sexta-feira, outubro 24, 2008

geni e o zepelim

já de volta dos climas sulistas, entro no espírito pré-eleitoral e presto minhas "homenagens" aos dois candidatos cá da minha cidade, na forma de letras de canção.


primeiro, um tema que me faz lembrar de gilberto kassab. vale na voz do autor, ou então na do paulinho da viola.

falso moralista
(nelson sargento)

você condena o que a moçada anda fazendo/ e não aceita o teatro de revista/ arte moderna pra você não vale nada/ até vedete você diz não ser artista

você se julga muito bom e até perfeito/ por qualquer coisa deita logo falação/ mas eu conheço bem o seu defeito/ e não vou fazer segredo, não

você é visto toda sexta no joá/ e não é só no carnaval que vai pros bailes se acabar/ fim-de-semana você deixa a companheira/ e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira

segunda-feira chega na repartição/ pede dispensa para ir no oculista/ e vai curar sua ressaca simplesmente/ você não passa de um falso moralista


e então, ao que interessa, uma canção que me faz lembrar de minha candidata, marta suplicy. e o lembrete: no enredo original, da "ópera do malandro", essa geni de que fala o chico é uma travesti.

geni e o zepelim
(chico buarque)

de tudo que é nego torto/ do mangue e do cais do porto/ ela já foi namorada/ o seu corpo é dos errantes/ dos cegos, dos retirantes/ é de quem não tem mais nada/ dá-se assim desde menina/ na garagem, na cantina/ atrás do tanque, no mato/ é a rainha dos detentos/ das loucas, dos lazarentos/ dos moleques do internato/ e também vai amiúde/ com os velhinhos sem saúde/ e as viúvas sem porvir/ ela é um poço de bondade/ e é por isso que a cidade/ vive sempre a repetir

joga pedra na geni/ joga pedra na geni/ ela é feita pra apanhar/ ela é boa de cuspir/ ela dá pra qualquer um/ maldita geni

um dia surgiu, brilhante,/ entre as nuvens flutuante/ um enorme zepelim/ pairou sobre os edifícios/ abriu dois mil orifícios/ com dois mil canhões assim/ a cidade apavorada/ se quedou paralisada/ pronta pra virar geléia/ mas do zepelim gigante/ desceu o seu comandante/ dizendo "mudei de idéia/ quando vi nesta cidade/ tanto horror e iniqüidade/ resolvi tudo explodir/ mas posso evitar o drama/ se aquela famosa dama/ esta noite me servir"

essa dama era geni/ mas não pode ser geni/ ela é feita pra apanhar/ ela é boa de cuspir/ ela dá pra qualquer um/ maldita geni

mas de fato logo ela/ tão coitada, tão singela/ cativara o forasteiro/ o guerreiro tão vistoso/ tão temido e poderoso/ era dela prisioneiro/ acontece que a donzela/
- e isso era segredo dela -/ também tinha seus caprichos/ e a deitar com homem tão nobre/ tão cheirando a brilho e a cobre/ preferia amar com os bichos/ ao ouvir tal heresia/ a cidade em romaria/ foi beijar a sua mão/ o prefeito de joelhos/ o bispo de olhos vermelhos/ e o banqueiro com um milhão

vai com ele, vai, geni/ vai com ele, vai, geni/ você pode nos salvar/ você vai nos redimir/ você dá pra qualquer um/ bendita geni

foram tantos os pedidos/ tão sinceros, tão sentidos/ que ela dominou seu asco/ nessa noite lancinante/ entregou-se a tal amante/ como quem dá-se ao carrasco/ e ele fez tanta sujeira/ lambuzou-se a noite inteira/ até ficar saciado/ e nem bem amanhecia/ partiu numa nuvem fria/ com seu zepelim prateado/ num suspiro aliviado/ ela se virou de lado/ e tentou até sorrir/ mas logo raiou o dia/ e a cidade em cantoria/ não deixou ela dormir

joga pedra na geni/ joga bosta na geni/ ela é feita pra apanhar/ ela é boa de cuspir/ ela dá pra qualquer um/ maldita geni