segunda-feira, junho 30, 2008

por favor, pare agora

tem coisa aí na vizinhança, logo mais ali adiante, que tal um pulinho?:

wanderléa & waldemar

quinta-feira, junho 26, 2008

o príncipe, o sapo e a(s) esposa(s)

ontem, no g1, vi uma imagem linda, extraordinária em todos os sentidos: um flagrante desavergonhado do abraço entre fhc e lula no velório de "dona" ruth. cada um dos dois parecia ser amparado pelo outro, mais do que amparar o outro. e parece que só na morte esses abraços acontecem em frente do público, para lá do mito dos partidos "inimigos" que parece tão conveniente que continue implantado nos nossos chips cerebrais. no velório, só dava serra cochichando com marta, lula confabulando com serra etc. e tal.

hoje, procuro nos jornais a imagem, para matar saudades (e já sabendo que deve demorar um tempão pra uma pequena poesia visual daquelas se repetir). e constato que ou a imagem está escondida lá dentro, sem destaque algum ("o globo"), ou ela simplesmente não existe ("folha"). nesse segundo caso, simplesmente censuraram o afeto entre o presidente e o ex-presidente, entre o marido da "dona" ruth e o marido da "dona" marisa. como se esse afeto não existisse. ou como se fosse ofensiva qualquer demonstração de afeto entre eles no espaço, er, "sagrado" da "notícia".

procuro a imagem de lula e fhc agarradinhos nos sites, uol, globo, estado, terra, ig, para quem sabe copiá-la aqui, mas... o abraço não está em lugar nenhum! nem no g1, onde o vi ontem, já não consigo achá-lo mais na enxurrada de novas e velhas fotos. alguém viu um abraço por aí?, alguém pode me entregá-lo, se encontrá-lo?

fico a me perguntar com meus botões: será que eles próprios, fhc e lula, desejam abafar o amasso dado, impensado, acidentado? será que, a não ser no lapso da morte presente no recinto, eles dois preferem nunca transparecer que se gostam, o príncipe e o sapo?

(o príncipe e o sapo... o príncipe É o sapo?)

(e as esposas, as consortes, quem são?, onde estão? lembro-me dos extras do documentário "entreatos", marisa feliz mostrando a lula o que encontrou, a sua - dela - primeira carteira de trabalho, e lula respondendo, cortante: "sabe o que eu preciso, marisa? encontrar a minha carteira de trabalho"...)

mas, de volta aos "noticiosos", a omissão de detalhes não pára por aí. vai lá ver o editorial da "folha" em louvor a "dona ruth", por exemplo. diz assim:

"(...) foi marcante seu papel durante o governo FHC. A criação da Comunidade Solidária -base dos programas de inclusão social em vigor atualmente- foi um dos feitos administrativos mais fecundos daquele período".

alguma mínima palavra de louvor, ou mesmo uma menção que fosse, ao fato de ela ter sido importantíssima para o crescimento do movimento feminino no brasil? nenhuma palavra, nenhuma sílaba, como de resto acontecia quando ela estava viva. "homenageiam" a "dama" usurpando dela a identidade feminista. simples assim, nítido assim.


post scriptum às 17h20 de 26 de junho: pelo blog do luis nassif, encontrei um link para a tal imagem (uma delas), de algum site fora do circuito globofolhabrilestado. aqui está ela, enfim:



p.s. do p.s., às 18h17: e aí vai outra imagem, do jorge araújo/folha imagem. fiquei olhando e observando que ali, no conglomerado vip tucanopetista no entorno do caixão, há apenas duas pessoas cuja tonalidade da pele tende ao negro. uma é marina silva, que outro dia mesmo pediu demissão do cargo de ministra do meio ambiente. a outra é dalina (e sobrenome, ela não tem?), camareira do palácio do alvorada. ambas vieram de carona no avião do sapo (barbudo):

quinta-feira, junho 19, 2008

tem tanto neurônio no cérebro como estrelas no universo...

chego atrasado a esta barca, que já vi ser devidamente destacada no blog da marcia, no blog do tom zé e no blog do luis nassif.

é a entrevista que o neurocientista paulistano miguel nicolelis deu à edição de maio da revista "caros amigos", e que, quando eu li, também achei fenomenal. o cara é mesmo figura, e eu já tive o prazer de vê-lo de pertinho, aqui na redação, porque ele faz lá suas aparições pela "carta capital".

os trechos que mais me bem-impressionaram (além da sensacional frase dele que roubei para título deste tópico) eu copio abaixo, tintim por tintim, e com enorme prazer (e, mais lá no final, me arrisco a dar um ou outro pitaco):

"LÉO ARCOVERDE Quando surgiu a história do Instituto?

Sempre tive a idéia de voltar e fazer alguma coisa no Brasil. Era preciso demonstrar que alguém podia fazer ciência fora e trazer de volta. Comecei a ir para o Nordeste. Tinha a sensação que até o impacto era necessário para demonstrar para o Brasil quão fundamental a ciência é para o desenvolvimento não só econômico, mas principalmente educacional e social - os exemplos da Coréia, Taiwan: o que mudou esses países foi o redirecionamento do processo educacional. Era preciso ir para um lugar onde cientista nenhum iria e provar que o talento científico brasileiro existe em qualquer lugar, no Capão Redondo como em Macaíba. O que não existe é oportunidade para esse talento aflorar. Quer dizer, você não oferece ao potencial humano brasileiro nem o método nem as oportunidades para que o método seja aplicado. Para que as pessoas possam perseguir sua imaginação, porque ciência é isso, é ter uma idéia, achar que vai funcionar e ir atrás. Daí que você vê quem é cientista - não é diploma, não é passar na banca, não é ter título. É o cara que tem uma idéia criativa, aplica métodos rigorosos para testar e que persiste. Noventa por cento da ciência é persistência.

VINÍCIUS SOUTO Como o pessoal de fora enxerga sua experiência no Brasil?

O pessoal está atônito. Quando apresentei o projeto de Natal em Davos, na Suíça, em janeiro, foi curioso. Estava do lado de colunistas, um deles famoso aqui, ouvindo gente falar do Brasil o tempo inteiro, ia no computador na manhã seguinte, abria os jornais de São Paulo e ninguém falava nada. Vi um economista argentino falar bem do Brasil. Chorando, emocionado, 'é um exemplo, é um país que está dando um show'. No dia seguinte, não tinha uma palavra. No meu dia, vou falar sobre um projeto educacional, mostrei: 'A ciência não é só para ser feita em universidade, ficar em prédio fechado, é para se abrir para o mundo'. Tinha acabado de sair uma carta que assinei com o presidente, primeira vez que um presidente e qualquer país assinou um editorial na Scientific American.

MYLTON SEVERIANO Quem? O Lula?

É. Não saiu em lugar nenhum. Estava na capa da maior revista de ciência do mundo, o presidente, o ministro da Educação, se comprometendo a levar o currículo de educação científica infanto-juvenil desenvolvido em Natal para 1 milhão de crianças brasileiras. Mostrei as crianças montando robô, usando telescópio, medindo lua de Júpiter.

MYLTON SEVERIANO Lá em Natal?

Em Macaíba, na periferia de Natal. Foi um choque. Mas só fora daqui saiu nos jornais, saiu na Scientific American, na Science, na Nature, nas grandes revistas do mundo.

ROBERTO MANERA Qual é a parte da grande imprensa nisso?

Ah, omissão. Cheguei à conclusão que hoje no Brasil é difícil falar bem do Brasil. Existe uma cultura de se confundir o país com quem está no governo. E a gente não pode contar boas notícias. É uma coisa meio assustadora, não consigo entender.

MYLTON SEVERIANO Porque o presidente não é doutor?

Pode ser. Mas acho que o buraco é mais embaixo: não podia dar certo. O governo dele tinha de ser o pior da história do Brasil. E se você analisar os fatos friamente e objetivamente, não é. Se você passar duas semanas no interior do Rio Grande do Norte, da Paraíba, é outro Brasil. A gente respira aquele país que, quando eu era criança, me diziam que nunca seria possívl de fazer. [Nesse momento Nicolelis chora] E é chocante, você só consegue falar sobre isso fora daqui. O Brasil, de certa maneira, carrega hoje a responsabilidade de ser uma das poucas boas esperanças do mundo. De preservar seu ambiente, construir um país honesto, que cresça não à custa de outro, mas à custa do seu próprio trabalho, um país que tem uma democracia explodindo, não? Eu coloquei na minha porta na Universidade de Duke: 95 milhões de votos contados em quatro horas. Qualquer semelhança é pura coincidência. Eu me tornei mais brasileiro vivendo fora daqui. E acho inconcebível que nossas crianças cresçam sem apreciar a diferença entre patriotismo barato e verdadeiro amor pelo Brasil. Têm direito ao acesso à informação legítima, honesta e limpa. Para saber que país é, quais são os problemas, mas quais são as maravilhas do Brasil... [chora novamente]. Tem duas piadas que me deixam possesso. Uma é quando alguém fala, aqui, que 'isto é coisa de primeiro mundo'. Que primeiro mundo? E a segunda é que 'Deus criou esse maravilhoso país, mas deixa ver o povinho que vou pôr lá'. É o ranço do coronelismo. É inserir no genoma nacional o complexo de inferioridade. O Santos Dumont não pensou que não era do primeiro mundo quando voou, não pensou no 'povinho', ele foi e fez. E acho que o que nós não sabemos é que existem milhões de outros Brasil que estão se fazendo está lá em Resende, em Lages, no Seridó, no sertão da Paraíba, em Soares, em lugares que a gente nem considera como parte da gente. E aqui nós não apreciamos isso.

THIAGO DOMENICI Quando você mostrou o projeto ao Lula?

Foi genial. Estávamos no meu escritório, na minha casa, assistindo televisão, na Carolina do Norte. Vejo o discurso de vitória de um cara que conheci rapidamente, que veio da miséria e virou presidente do Brasil, e está anunciando que quer construir outro país. Virei pro Sidarta, cientista meu amigo: 'É agora'. Escrevemos, fizemos contato. Em 2002. Vim em março de 2003 e fui me encontrar com ele em 2004. Declarei a intenção de criar o projeto no lugar em que cientista nenhum iria, e se funcionasse em Macaíba iria funcionar em qualquer lugar. Trouxe quarenta neurocientistas do mundo inteiro para Natal, para o simpósio que inaugurou a idéia, em fevereiro de 2004. Recebi um convite para ir ver o presidente. Foi emocionante, tinha dado carona para ele uma vez, no sindicato dos médicos, quer dizer, um cara que contei piada do Palmeiras e do Corinthians era presidente da República. E ele mandou todo o mundo sair da sala, me deu um abraço e disse: 'Vai em frente que eu estou aqui'. [Chora novamente.] E nós fomos em frente.

MYLTON SEVERIANO Governo federal, estadual e municipal, você tem apoio?

O maior apoio foi do governo federal, mas o mais relevante é que a gente não só conseguiu construir isso, como conseguimos pegar mil crianças da rede pública, de escolas que as pessoas não davam esperança alguma, colocar em um ambiente de laboratório, de liberdade, de criatividade e mostrar para elas que o céu era o limite. E quando vim falar com certas pessoas aqui em São Paulo, falaram: 'Não vai sair nada'.

THIAGO DOMENICI Pessoas do governo?

Não, cientistas: 'Você está louco, não tem massa crítica, não vai sair do lugar', e hoje você vê criança que antes queria ser jogador de futebol dizer que quer ser químico. Estão montando robô, outro programando chip aos 12 anos.

VINÍCIUS SOUTO Quais as principais características?

O projeto tem um centro de pesquisa onde começamos a trazer brasileiros que estavam fora, neurocientistas, como o Sidarta. Jovens que estavam fora ou pelo Brasil sem conseguir penetrar no sistema acadêmico público, levamos pra lá e o núcleo Coração, um centro de pesquisa ligado com centros de ponta do mundo inteiro. Em volta criamos o projeto educacional, e criamos um centro de saúde de atendimento à mulher e à criança, para gestação de alto risco; câncer da mulher; e problemas de neuropediatria. Agora estamos construindo um Campus do Cérebro, para 5 mil crianças, tempo integral, é essa que vai começar desde a gravidez, o Instituto propriamente dito, e vamos começar ações de integração com a comunidade. Queremos criar um pólo de desenvolvimento industrial, tecnológico, biotecnologia, porque o semi-árido é o único bioma naturalmente brasileiro, ninguém tem algo como a caatinga, e nós não devotamos nem em prosa, nem em verso, nem em orçamento o suficiente para estudar isso. Precisa ir lá, tirar foto, conversar com o povo, isso ninguém quer fazer porque dá trabalho".


bem, acho que nem preciso dizer que, em todas as vezes que ele chorou, eu chorei junto, preciso? cacilda, que oásis poder ler, de vez em quando, algum material jornalístico que não se restrinja e se limite a reclamar, reclamar, reclamar, reclamar... lembra a hiena hardy, de hanna-barbera? pois é.

e essa história da censura às boas notícias, sobre a qual ele tem dados a valer, hein? como é que pode os colunistas "famosos" (alô, clóvis rossi... graças a deus consegui finalmente me des-viciar, e já nem mais aperto o clique quando vejo seu nome piscando na "folha" virtual) irem a davos, colherem notícias (e "notícias") boas e más, e elegerem trazer para cá só as ruins? isso não seria alguma espécie de crime, não?...

e que coisa mais bonita a distinção que ele faz entre "patriotismo barato" e "verdadeiro amor pelo Brasil", não? por que não cultivar o amor pelo brasil fora das horas verdes de copa do mundo?, por quê?, para que nossas crianças cresçam somente futebolistas, jamais neurocirurgiãs? por que tamanha auto-sabotagem, da boca da imprensa para fora? e quem ainda agüenta aquelas frases que começam por "só mesmo no brasil..." e invariavelmente terminam num muxoxo?, e quem ainda suporta as fobias o álvaro pereira jr., as cusparadas da lúcia hippolito, o vomitório do arnaldo jabor?

e que beleza a caatinga compreendida não como desgraça e miséria, mas como idiossincrasia, privilégio e originalidade nossa, só nossa, hein?

ah, sei lá, acho que já estou falando demais, nem precisa, o nicolelis fala por si. e eu, oba!, quero morar no mesmo brasil em que ele mora!

p.s.: já baixou no outro blog, no "ruído", uma entrevista bacanuda com o marcos valle. dá um espião lá.

quarta-feira, junho 11, 2008

espinho não machuca a flor?

e, aqui, a entrevista editada (não a versão integral, que está aqui, no ruído) com o cantor, como publicada na "carta capital" 499 (11 de junho de 2008). o compositor me disse que...


A FLOR E O ESPINHO
Com novo disco, Gilberto Gil fala do retorno à composição, do futuro no ministério e da morte. E nega estar com câncer

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Morte, dor, horror, terror, fel, narcomarginais, molestadores sexuais, buraco negro, o oco do mundo. São alguns dos motes adotados pelo ministro da Cultura do Brasil ao retomar a trajetória de músico após 11 anos sem apresentar um disco individual de composições inéditas. Banda Larga Cordel chega antecedido por boatos recorrentes de que Gilberto Gil estaria com câncer na garganta. Ele nega os boatos, diz que retirou pólipos benignos da corda vocal e está em franca recuperação. Mas, em entrevista à CartaCapital, o tema espinhoso suscitou reflexões e revelações do ministro-cantor sobre a finitude da vida, o medo da morte e os problemas de saúde que ameaçam limitar uma de suas ferramentas essenciais de trabalho e prazer, a voz.

À reconquista da música em disco e shows, corresponde um distanciamento do Ministério da Cultura (MinC). Prestes a sair em licença e férias para uma turnê de quase dois meses por Europa e Estados Unidos, ele admite viver um "afastamento progressivo" da função governamental ocupada desde o início de 2003 e que, diz, o fez aperfeiçoar a "capacidade de engolir veneno".

Banda Larga Cordel sairá no formato tradicional de CD em meados de junho, poucos dias antes de Gil completar 66 anos. Mas já está disponível para audição na íntegra na internet (em http://www.bandalargacordel.com.br/). Na entrevista, o cantor-ministro lamenta a falta de tempo e fala sobre o espírito briguento mais aguçado e a reconciliação do compositor com a musa inspiradora.

CartaCapital: O senhor tem dito que se reconciliou com a musa. Isso significa que estava brigado com ela?

Gilberto Gil: Não, eu só disse "fique quieta, não tenho tempo agora, não posso, não me futuque". Então, pronto, ficava quieta. Eu não dava nenhuma atenção a ela durante os primeiros quatro anos no ministério. Se fosse dar ia ficar complicado, porque ela é exigente, você tem que dedicar a alma, o tempo, o corpo. Eu não tinha tempo. Depois, as coisas do ministério estavam andando, a gente já tinha se acostumado com a rotina, muito da demanda excessiva do início tinha passado. Já dava para flertar de novo com a inspiração. E aí, pronto, passei a escrever nas viagens, nos hotéis. Passei também a escrever as letras diretamente no computador, coisa que não fazia antes. Isso também facilitou, porque em todo lugar, no avião, nos intervalos de qualquer atividade eu tinha acesso ao computador e aí podia ir processando, copy-paste, ia montando.

Não Tenho Medo da Morte foi assim. Estava em Sevilha e levantei um dia, 8 horas da manhã, com aquela recorrência do tema da morte, que é um tema que tem estado, aqui e ali, no meu trabalho. Fiquei refletindo um pouco sobre essa coisa corriqueira que é o medo da morte. Estava defronte do computador, disse: "Ah, deixa eu ir no Word para registrar esse momento de reflexão sobre a morte que estou tendo aqui". E comecei, não tenho medo da morte/ mas, sim, medo de morrer.

CC: (Toca o celular, é uma assessora do MinC, com quem ele negocia por vários minutos.) Já que a política o chamou, pergunto se, considerando as novas músicas, o senhor diria que a experiência política modificou sua música?

GG: Não. O desejo de me comunicar pela canção é informado pelos mesmos elementos de antes. A dimensão política sempre esteve na minha geração toda, e em mim também, muito fortemente. Continua, nas gerações de hoje, nos rappers. Algumas questões que coincidentemente estão na agenda do MinC, como a cultura digital, acabaram passando também. A canção Banda Larga Cordel é bem marcada por essa informação da política, de uns aspectos da política do ministério. Acho que eu teria ido para esse caminho mesmo sem o ministério, mas, sem dúvida, essa canção compartilha um impulso que está na política do MinC, e do governo todo, que é a preocupação com o acesso aos meios eletrônicos, o software livre, várias políticas.

CC: Não sei se tem a ver com a experiência política, mas sinto uma disposição maior de lidar com temas espinhosos, "narcomarginais", "orientação sexual", a morte...

GG: Não sei. Talvez. Não é consciente. É... Talvez o fato de eu ter tido que comprar algumas brigas no ministério... Talvez essa disposição tenha preparado o terreno para uma receptividade menos acanhada, menos duvidosa, a temas espinhosos. Eu não tinha me atido a essa análise, mas é pertinente. É possível, sim, que ter de discutir regulação e normas tenha estimulado um apetite por temas polêmicos.

CC: Parece que não só o senhor, mas os tropicalistas de modo geral, como Caetano Veloso e Rita Lee, têm mostrado um espírito mais exaltado e áspero ultimamente.

GG: Sim, o disco , do Caetano, é muito nessa direção. Isso é um pouco a autorização geral que a arte contemporânea dá, não é? Tudo que nos momentos anteriores era ousadia, vanguardista, antecipação para além do seu tempo, coisas assim, hoje não é. É quase como se a gente estivesse dizendo: olha, também estou aqui, não se esqueçam de mim, eu também compartilho essa hiperexposição, essa tranqüilidade em tratar das coisas ásperas. Os rappers e os meninos fazem as coisas do jeito deles, mas a gente também faz (ri), a gente também está vendo. A gente acompanha o funk, o rap, e vê que os meninos querem poder falar abertamente de tudo. E a gente reivindica nossa contemporaneidade também.

CC: Na letra de Olho Mágico, o senhor fala sobre vasculhar seu armário, num momento histórico em que o Brasil tem saído de vários armários. O texto do caderno do Plano Nacional de Cultura, por exemplo, aborda várias identidades discriminadas, de indígenas, afrobrasileiros, circenses. E o senhor ministro, de quais armários tem saído?

GG: (Ri.) É... Bom... É meio pleonástico falar de sair de algum armário agora, porque essa tem sido sempre a nossa disposição. A gente sempre quis trabalhar assim, no campo da transparência, do exibicionismo nudista (ri).

CC: Uma maior identidade negra, talvez? Na regravação de Formosa há um suingue negro a mais que no original de Baden Powell e Vinicius de Moraes.

GG: A maturidade do artista vai dando a ele capacidade de liberar... Até acho que nesse disco sou muito contido do ponto de vista da capacidade de improvisar mais efusivamente, um pouco inibida por causa da minha voz. A abordagem é cuidadosa ainda em relação à questão vocal, estou saindo de um período difícil da minha voz. Eu era muito abusivo em relação a ela, em relação à qualidade, à matéria voz. Ao mesmo tempo, os impulsos que levavam àqueles abusos eram muito criativos. Eu usava muito a voz criativamente, com ruídos, gritos, falsetes extremados.

CC: O uso do falsete, que é muito característico seu, era abusivo? Os médicos falaram isso?

GG: Era abusivo. Os médicos me proibiram, praticamente. Há dois meses, fiz uma temporada nos Sescs do interior, e foi exatamente logo após a cirurgia na corda vocal, o período de resguardo, os alertas dos médicos. E eu ousei muito, gritei muito lá.

CC: Desobedecendo os médicos?

GG: Propositadamente (ri), também para ver o que é que é, se essa voz... se isso acabou, se tenho de arquivar completamente esse lado (cantarola A Novidade, fazendo o falsete).

CC: Não faça, por favor!

GG: (Continua, e ri.) Esse lado meu é ao mesmo tempo estranhado, mas festejado pelas pessoas. Sou muito saudado na rua com esse grito. É uma marca.

CC: É como um grito de guerra, e justamente ele ficou afetado?

GG: É, como um grito de guerra. Ficou afetado por essa perda de qualidade vocal. Então estou com muito cuidado para ver se isso se restaura inteiramente ou não.

CC: É constrangedor citar isso, mas numa redação chegam boatos a toda hora, alguns de que o senhor estava com câncer na garganta. Não é verdade?

GG: Não. Não tem, não teve. Já há dez anos eu tinha feito uma intervenção cirúrgica, a mesma cirurgia na mesma corda vocal. Naquela ocasião fizeram a biópsia do pólipo que foi extraído, e era benigno. E agora, de novo, também era benigno. Para além da dificuldade para o uso da corda vocal, não estou doente. E, além do mais, tem a questão da idade. Não sou mais tão jovem. As cordas vocais são músculos, e todos os músculos estão mais flácidos, exigem exercícios mais cuidadosos, mais focados. É o que tenho feito, fonoterapia, todos os dias, religiosamente. Hoje já fiz, faço em casa mesmo, sozinho, e volto ao fonoterapeuta a cada dois meses.

CC: O senhor fere um de seus principais instrumentos de trabalho, quando o acaricia?

GG: É isso. Outro dia um amigo meu disse: "Não se preocupe muito com essa coisa da sua voz, não. A voz mais rouca, mais suja, é sinônimo de maturidade" (ri). Eu disse: "Está bom". Estou pronto também para a voz ir ficando mais suja. Vamos ver onde ela quer ir, onde quer me levar.

CC: Não Tenho Medo da Morte é muito forte...

GG: Aí é mesmo a maturidade, o senso da finitude que se torna mais exigente com a idade. Os jovens não trabalham muito com essa questão... O jovem descarta a questão da finitude, como se flertasse um pouco com a possibilidade do eterno. Mas a questão da morte, da finitude, dá a liberação para o presente, né? Você diz "só tem o aqui e agora, então vamos lá, vamos fundo". Mas, olha, sem dúvida alguma esses cinco anos de ministério me deram uma têmpera que eu não imaginava que podia ter. Um estômago, uma capacidade de engolir veneno (ri). Aquilo ali é espinhoso, estar ali é espinhoso. Os meus melhores amigos não me desejavam isso. Todos eles, ao contrário, queriam muito que eu não fosse para lá.

CC: É uma maldição da política, como se todo mundo que está ali fosse ruim?

GG: É isso. Como se necessariamente estar ali significasse a anulação absoluta de qualquer positividade. Não é assim.

CC: O senhor comprovou que não é assim? Ou que é assim?

GG: É assim, mas não é assim. Aquilo está nas suas mãos. A política também tem de ser uma arte, você tem de fazer daquilo ali alguma coisa.

CC: Outro boato recorrente é sobre se sai ou não sai do MinC. A missão está cumprida?

GG: Estou cumprindo. Quando decidi ficar, em dezembro do ano passado, eu disse ao presidente que só voltaria a conversar com ele sobre isso no ano que vem. Quando ele se reelegeu, eu já tinha decidido ficar por um ano mais. Fiquei o primeiro ano do segundo mandato e aí fiquei o segundo. Vamos ver.

CC: Mas a impressão é de que há um afastamento progressivo.

GG: Sim, sem dúvida. Eu preciso disso.

CC: E Juca Ferreira está assumindo as atribuições?

GG: Está lá, fazendo, trabalhando. Há processos que começam a se automatizar, a se autonomizar, a caminhar sozinhos. Mas eu, sem dúvida, estou caminhando para uma coisa de, seja lá quando for, deixar o ministério. Vai ter de deixar uma hora (ri), e pronto. E a idéia é deixá-lo bem, pronto, preparado.

CC: No começo eram freqüentes comentários de que Gil no ministério era a "rainha da Inglaterra". Isso diminuiu, mas outros ministros não poderiam fazer essa mesma transição sem fortes críticas. Não é um precedente perigoso?

GG: Isso foi sendo autorizado aos poucos. São as características de cada ministério. O da Cultura por natureza é mais permeável a esse tipo de ousadia. Tanto é que no mundo todas as pessoas apreciam essa dupla presença. Mesmo aqui, foi cada vez ficando mais. Agora é muito explícito, muitas pessoas manifestam uma admiração pelo modo exitoso com que a gente processou essa simbiose.


e, em seguida, eu "disse" ao compositor, em ligeira intervenção "crítica" (já ouviu o "disco", na internet?), que...


SANGUE, SUOR E ALEGRIA Em Banda Larga Cordel, o fino equilíbrio entre as canções sobre dor e horror e os temas mais leves e bem-humorados

Pode ser a reflexão sobre a morte, a rispidez da política, as brigas compradas no governo, a oratória adquirida como ministro, ou tudo isso junto e misturado, mas fato é que Banda Larga Cordel apanha Gilberto Gil com o discurso mais aguçado que nunca. O disco contém 16 músicas, várias delas de letras caudalosas e dilatadas, repletas de duplos sentidos, observações rascantes, mansas ironias, reflexões e recados.

Um ápice de transparência e nudez acontece em Não Tenho Medo da Morte, o reverso de Se Eu Quiser Falar com Deus (1981), que no clímax oferece versos assim: Não tenho medo da morte/ mas medo de morrer, sim/ a morte é depois de mim/ mas quem vai morrer sou eu/ derradeiro ato meu/ e eu terei de estar presente/ assim como um presidente/ dando posse ao sucessor/ terei de morrer vivendo, hein,/ sabendo que já me vou. À inspiração poética, corresponde idêntica agudez musical, num arranjo emotivo de cordas como poucos criados por ele em mais de quatro décadas de música.

Se Não Tenho Medo da Morte trata do tema-tabu com delicadeza, mais áspera e direta é O Oco do Mundo, na qual Gil experimenta com música eletrônica. Diz a letra repleta de cruéis engenhosidades: O oco do mundo então/ já no meu interior/ pedaço de pau na mão/ fazendo de mim tambor/ batendo, tirando som/ o sangue, suor e horror/ o oco do mundo então/ encarnação do terror.

Tais exemplos não significam que estejamos diante de um trabalho amargo ou mal-humorado. São abundantes as canções balançadas, alegres, leves (e apimentadas), como o xote Despedida de Solteira, o reggae Os Pais (de letra séria, entretanto, os pais, os pais/ estão preocupados demais/ com medo que seus filhos caiam nas mãos dos narcomarginais/ ou então nas mãos dos molestadores sexuais/ e no entanto, ao mesmo tempo, são a favor das liberdades atuais) e um bom número de sambas.

A preocupação política também aparece aguçada, mas pertence ao território da leveza, como na extensa e divertida faixa-título ou, política da música, em Máquina de Ritmo, um manifesto em prol da constante modernização do samba. O espírito misturador do caldeirão tropicalista prevalece, em ijexás, forrós, souls, bossas e fossas. Mas, desta vez, a aspereza tropicalista parece sair do armário de modo inédito. E, em conseqüência, há espaço equânime para a flor e o espinho. – PAS

quinta-feira, junho 05, 2008

o caminho para yáconis

até pouco tempo atrás, cleyde yáconis, que tem 84 anos, vinha de jordanésia para fazer teatro na capital dirigindo, ela mesma, seu fusquinha. como não tenho fotos do fusca da cleyde, seguem aí umas outras imagens, em caráter extraordinários, registradas pela sensacional olga vlahou durante a entrevista.


é da "carta capital" 493, de 30 de abril de 2008. ah, e para quem é cá de são paulo e não adere àquela generalização estúpida do "eu odeio teatro", mas se assustou com o jabaquara, diz que a peça já reestreou, agora bem no centro-umbigo dos jardins-redomas paulistanos, no teatro renaissance. aaah, agora sim, né?


CONECTADA AO TABLADO
Aos 84 anos, a atriz Cleyde Yáconis mantém relação vital com o teatro

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Cleyde Yáconis entra no palco pela coxia. Destoante do cenário solene que a rodeia, está de jeans, camiseta e tamanquinho de salto. Diferente do teatro vazio na tarde de ensaio, está plenamente vivaz, participativa, atenta a tudo. "Quem é?", pergunta, enquanto mira com a mão em concha acima dos olhos o repórter que tenta se fazer invisível numa cadeira lateral.

Yáconis tem hoje 84 anos, e é atriz desde 1950, quando estreou quase sem querer no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em que brilhava sua irmã mais velha, Cacilda Becker (1921-1969). Acaba de estrear a quarta peça seguida desde 2003, num movimento de entrega quase ininterrupta ao teatro.

Como tem sido regra nesses anos, vocaliza assuntos profundos e delicados em O Caminho para Meca, do sul-africano Athol Fugard. Desta vez, interpreta uma personagem real, a escultora sul-africana Helen Elizabeth Martins, no momento da decisão crucial de partir ou não para um asilo, após um incidente em que uma vela derrubada quase ateou fogo à casa onde vive solitária e cria suas peças de arte.

Ela desaparece pela coxia. Poucos minutos depois, volta, já com o figurino da personagem, ao palco onde se movimentam equipe técnica, a diretora Yara de Novaes e os outros dois atores, Lúcia Romano e Cacá Amaral. Senta-se numa cadeira ao fundo da cena, cruza as mãos no colo, abaixa a cabeça, fecha os olhos. Uma semana mais tarde, ela chegará elogiando a pontualidade do repórter e explicará o ritual, em entrevista naquele mesmo palco, naquela mesma cadeira: "Eu me concentro e rezo. Rezo muito, sou rezadeira".

Ela sublinha que nos trabalhos recentes tem encarnado mulheres intensas (toxicômanas, "loucas", suicidas), todas acima dos 70 anos. "Nesta de agora, há a discussão da idade, da morte, do fim da vida, num momento terrível que o teatro sofre, de grandes perdas. Faço a Helen, mas penso no Paulo", afirma, os olhos úmidos de quase-lágrimas. Refere-se a Paulo Autran (1922-2007), colega desde o TBC.

Helen, a personagem, titubeia entre o movimento e a paralisia, entre manter as velas acesas e deixá-las se apagarem pouco a pouco. Mas o que há de Autran em Helen? "Ele partiu de uma forma maravilhosa. Helen diz que, se conseguisse superar as dificuldades, ela seria um mestre. Paulo foi um mestre, ele atingiu sua Meca. É invejável a partida dele."

Na tarde de ensaio, Cleyde Yáconis repete uma das cenas finais até perto das cinco horas da tarde, diz que não se sente muito bem e pede uma pausa para o lanche, uma salada de frutas. Todos ao redor tratam-na com reverência e cuidados mil, mas sem hierarquias ou submissões.

Recém-inagurado, o Teatro Cosipa Cultura fica fora do circuito central paulistano, no bairro do Jabaquara, e às sextas-feiras inicia sessão no horário pouco usual das sete e meia da noite. Poucos ousariam tais excentricidades num ambiente algo estrangulado ("espetáculo só de sexta e sábado é preocupante, quando comecei fazíamos dez sessões por semana"). Cleyde Yáconis é dos que ousam. Mais de uma vez, manifesta preocupação com os dados da bilheteria da noite que chega. "Morro de pavor, tenho pânico. Dez minutos antes de começar o espetáculo é uma coisa inexplicável, um pânico."

A diretora confirma a fala da atriz, ao descrevê-la: "Ela tem uma relação vital, passional, com o teatro. É a primeira a decorar o texto, põe os outros no chinelo. Chega a ser engraçado como fica aflita, tensa e nervosa na hora de entrar em cena. É até juvenil, nesse sentido".

Autoproclamada "operária", ela também parece viver à procura incansável de sua Meca pessoal. Se mantiver a rotina que cultiva hoje, deverá permanecer sempre no palco, como fizeram Autran e, de outra maneira, Cacilda. A irmã morreu aos 48 anos, em decorrência de um derrame sofrido no palco, enquanto encenava Esperando Godot. E ainda vive, na saudade ("até hoje sonho com Cacilda") e em fotos que ocupam várias paredes na casa da Cleyde Yáconis, com outras da mãe e da irmã Dirce, família que ela define como um autêntico e amoroso matriarcado.

Mas não promete fidelidade eterna ao teatro. "Na hora em que parar de fazer, o que vou ter é um asilo de cachorros", promete, entre um e outro elogio aos bichos e às plantas de que cuida com paixão.

Tem três poodles, Bel, Morena e Pipoca, filhas de Felipe, que morreu em janeiro, aos 13 anos. "Eu tinha perdido minha cadelinha, que se chamava Flor, Dona Flor. Não queria macho, mas ele me conquistou." Amorosa, mostra a foto do Felipe, faz gracejos, beija-a repetidas vezes.

"Fico abalada quando maltratam bicho, criança e velho. É uma coisa que me faz um mal, essa dependência de criança, velho e bicho", afirma, como a explicar a própria auto-suficiência que porta como "um defeito", uma "autodefesa". "É que a levo um pouco ao extremo. Recuso ajuda para carregar sacola." Hoje conta com um motorista, mas até há pouco viajava de carro desde Jordanésia (a 40 quilômetros de São Paulo) para cada sessão, e vencia a Dutra ao volante quando de temporadas cariocas.

Em defesa da auto-suficiência, formula um discurso contumaz contra cigarros, drogas, álcool. "Não sei que vantagem tem cheirar para produzir. Você tem que criar com seu sangue, seus nervos. 'Ah, dá uma fumadinha de maconha que você viaja', e eu lá quero? Quero eu mesma voar, mas com a minha asa, a minha, a minha."

Cultiva com voracidade a magreza e o peso mantido nos últimos 60 anos. "Gente com apetite e um bom prato do meu lado me deixa irritada", diz, às gargalhadas. "Comer gordura, carne, sangue (faz careta de nojo)? Gosto de massa, fruta."


Faz auto-ironia ao afirmar que é por ser econômica em tudo que se conserva com tamanha vivacidade. Faz ginástica, alongamento, musculação. "A energia diminui, sim, com a idade. Você se cansa mais rapidamente. Ganha dores misteriosas, no joelho, nas costas. Mas, se souber superar... As coisas que você perde são materiais, e ganha muitas outras, espirituais." Quais? "Perseverança. Complacência. Paciência. Hoje, se você chegasse atrasado, eu não o receberia mal-humorada. Há 30 anos, sim. Ou nem o receberia", explica, entre ameaçadora e brincalhona.

Ao se transportar ao dilema da personagem, de abandonar ou não a própria casa, constrói um elogio apaixonado à rotina, a mesma que a incita a voltar noite após noite ao teatro. "Para mim seria a morte, eu preciso da minha casa. Acho a rotina maravilhosa. Gente que muda, muda, muda tem a rotina de mudar, mudar, mudar. O problema não é da rotina. É seu, da sua falta de capacidade de saborear as mesmas coisas."

Não é que ela não saiba apreciar os sobressaltos incrustados dentro da rotina. "No teatro, a platéia é diferente a cada dia. O público não faz idéia o quanto a gente precisa dele. Uma pessoa azeda pode azedar tudo. O azedo estraga a platéia, contamina. Se vem aquele público quente, amoroso, de coração aberto, você reconhece na hora, joga com ele. Quando coincide um público sensível e um espetáculo sensível, acontece o fenômeno."

Não acontece todo dia, admite. Mas a procura de mais essa Meca a mantém de barriga gelada e de olhos brilhantes pelo teatro. Ao encerrar a entrevista em cravada meia hora, desce do palco pela frente, pela escadinha que vai dar na platéia. E seduz a atenção do repórter mais uma vez: "Antigamente eu desceria com facilidade, agora tenho de me apoiar na parede. Algum drama nisso?" Nenhum, pensa o repórter, grato por aprender com ela como pode ser bom ter 84 anos. O público e a crítica têm aplaudido com gosto O Caminho para Meca. Mas o que a platéia reserva a ela nessa noite permanecerá, até a hora H, um completo mistério.