sexta-feira, fevereiro 06, 2009

a indústria cinematográfica & o jornalismo (etc.)

do livro "o grande filme - dinheiro e poder em hollywood", de edward jay epstein, páginas 184 e 185 (*), sobre o processo a que os estúdios cinamtográfico submetem os espectadores para "conscientizá-los" da existência de seus filmes - e sobre a participação de mídia nesse processo, incluída aqui as formas de publicidade camuflada que às vezes chamamos de "jornalismo" (o que faz deste tópico um primo daquele que vai mais abaixo, sobre o agnaldo timóteo):

"A parte mais difícil do processo de conscientização geralmente envolve pouca publicidade paga, às vezes, nenhuma. Quando o filme entra em produção, o estúdio encarrega os estrategistas da publicidade da missão de obter divulgação gratuita para ele. O principal meio que utilizam para isso é plantar notas na mídia de entretenimento - como Entertainment Weekly, People, TV Guide e o canal E!, todos pertencentes às matrizes corporativas dos estúdios -, que enchem suas páginas ou horários na tevê com fofocas sobre as celebridades. 'É fácil criar publicidade em torno das estrelas', observou o executivo de um estúdio; 'difícil é chamar a atenção para a produção'. Como as estrelas muitas vezes figuram em filmes concorrentes no mesmo período - Julia Roberts, por exemplo, estrelou, em 2001, filmes produzidos pela Sony, pela Warner Bros. e pela DreamWorks -, não basta simplesmente divulgá-los; a publicidade deve estar diretamente ligada ao filme a ser lançado. Para conseguir essas notas, portanto, os repórteres da mídia de entretenimento têm de concordar em incluir as referências ao título ou às estrelas, de maneira a aumentar a consciência do público sobre o futuro lançamento (omitindo as referências a filmes concorrentes protagonizados pelos mesmos nomes).

Muitas revistas também pedem fotografias dos astros para estampar na capa. Os estúdios geralmente reservam as oportunidades de fotografá-los a revistas que aceitam suas condições quanto à escolha do momento de publicar as fotos e quanto ao conteúdo das matérias que as acompanham. Não raro, a equipe de divulgação examina antes as matérias para se certificar de que elas não contêm nenhum item, como a menção a filmes concorrentes, que possa atrapalhar a missão de conscientização. As publicações que aceitam essas condições são consideradas pelo estúdio 'parceiros cúmplices', conforme descrição de um executivo.

(...) Faz parte da rotina dos estúdios que toda a equipe e o elenco dos filmes assinem contratos de sigilo, que os obrigam a manter a confidencialidade. Enquanto isso, as histórias forjadas pelos divulgadores são sistematicamente plantadas nas revistas de fãs, nas agências de notícias, nas colunas de fofocas e outros meios escolhidos".

isso se referiria, a gente pode pensar, à mídia fofoqueira do tipo (para citar exemplos "nossos") "caras" ou o programa vespertino da sônia abrão (como se chama?). mas o livro escorrega, a partir da página 191, para a mídia e o jornalismo ditos "sérios", e imagino que aqui poderíamos pensar no programa global do jô soares, em jornalões sisudos ou (se posso extrapolar para a indústria musical) na relação digamos umbilical entre, por exemplo, mtv, "gugu" ou "faustão" e gravadoras ou operadoras telefônicas. "veja" só:

"A publicidade na tevê é usada também para patrocinar programas de entrevistas, como The Tonight Show with Jay Leno e o Late Show with David Letterman, que mostram clipes e entrevistam os astros de filmes recém-lançados. Essa exposição não comercial (????) é considerada particularmente valiosa para atrair adultos jovens. 'Letterman e Leno são, para nós, empurrões muito eficazes, especialmente entre o público adulto jovem', explicou um executivo da Viacom, 'por isso ficamos felizes em patrociná-los'. Do mesmo modo, os estúdios investem pesado em anúncios na MTV e outros canais semelhantes para estimulá-los a exibir vídeos do filme durante a semana de estréia".

e epstein chega, nas páginas 195 e 196, aos sisudos e reputados jornalões norte-americanos:

"Por fim, para dar suporte ao bombardeio, os estúdios investem pesado em anúncios no jornal pouco antes da estréia. Além dos locais e horários de exibição, esses anúncios geralmente trazem comentários de críticos e repórteres da mídia de entretenimento que os divulgadores selecionam de resenhas. Os maiores beneficiários desses anúncios são dois jornais: The New York Times, que em 2001 recebeu 156 milhões de dólares dos estúdios, e o Los Angeles Times, que recebeu 106 milhões. Embora a publicação de anúncios nesses jornais possa não atingir mais que uma pequena parcela do público-alvo, especialmente quando se trata de filmes voltados para os jovens, esses periódicos são importantes para Hollywood, por causa do prestígio que suas sessões de entretenimento de domingo podem conferir aos filmes. Como observou um executivo de marketing da Sony, eles 'não dão apenas visibilidade ao filme: é em Nova York e Los Angeles que vivem os astros e diretores'. Por essas razões, os estúdios muitas vezes se vêem obrigados, até por contrato, a anunciar nesses jornais e cooptar sua boa vontade. (...)

(o melhor trecho, agora...)

Para antecipar reportagens e análises críticas, os estúdios muitas vezes levam os repórteres de avião a excursões em hotéis ou lugares especialmente escolhidos, onde os atores e outras celebridades do filme lhes concedem breves entrevistas 'de elevador'. Antes da estréia, em 1996, da fantasia extraterrestre Independence Day, por exemplo, os divulgadores da Twentieth Century-Fox transportaram, de ônibus, mais de uma centena de jornalistas a Rachel, Nevada, onde fica a Área 51, na Highway 375 - lugar onde os militares americanos haviam conduzido um 'projeto ultra-secreto de estudo de alienígenas', segundo um boletim do estúdio. Tal projeto nunca existiu, na verdade, mas, como parte do 'evento jornalístico', os divulgadores conseguiram que o governador de Nevada, Bob Miller, consagrasse a Highway 375 como 'Rodovia dos Extraterrestres', onde os alienígenas encontrariam um porto seguro. O estúdio também inaugurou diante da imprensa um monumento destinado a servir de farol para guiar os alienígenas até Nevada. A viagem da imprensa pode ter sido absurda, mas foi também um sucesso, resultando em mais de uma centena de matérias na mídia antes do lançamento do filme".

(*) os grifos são meus.