas têm repetido, um atrás do outro, que "nunca antes na história deste país roberto carlos havia deixado de lançar um disco no natal", ou "um disco com músicas inéditas", ou (pequenas) variações sobre esse mesmo, mesmíssimo tema.

mas... mas... mas... de onde tiraram essa originalíssima (e equivocadíssima) informação, a ponto de enfim roubarem dela a originalidade, à custa de incessante e estrondosa repetição de erro, em efeito-manada (como luis nassif costuma nomear)?

só para revisitar o óbvio, o chavão, o tediosamente enciclopédico, a retreta:

em 1997, roberto "só" lançou "canciones que amo", um disco de sucessos latino-americanos, em espanhol (ok, boiava lá pelo meio "coração de jesus", dele e de erasmo carlos, em português mesmo, mas...). no disco híbrido de 1998, havia um punhadinho econômico de canções "novas", em meio a um banhado de "hits" ao vivo. em 1999, nada (a não ser uma coletânea de sucessos e outra de canções religiosas). em 2001, "só" o "acústico mtv", "só" músicas não-inéditas. em 2002, "só" outro disco ao vivo, com "só" uma nova ("seres humanos") perdida lá no meio (ou melhor, no início), mais o bônus de uns remixes eletrônicos, "modernos", de "o calhambeque", "se você pensa", "jesus cristo". em 2004, "só" mais um plácido disco ao vivo, "só" com a sessentista "a volta", regravada em estúdio, deslocada ali no meio (ou melhor, no final). em 2005, "só" um disco quase "só" de regravações, dele ("meu pequeno cachoeiro") e de outros ("índia", "loving you"). 2006? "só" "duetos", um cd-e/ou-dvd de, er, duetos puxados de especiais passados do homem na globo. 2007? nada, ufa. e aí a incompreensível avalanche: nunca antes na história deste país...

[só para o seu conhecimento, spc: (quase) nenhum desses dados acima eu sei de cor, ok? eu "só" tive o trabalho de ir até o site oficial do cara e copiar. como poderia ter ido ao meu próprio livro "como dois e dois são cinco - roberto carlos (& erasmo & wanderléa)" (boitempo, 2004), que também reúne (quase) todas essas informações.]

se você disser que nada disso tem (quase) nenhuma importância, eu concordarei, tambéma acho que não - afinal, em que rc é diferente de (quase) todo mundo, na desaceleração criativa e na sanha de revivals "ao vivo" que fizeram nos últimos anos a derrocada da indústria de cd e o nascimento (natimorto?) da indústria de dvd?

ok, concordo. mas é que me aflige e me exacerba testemunhar (e às vezes participar d)a facilidade displicente com que o jornalismo diariamente cozinha (e a freguesia - você? - gostosamente saboreia) mentiras, descuidos, descasos, desleixos, mistificações, alienações, sei lá quais e quantos nomes dar a esse tipo de treco. quando se refere a roberto carlos, então, nossa senhora.

e aí, bem, certamente você já sacou, mas chego agora ao âmago da minha irritação. é "só" uma entre incontáveis outras, essa mentirinha boba de "pela primeira vez roberto carlos interrompeu uma rotina", erigida por mariposas que ficam dando voltas ao redor da lâmpada do factóide como se ela(e) fosse o sol que daria acesso ao reino dos céus, quero dizer, ao rei-roberto, quero dizer, à liberdade.

um tipo afim de "mentira" (esquecimento? desconhecimento? amnésia? ignorança?) dessas que rondam o carlismo, e particularmente o jornalismocarlismo, me afetou e afeta diretamente, e muito. envolve meu já citado "como dois e dois são cinco", um livro (quase "só") sobre roberto carlos que roberto carlos não censurou, nem proibiu, nem sequer agrediu.

pois, começando por (quase) todo mundo na imprensa (e fora dela) e terminando no colega ruy castro, eu ouço (quase) todo dia repetições em efeito-manada sobre o fato de roberto carlos ser "censor de livros", de "atentar contra a liberdade de expressão" etc. etc. etc.

[é que, outro dia mesmo, ruy castro escreveu mais do mesmo, sobre os "paradoxos" censores de rc; intrigado, fui sondá-lo em pessoa, por e-mail, sobre o por quê da reiterada omissão. respondeu que era "normal" ele, ruy, não saber da existência de algum outro livro sobre rc, mesmo se não-censurado - "anormal", disse, era rc não ter "partido para dentro de você"... ai, ai, ai...]

não que eu não concorde que, em certa medida, roberto carlos age, sim, como "pai censor" cerceador de diversas liberdades, mas... até hoje ninguém, nenhum coleguinha sequer, me perguntou por que ele não "censurou" nem "proibiu" meu livro, que segue em (pequena) circulação até os dias de hoje.

não que eu soubesse responder, se alguém me perguntasse. mas é que, pelo que me conste, ninguém até hoje tampouco perguntou a roberto carlos, nem a ninguém de sua corte íntima, por que é que ele proíbe uns, não proíbe outros, e la nave va. como dizia adoniran barbosa, as "mariposa" ficam todas lá noutro canto, em volta da "lâmpida", procurando o sol atrás dos 100 watts de quão censor anti-liberdade de expressão rc é, ou dos 40 watts de quantos discos rc não lançou neste ano.

tudo isso sem nem começar a falar das "mariposa" girando atrás doutras "lâmpidas", luzinhas fátuas e fosforescentes de dossiê, de dengue, de menininha assassinada etc. etc. etc.

jesus cristo, minha nossa senhora, meu coração de jesus! dos patrões fazedores de jornal e de "jornal nacional" eu nada sei, mas será "só" por culpa do(s) patrão(ões) que os jornalistas chegamos a este estado deplorável de desorientação, sucateamento, auto-sabotagem e autodesprezo?

sabe o que acaba acontecendo com as "mariposa" suicidas que teimam e insistem e persistem e não desistem de encontrar o sol escondido por detrás da luz da "lâmpida", não sabe? sabe, sim.

[ah, e só reiterando o convite, sempre e sempre, ao ruído - há umas pílulas sobre rita lee lá, recém-colocadas.]