quinta-feira, janeiro 29, 2009

então você não entende da vida

n'"o pasquim" 155, semana 20-26 de junho de 1972, entrevista com waldick soriano (& meus grifos):

"ODILLO LICETTI - Sua primeira mulher morreu dois meses depois do casamento. Conta como foi que você a conheceu. Foi amor grande, morreu como?

WALDICK - É bacana essa pergunta. Essa é a pergunta que eu gostei mais, porque eu quero que vocês botem no jornal em letras garrafais a minha resposta dessa pergunta, para exemplo de muitas pessoas frustradas que existem por aí. Conheci minha primeira esposa numa boate, em Belém do Pará, mas ela era baiana. Era uma mulher de vida livre, prostituta. Gostei dela e acabamos nos apaixonando um pelo outro e tal. Vivemos juntos uns tempos. Depois um dia cheguei na casa do meu irmão lá na Bahia - levei ela lá pra eles se conhecerem. Interior você conhece muito bem, né? Aquele negócio de amigado não dá pé, entende? E meu irmão disse: 'Essa é a mulher que você gosta?'. Eu falei: 'É'. 'Por que você não casa?' Eu falei: 'Ô, rapaz, esse negócio de casamento não dá pé não, sabe?'. Ele disse: 'Não, você deve casar, porque...'. Meu irmão é maçom, aquele negócio, né? Aí eu falei: 'Olha, só se você for lá no cartório e ajeitar tudo; trazer o pessoal aqui em casa. Aí eu caso'. Aí ele disse: 'É pra já'. Eu sei que foi na véspera de São João. Trouxe todo mundo em casa, terminou me casando. Foi um casamento muito bonito. Meu pai ao lado, meu irmão, minha família. Ela era adorada pela minha família. Depois de dois meses e cinco dias de casada ela morreu".

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fala-se tanto sobre "qualidade musical". mas seriam a liberdade e a transparência que ele exibe na resposta suportáveis aos preconceitos, desculpe, aos "valores" da "nossa" classe média e da "nossa" classe "rica" (como jaguar se autodefinirá no outro trecho que segue abaixo)? não estaria aí o muro de berlim?
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"JAGUAR -Como é que você resolvia a sua vida sexual no garimpo?

WALDICK - Ah, você já imaginou, né? (dá uma cutucada no Jaguar) Hein?

JAGUAR - Não, não...

WALDICK - Não o quê, rapaz. Você também já passou por essa... (risadas gerais)

JAGUAR - Eu!? Eu nunca estive num garimpo, rapaz. Eu sempre morei em Ipanema, no meio do mulherio.

WALDICK - Você sempre viveu rico?

JAGUAR - Sempre.

WALDICK - Ah, então você não entende da vida".