sexta-feira, janeiro 23, 2009

bat masterson & a cidade-fantasma

e dando sequência (não pode mais usar o trema agora, né?, esse parece que morreu, mas vou sentir saudades) ao papo do tópico anterior, eu estava (estou) justamente por agora lendo o livro "o grande filme - dinheiro e poder em hollywood", do cientista político edward jay epstein, e quero pirat... compartilhar um trecho aqui.

primeiro esclareço que entendo neres de pitibiribas de economia, e imagino que você também não entenda. e que tem uns trechos meio difíceis de deglutir aí. mas, ó, quer saber? eu acho que ao menos a medula do que ele está falando eu captei (e fiquei boquiaberto). e tenho certeza que você vai entender também, rin-tim-tim por rim-tim-tim.

epstein está discorrendo aí sobre uma megacorporação que todos nós conhecemos, e ele cria o suspense de não contar qual é, em mim foi dando cada vez mais vontade de saber conforme eu lia. e adorei esperar até o final. pois então, agora é a sua vez, se você topar brincar (os grifos, como sempre, são meus, para palavras-chave que me chamam especial atenção) (e os itálicos, como sempre, são intromissões minhas que eu não resisto a fazer).

"o grande filme - dinheiro e poder em hollywood" (summus editorial), de edward jay epstein, págs. 114-116 [começa].


"Veja o caso, por exemplo, do perfil financeiro de uma das maiores companhias pós-industriais dos Estados Unidos, com valor de 75 bilhões de dólares no mercado de ações em 2001. Sua impressionante receita de 25,4 bilhões de dólares e os 800 milhões de renda declarada para o ano anterior eram 'pro forma'. Pro forma, que literalmente significa 'na forma de', é um construto intelectual usado nos balancetes em que se ajustam os resultados financeiros, a fim de melhor representar, na visão da administração, as perspectivas futuras de uma empresa. Os resultados pro forma geralmente excluem, por exemplo, as despesas que a administração considera anômalas. Como, de acordo com um abrangente estudo realizado pela Dow Jones & Company, essas suposições pro forma tendem a apresentar um quadro muito mais otimista dos ganhos que o real, elas acabam substituindo a realidade existente pelo mundo que a administração enxerga por meio de suas lentes cor-de-rosa.

[o otimismo e as lentes cor-de-rosa, "naturalmente", pertence às corporações pós-industriais, enquanto a nós, os "plebeus" do grã-capitalismo, nos cabe o pessimismo-nosso-de-cada-dia vendido entre margarinas nos jornais matutinos e entre floras & donatelas nos telejornais noturnos. é o confronto diário entre o otimismo autofágico comprado lá nas nuvens e o pessimismo a granel vendido cá no chão, alô, mr. arnaldo jabor & companhia ilimitada!]

No caso da companhia citada, os resultados pro forma incluíam os lucros e as perdas das empresas recém-adquiridas, como se estas sempre tivessem estado sob seu controle e os resultados fizessem parte de suas operações. Além disso, a companhia manejou para retirar de seus livros os enormes prejuízos sofridos com suas operações na internet ao desmembrá-las em empresas separadas e emitir para elas uma nova categoria de ações para os acionistas.

Além disso, muitos dos projetos da companhia que exigiam alto investimento de capital foram co-financiados, em 2000, com a ajuda de empresas-fantasmas. Agindo como sócias, essas empresas, por sua vez, emprestavam grande parte do dinheiro de bancos internacionais, contraindo dívidas que não constavam do balancete da companhia. E não só isso. Os bilhões de dólares de custo de seus projetos em desenvolvimento foram listados como despesas de capital, porque não tinham começado a gerar receita. Uma vez que só uma pequena parcela das despesas de capital é contabilizada em relação aos ganhos, essa manobra contábil aumentou significativamente os lucros relatados.

Com algumas das empresas-fantasmas, a companhia se beneficiou também de regras contábeis estrangeiras para ocultar resultados possivelmente desastrosos. Por exemplo, se tivesse usado os critérios contábeis americanos no relatório sobre sua subsidiária na França, a companhia teria mostrado que esta estava no vermelho, com um deficit superior a 2 bilhões de dólares, 2,5 bilhões em dívidas e apenas 69 milhões de capital próprio, mas com a ajuda dos critérios contábeis franceses, bem mais liberais, a companhia conseguiu demonstrar que a dívida da subsidiária era de apenas 1 bilhão de dólares e seu capital próprio, de 1,1 bilhão.

Império corporativo com operações no mundo inteiro, a companhia também estava envolvida em transações bilionárias com instituições financeiras, incluindo contratos de compra e venda de moedas estrangeiras, títulos do tesouro e opções de taxas de juros em várias datas futuras. Embora essas operações de proteção contra perdas almejem salvaguardar a empresa das flutuações nas taxas de juros e de câmbio externas, elas também produzem ganhos ou perdas quando os resultados financeiros são diferentes do esperado. A companhia criou ainda uma seguradora cativa para segurar os próprios negócios. Ao ajustar as taxas e os prêmios que cobrarva de si mesma, a despeito do risco envolvido, ela conseguia aperfeiçoar ainda mais sua imagem financeira perante o mundo.

Por último, a companhia oferecia aos seus principais executivos generosos pacotes de remuneração, com altos salários, bônus anuais e opções de compra de ações. (A emissão de opções de ações, vinculada ao desempenho acionário da companhia, eram um forte incentivo para que os executivos reportassem os resultados mais otimistas possíveis.) No período de 1998-2000, por exemplo, seu CEO recebeu 699,1 milhões de dólares por conta de salário, bônus e valorização de suas opções de ações. A companhia oferecia também generosos pacotes de indenização para os executivos que deixavam a empresa, a fim de evitar que eles difundissem uma imagem negativa da corporação, chegando a pagar a um presidente 140 milhões de dólares durante onze meses após seu desligamento. Ela também não contabilizava como despesa as opções de ações que concedia aos executivos, apoiada na teoria de que não se tratava de remunerações, mas de rearranjos da sua estrutura financeira. O custo dessas opções de ações ultrapassou meio bilhão de dólares entre 1995 e 2000. Se a companhia tivesse computado esses desembolsos como remuneração dos executivos, os rendimentos reportados teriam sido significativamente menores.

Essa companhia não era a Enron, a WorldCom ou qualquer uma dessas empresas cujo nome se tornou sinônimo de escândalo financeiro. Era a companhia cujo nome se tornara sinônimo de entretenimento doméstico: a Walt Disney Company. Não há dúvida de que os agentes de Mickey tinham freqüentado a escola de administração" [termina].


olha o vovô mickey mouse aí, gente!

e o autor em seguida diz que "É bem verdade que a Disney não era a única, entre as seis gigantes do entretenimento, a usar esses métodos contábeis pós-industriais", mas aí o assunto já parte para outras direções, e eu paro por aqui.

e termino de ler e continuo não entendendo zulhufas de economia, mas. isso aí não é igualzinho ao tal monstro que estão chamando "crise global", não é uma das cabeças desse bicho de sete(centas)? não é um cantinho pequenino da "grande bolha"? se leis costumassem ser obedecidas, isso tudo aí não transformaria o planeta governado por mr. b.o. em um imenso presídio de guantánamo?

cruzes.