sexta-feira, novembro 23, 2007

o inferno são tim maia?

na recém-lançada biografia "vale tudo - o som e a fúria de tim maia" (objetiva), o companheiro (não-)global nelson motta a alturas tantas nos relata generosamente as incríveis peripécias do protagonista com a editora seroma, que tim pioneiramente montou para administrar seus próprios direitos autorais e composições (se-ro-ma significa "sebastião-rodrigues-maia", ou seja, ele mesmo).

seguem-se trechos curtos dessa passagem, cuja transcrição sei que o autor aprovará, uma vez que o próprio nelson motta se manifesta em favor da livre circulação de textos pela internet e disponibilizou alguns (poucos) capítulos de sua biografia para download gratuito no site oficial da editora. os grifos são meus.

"Tim foi dos primeiros compositores brasileiros a perceber a exploração indecorosa, que enriqueceu muitos editores e levou à miséria muitos compositores. Decidiu tomar providências e criou a Seroma Edições Musicais, não só para editar as suas músicas, mas para também ter os direitos de todas as canções que gravasse: quando escolhia uma música, avisava logo ao compositor que tinha que editá-la na Seroma, do contrário não gravaria.

Se as editoras 'tradicionais' levavam quatro meses para pagar, pode-se imaginar como funcionava, sob a administração de Tim, a contabilidade da Seroma. Em princípio, os critérios de pagamento dos direitos eram imperiais: ele pagava a quem queria, ou por generosidade ou sob pressão, mas sempre pelos seus critérios. (...)

Os pagamentos eram sempre em dinheiro vivo, em montinhos, pacotinhos, distribuídos de acordo com as circunstâncias e o humor de Tim: quem estava precisando mais, quem reclamava mais, quem tinha vacilado, quem tinha ajudado, quem merecia mais ou menos. As distribuições não guardavam muita relação com o sucesso das músicas ou com a vendagem dos discos; muitas vezes um compositor recebia muito mais do que deveria, enquanto outros recebim muito menos por músicas que tocavam mais no rádio e vendiam mais discos. (...)

Como editor musical, Tim prosperava, não tinha quase despesas e, como jamais pagou impostos, tudo era lucro. Ao longo do tempo foi formando uma carteira com dezenas de títulos, entre eles muitos grandes sucessos, que davam ao seu catálogo um valor respeitável no rico mercado editorial. (...)

Se, como editora, a Seroma era uma empresa muito rentável, graças à sua peculiar administração, como gravadora foi um desastre absoluto e deu incalculáveis prejuízos a Tim com seus primeiros lançamentos: os dois LPs do Racional Superior e o obscuro disco em inglês de 1978. Gastou o que tinha e o que não tinha com estúdio, músicos, prensagem e capas, vendeu muito pouco e algumas lojas não pagaram. Mas, com as portas das gravadoras fechadas e o caixa vazio, não lhe restava outro caminho senão fazer seus discos em seu próprio selo: era independência ou morte."

sendo o jimi hendrix de si mesmo, tim maia teria sido também o michael jeffery, o chad chandler, o john hillman, a yameta company limited e o inferno de si mesmo? [obs.: este tópico é uma quase-continuação do anterior, o inferno são jimi hendrix?.]

e o tim maia, nos representou defronte da televisão?, o tim maia fomos nós?