segunda-feira, março 15, 2010

meu coração bate (e apanha) num teleco-teco...

Dizia assim aquela música de Skowa e A Máfia no longínquo 1989: "Tem dias que tudo dá errado. Se chove eu pego resfriado. Se faz calor, fico desidratado. Tem dias que tudo dá errado". A letra era de Arnaldo Antunes, quando a música dele ainda não era tão otimista.

Tem dias que nem tudo dá errado, só metade das coisas. Deixa eu contar.

Algumas horas antes de ir para o show do Otto, lá fui eu, na sexta-feira passada, ao encontro de três das maiores figuras femininas da história da música brasileira. Iam se apresentar (quase) juntas Ademilde Fonseca, Elza Soares e Baby do Brasil. É mole?

Fui para o camarim, que a ideia era entrevistá-las para o iG, onde ando fazendo umas críticas e reportagens especiais. Só Elza havia chegado, e ela se pôs a conversar com disposição à beça, bem maior que a que eu conhecia de outros carnavais. Emocionante.

Baby do Brasil foi a segunda a chegar. Logo vi que ela está inspiradíssima, e também bem mais serena e pé-no-chão que na longínqua vez anterior que me lembro de tê-la entrevistado ao vivo, em 1997, a propósito do disco "Um". Intensa e cheia de coisa para contar. Emocionante ao quadrado.

E de repente apareceu Ademilde Fonseca, rainha do choro cantado, incríveis 89 anos de idade e de elegância. Essa eu nunca havia entrevistado, que coisa incrível. Nunca tinha visto e ouvido ao vivo, nunca tinha chegado perto. Emocionante ao cubo.

Foi, para mim, um momento único, histórico, seguramente uma das entrevistas mais sensacionais que fiz nestes quase 16 anos de jornalista. O show, na noite seguinte, só veio confirmar essa impressão.

Mas por que estou dizendo que tem dias que metade de tudo dá dramaticamente errado? É que saí lá do camarim eletrizado, doido para transcrever a longa conversa na íntegra, suspiro por suspiro, tinindo trincando. E só aqui em casa fui descobrir que, por alguma bisonha trapalhada minha, apenas um minuto e 38 segundos de tudo que aconteceu ali ficou registrado no meu tecnologiquíssimo gravadorzinho.

Foi tudo espetacular, literalmente. com exceção desse "pequeno" detalhe que me faz passar o dia inteiro desde então com um nó na garganta e uma bruta vontade de chorar. Tipo criança que perde a figurinha que faltava para completar o álbum, sabe? Ee só não chorei até agora, acho, porque a raiva é ainda maior que o desconsolo.

Tem dias que quase tudo dá certo - mas vá explicar isso para o seu fígado...