quinta-feira, janeiro 29, 2009

então você não entende da vida

n'"o pasquim" 155, semana 20-26 de junho de 1972, entrevista com waldick soriano (& meus grifos):

"ODILLO LICETTI - Sua primeira mulher morreu dois meses depois do casamento. Conta como foi que você a conheceu. Foi amor grande, morreu como?

WALDICK - É bacana essa pergunta. Essa é a pergunta que eu gostei mais, porque eu quero que vocês botem no jornal em letras garrafais a minha resposta dessa pergunta, para exemplo de muitas pessoas frustradas que existem por aí. Conheci minha primeira esposa numa boate, em Belém do Pará, mas ela era baiana. Era uma mulher de vida livre, prostituta. Gostei dela e acabamos nos apaixonando um pelo outro e tal. Vivemos juntos uns tempos. Depois um dia cheguei na casa do meu irmão lá na Bahia - levei ela lá pra eles se conhecerem. Interior você conhece muito bem, né? Aquele negócio de amigado não dá pé, entende? E meu irmão disse: 'Essa é a mulher que você gosta?'. Eu falei: 'É'. 'Por que você não casa?' Eu falei: 'Ô, rapaz, esse negócio de casamento não dá pé não, sabe?'. Ele disse: 'Não, você deve casar, porque...'. Meu irmão é maçom, aquele negócio, né? Aí eu falei: 'Olha, só se você for lá no cartório e ajeitar tudo; trazer o pessoal aqui em casa. Aí eu caso'. Aí ele disse: 'É pra já'. Eu sei que foi na véspera de São João. Trouxe todo mundo em casa, terminou me casando. Foi um casamento muito bonito. Meu pai ao lado, meu irmão, minha família. Ela era adorada pela minha família. Depois de dois meses e cinco dias de casada ela morreu".

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fala-se tanto sobre "qualidade musical". mas seriam a liberdade e a transparência que ele exibe na resposta suportáveis aos preconceitos, desculpe, aos "valores" da "nossa" classe média e da "nossa" classe "rica" (como jaguar se autodefinirá no outro trecho que segue abaixo)? não estaria aí o muro de berlim?
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"JAGUAR -Como é que você resolvia a sua vida sexual no garimpo?

WALDICK - Ah, você já imaginou, né? (dá uma cutucada no Jaguar) Hein?

JAGUAR - Não, não...

WALDICK - Não o quê, rapaz. Você também já passou por essa... (risadas gerais)

JAGUAR - Eu!? Eu nunca estive num garimpo, rapaz. Eu sempre morei em Ipanema, no meio do mulherio.

WALDICK - Você sempre viveu rico?

JAGUAR - Sempre.

WALDICK - Ah, então você não entende da vida".

leny eversong

ontem estava assistindo aqui ao dvd triplo "elvis - the ed sullivan shows", para escrever um comentário na "carta capital". está saindo no brasil pela coqueiro verde (gravadora que tem entre os proprietários leo esteves, filho do erasmo carlos), e é a reprodução integral dos três programas televisivos do (horrendo) sullivan de que elvis participou, entre dezembro de 1956 e janeiro de 1957 (mas, espera, deixa essa para a revista, amanhã nas bancas).

o que ocorre é que eu estava assistindo e reparei, assim bem distraído, que, entre os ventríloquos, malabaristas, cães amestrados, o jovem elvis e outras atrações, a certa altura aparece uma cantora loura, rechonchuda, sorridente, de vestido longuíssimo, que me fez pensar (muito distraidamente, repito) na santista leny eversong (1920-1984).

pois não é que aquela era a leny eversong?!, participando do mesmíssimo programa em que a tradicional família estadunidense era "poupada" dos quadris furibundos e indecentes (ou devo dizer sexies?) do presley, graças a uma câmera pudica que só o filmou do umbigo para cima??!

aí fui ver de novo, e sabe como o "experientíssimo" sullivan apresentava a eversong (cujo nome real era, vejo aqui na enciclopédia, hilda campos soares da silva)? mais ou menos assim: "o povo mais alegre do mundo, pela minha experiência, é o brasileiro. e hoje, em nosso show, fazendo sua estréia na televisão americana, temos uma grande cantora brasileira. ela vem de são paulo e se chama leny eversong".

e entrava ela, cantando "el cubanchero" (em espanhol) e "jezebel" (em inglês), dramática, operística, boleruda, gritona, de gestos abertos e exagerados qual uma elis regina, hélice regina, no helicóptero de "arrastão" (mas quase uma década antes, a leny).

que coisa.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

orchestra klaxon

eu pouco sei sobre ricardo queiroz, além do pouco que ele próprio me contou por e-mail - que não é jornalista por formação (é bibliotecário), mas tem "o vírus da informação nas veias", por exemplo.

não sei nem em que lugar do planeta ele vive, mas "ouço" os comentários que vez por outra ele faz aqui no blog, e também visitei seu blog klaxonsbc - ambos, me parece, são sóbrios, inteligentes e profissionais.

esse cara me dirigiu algumas palavras elogiosas, e disse que discorda às vezes do meu trabalho, e pediu que eu respondesse algumas perguntas para o klaxonsbc. enrolei ele por uns tempos, enrolado que sou, mas, pronto, está aí o resultado:

entrevista com pedro alexandre sanches

e é por essas & outras que este aqui é um (cyber)lugar maravilhoso - posso estar equivocado, mas acredito que nada disso aconteceria noutro sistema de comunicação.

obrigado, compadre klaxon!

segunda-feira, janeiro 26, 2009

me conte uma história, lady laura

comecei a ler, ao mesmo tempo, dois livros sobre o lado de dentro da indústria musical lá de fora, ambos lançados em 2008 no brasil.

um é "gravando!" (ed. guarda-chuva), que revisa a vida profissional de phil ramone, produtor de discos de gente como frank sinatra, barbra streisand, bob dylan, paul simon, billy joel etc. e tal.

outro é uma reedição de "minha vida dentro e fora do rock" (ed. barracuda), espécie de biografia do produtor de shows bill graham, contada em primeira pessoa por ele próprio e por outros personagens. graham esteve por trás de shows de janis joplin, crosby, stills, nash & young, bob dylan, santana etc. etc. etc., e morreu em 1991.

estar diante deles me remeteu de imediato a dois equivalentes brasileiros lançados há não muito tempo, o do executivo de gravadoras andré midani e o do produtor musical marco mazzola. "música, ídolos e poder" (ed. nova fronteira), de midani, e "ouvindo estrelas" (ed. planeta), de mazzola.

folheá-los me fez lembrar de diversas (nem uma, nem duas, nem três) críticas aos exemplares nacionais que tenho lido (ou ouvido) por parte de jornalistas (e amigos), quase sempre num mesmo tom desagradado e lamurioso, seja porque a leitura foi decepcionante, ou porque "não contam nada", ou porque "não são nada", muitos etcs.

não sou diferente dos outros jornalistas (e amigos): também tenho lá meus desapontamentos e até compartilho algumas das críticas reclamosas. ainda assim, tal paixão pelo muro das lamentações me soa como típico caso de tiro pela culatra, tiro no pé, tiro ao álvaro. cuspe na testa.

porque os decretos peremptórios sobre a (suposta) inutilidade deste ou daquele memorial deste ou daquele figurão têm fachada audaz, valente, aguerrida. certos criticadores parecem sabedores de "todos" os "defeitos" impressos nas páginas dos pobres meninos ricos que tiveram a petulância de escrever sobre... eles mesmos.

na minha opinião, miram no que enxergam e abatem o pato que não vêem, ops, veem.

porque olhe só os congêneres. embora mais grossos e caudalosos que os "nossos", os livros de ramone e graham pertencem a uma tradição já consolidada noutras terras - a de que cada um escreve o que bem entende, colabora contando um pedacinho da história (muitas vezes de acordo com suas próprias conveniências, sim, e daí?), e quem quiser que se preocupe em montar o quebra-cabeças de inúmeras pecinhas espalhadas no tapete.

imagino que os lá de fora também devem ser criticados à beça por seus pares, mas isso não me interessa. sempre que alguém aqui fica querendo "matar" o sujeito, eu acho, deixa de perceber que pode estar tentando "matar" o objeto, por tabela. derramando todo o leite, não só a nata. jogando o bebê junto com a água "suja" do banho (com o perdão do surrado clichê).

o que estou querendo dizer é que pouco importa se os livros de midani, mazzola e quem mais vier são "bons", "ruins", "péssimos" ou "excelente". importa é que eles existem. simples assim.

de quantos midanis e mazzolas precisaremos para quem sabe um dia possuir uma tradição consolidada?

e, no contrapé, porque tentamos tão obsessivamente cortar a tradição pela raiz, antes que ela tenha sequer chances de prosperar?

o que resulta da martelação sistemática, acho eu, não é muito mais que uma modalidade de censura, exercida frequentemente por soldados do exército-pitbull dos tais "jornalistas durões" de que fala marcelo coelho no texto "os doutores do pessimismo".

muitas vezes destroem, ou tentam destruir, para meramente deixar um triste vazio no lugar. censuram, e simplesmente colaboram para trocar o "objeto" "odiado" (mas será que odeiam mesmo?) pelo silêncio mais sepulcral.

a maré aqui no brasil já não está para peixe, pois a proibição de circulação do livro de paulo césar de araújo sobre roberto carlos criou uma macabra jurisprudência. a mensagem ameaçadora está dada (e sob pouquíssimo protesto dos veículos de comunicação, que, diga-se, não demonstram muita felicidade quando vêem que "seus" jornalistas estão tentando voar): trema na base desde já quem desejar escrever livros que ousem sequer mencionar o nome de quem quer que seja. roberto carlos conseguiu a censura de um juiz-cantor (alô, gilmar dantas, ops, mendes) que lhe deu seu cd de presente, por que outros não tentarão - e conseguirão - o mesmo?

a propósito, tentaram recentemente com o livro de midani, alguém ficou sabendo disso? deu falatório, criou polêmica, "indignou" os sempre pré-"indignados" "durões", vendeu jornal? não? por quê?

não é "engraçado" o silêncio?, se outro dia mesmo toda a imprensa (e não só ela) parecia uníssona contra o "rei", a favor do livro do paulo césar, "roberto carlos em detalhes" (ed. planeta)?

agora entendo um pouquinho mais por que é que desde a época me parecia uma jogada para a torcida - tanto é que nesse tempo todo (quase) ninguém parece ter percebido que havia um outro livro sobre roberto carlos, "como dois e dois são cinco" (ed. boitempo), escrito por mim, e que esse não havia sido calado (ou será que havia?).

(aliás, e as editoras desses livros todos, como se comportam diante dos trancos e barrancos? proativas? coniventes com os autores? cúmplices das decisões judiciais? irmãs omissas-submissas da censura judicial e do silêncio de imprensa? como?)

enfim. eventualmente, quem anteontem fez alarido contra o "censor" rc pode estar hoje mesmo lutando (sem querer?) para ajudar a censurar os vagões que vêm atrás, puxados na mesma locomotiva cujo progresso, bradamos sempre, não acontece nunca, por falta de carvão vegetal. ou de empenho dos maquinistas. ou de falta de inteligência ou talento. dos outros, dos outros, sempre dos outros.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

bat masterson & a cidade-fantasma

e dando sequência (não pode mais usar o trema agora, né?, esse parece que morreu, mas vou sentir saudades) ao papo do tópico anterior, eu estava (estou) justamente por agora lendo o livro "o grande filme - dinheiro e poder em hollywood", do cientista político edward jay epstein, e quero pirat... compartilhar um trecho aqui.

primeiro esclareço que entendo neres de pitibiribas de economia, e imagino que você também não entenda. e que tem uns trechos meio difíceis de deglutir aí. mas, ó, quer saber? eu acho que ao menos a medula do que ele está falando eu captei (e fiquei boquiaberto). e tenho certeza que você vai entender também, rin-tim-tim por rim-tim-tim.

epstein está discorrendo aí sobre uma megacorporação que todos nós conhecemos, e ele cria o suspense de não contar qual é, em mim foi dando cada vez mais vontade de saber conforme eu lia. e adorei esperar até o final. pois então, agora é a sua vez, se você topar brincar (os grifos, como sempre, são meus, para palavras-chave que me chamam especial atenção) (e os itálicos, como sempre, são intromissões minhas que eu não resisto a fazer).

"o grande filme - dinheiro e poder em hollywood" (summus editorial), de edward jay epstein, págs. 114-116 [começa].


"Veja o caso, por exemplo, do perfil financeiro de uma das maiores companhias pós-industriais dos Estados Unidos, com valor de 75 bilhões de dólares no mercado de ações em 2001. Sua impressionante receita de 25,4 bilhões de dólares e os 800 milhões de renda declarada para o ano anterior eram 'pro forma'. Pro forma, que literalmente significa 'na forma de', é um construto intelectual usado nos balancetes em que se ajustam os resultados financeiros, a fim de melhor representar, na visão da administração, as perspectivas futuras de uma empresa. Os resultados pro forma geralmente excluem, por exemplo, as despesas que a administração considera anômalas. Como, de acordo com um abrangente estudo realizado pela Dow Jones & Company, essas suposições pro forma tendem a apresentar um quadro muito mais otimista dos ganhos que o real, elas acabam substituindo a realidade existente pelo mundo que a administração enxerga por meio de suas lentes cor-de-rosa.

[o otimismo e as lentes cor-de-rosa, "naturalmente", pertence às corporações pós-industriais, enquanto a nós, os "plebeus" do grã-capitalismo, nos cabe o pessimismo-nosso-de-cada-dia vendido entre margarinas nos jornais matutinos e entre floras & donatelas nos telejornais noturnos. é o confronto diário entre o otimismo autofágico comprado lá nas nuvens e o pessimismo a granel vendido cá no chão, alô, mr. arnaldo jabor & companhia ilimitada!]

No caso da companhia citada, os resultados pro forma incluíam os lucros e as perdas das empresas recém-adquiridas, como se estas sempre tivessem estado sob seu controle e os resultados fizessem parte de suas operações. Além disso, a companhia manejou para retirar de seus livros os enormes prejuízos sofridos com suas operações na internet ao desmembrá-las em empresas separadas e emitir para elas uma nova categoria de ações para os acionistas.

Além disso, muitos dos projetos da companhia que exigiam alto investimento de capital foram co-financiados, em 2000, com a ajuda de empresas-fantasmas. Agindo como sócias, essas empresas, por sua vez, emprestavam grande parte do dinheiro de bancos internacionais, contraindo dívidas que não constavam do balancete da companhia. E não só isso. Os bilhões de dólares de custo de seus projetos em desenvolvimento foram listados como despesas de capital, porque não tinham começado a gerar receita. Uma vez que só uma pequena parcela das despesas de capital é contabilizada em relação aos ganhos, essa manobra contábil aumentou significativamente os lucros relatados.

Com algumas das empresas-fantasmas, a companhia se beneficiou também de regras contábeis estrangeiras para ocultar resultados possivelmente desastrosos. Por exemplo, se tivesse usado os critérios contábeis americanos no relatório sobre sua subsidiária na França, a companhia teria mostrado que esta estava no vermelho, com um deficit superior a 2 bilhões de dólares, 2,5 bilhões em dívidas e apenas 69 milhões de capital próprio, mas com a ajuda dos critérios contábeis franceses, bem mais liberais, a companhia conseguiu demonstrar que a dívida da subsidiária era de apenas 1 bilhão de dólares e seu capital próprio, de 1,1 bilhão.

Império corporativo com operações no mundo inteiro, a companhia também estava envolvida em transações bilionárias com instituições financeiras, incluindo contratos de compra e venda de moedas estrangeiras, títulos do tesouro e opções de taxas de juros em várias datas futuras. Embora essas operações de proteção contra perdas almejem salvaguardar a empresa das flutuações nas taxas de juros e de câmbio externas, elas também produzem ganhos ou perdas quando os resultados financeiros são diferentes do esperado. A companhia criou ainda uma seguradora cativa para segurar os próprios negócios. Ao ajustar as taxas e os prêmios que cobrarva de si mesma, a despeito do risco envolvido, ela conseguia aperfeiçoar ainda mais sua imagem financeira perante o mundo.

Por último, a companhia oferecia aos seus principais executivos generosos pacotes de remuneração, com altos salários, bônus anuais e opções de compra de ações. (A emissão de opções de ações, vinculada ao desempenho acionário da companhia, eram um forte incentivo para que os executivos reportassem os resultados mais otimistas possíveis.) No período de 1998-2000, por exemplo, seu CEO recebeu 699,1 milhões de dólares por conta de salário, bônus e valorização de suas opções de ações. A companhia oferecia também generosos pacotes de indenização para os executivos que deixavam a empresa, a fim de evitar que eles difundissem uma imagem negativa da corporação, chegando a pagar a um presidente 140 milhões de dólares durante onze meses após seu desligamento. Ela também não contabilizava como despesa as opções de ações que concedia aos executivos, apoiada na teoria de que não se tratava de remunerações, mas de rearranjos da sua estrutura financeira. O custo dessas opções de ações ultrapassou meio bilhão de dólares entre 1995 e 2000. Se a companhia tivesse computado esses desembolsos como remuneração dos executivos, os rendimentos reportados teriam sido significativamente menores.

Essa companhia não era a Enron, a WorldCom ou qualquer uma dessas empresas cujo nome se tornou sinônimo de escândalo financeiro. Era a companhia cujo nome se tornara sinônimo de entretenimento doméstico: a Walt Disney Company. Não há dúvida de que os agentes de Mickey tinham freqüentado a escola de administração" [termina].


olha o vovô mickey mouse aí, gente!

e o autor em seguida diz que "É bem verdade que a Disney não era a única, entre as seis gigantes do entretenimento, a usar esses métodos contábeis pós-industriais", mas aí o assunto já parte para outras direções, e eu paro por aqui.

e termino de ler e continuo não entendendo zulhufas de economia, mas. isso aí não é igualzinho ao tal monstro que estão chamando "crise global", não é uma das cabeças desse bicho de sete(centas)? não é um cantinho pequenino da "grande bolha"? se leis costumassem ser obedecidas, isso tudo aí não transformaria o planeta governado por mr. b.o. em um imenso presídio de guantánamo?

cruzes.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

queremos guerra?

a mpa, motion picture association, é uma entidade que congrega os maiores tubarões cinematográficos do mundo - estúdios e produtores hollywoodianos, como disney sony universal warner etc.

e possui um escritório aqui no brasil, uma sucursal que tem procurado demonstrar atividade, sobretudo no campo do combate à pirataria.

(a propósito, o diretor regional antipirataria na américa latina é o márcio gonçalves, um cara que sempre me pareceu bacana, inteligente, quando eu o conheci como diretor da abpd, associação brasileira dos produtores de discos, uma equivalente local da riaa, a congregação mundial dos tubarões do disco, uma equivalente à mpa na indústria fonográfica.)

pois bem, a mpa local enviou hoje a (nós) jornalistas um informe sobre suas ações, no qual conta, por exemplo, que seu "braço voltado para a repressão da pirataria, a apcm", associação antipirataria de cinema e música, dirigida por um delegado, "tirou do mercado pirata no brasil em 2008 mais de 41 milhões de cds e dvds".

ok, está dado o recado, dona mpa, mas confesso que não foi esse o ponto que despertou maior atenção deste jornalista aqui. foram outros dois, que estão ocultos, ou melhor, expostos em dois outros trecohs. o primeiro, no estilo nervo exposto:

"Em 2009, a associação concentrará seus esforços na Internet, espelhando-se nos hábitos de quem consome pirataria no País".

não é um formidável ato falho a mpa, a tubaroníssima mpa, afirmar que vai se espelhar nos piratas para definir suas linhas de ação em 2009? (alô, claudio!, alô, seu disney, alô, vovô mickey mouse!)

adiante a coisa se explica melhor (mas até aí morreu neves, o dito já foi dito e está dito, não é mesmo?), e gonçalves aparece afirmando que "temos que acompanhar a tendência do mercado que está migrando cada vez mais para o mundo virtual".

mas aí o comunicado passa a adquirir contornos sinistros. diz que a indústria cinematográfica precisa da colaboração dos provedores de internet (tipo, você sabe, nossas globo ig uol terra etc.), os quais "já têm se mostrado dispostos a unir forças com a mpa". cheira a ameaça.

e logo o cheiro de fumaça se confirma no fogo de termos policialescos como "combate", "punições", "infratores das leis", "condenações", "violação de direito autoral" e, enfim, o segundo trecho mais notável e explícito do recibo, este:

"Outro importante destaque são as condenações por violação de direito autoral, disposto no art. 184 do Código Penal Brasileiro, que resultou em 195 pessoas condenadas".

em 195 pessoas condenadas, aqui no brasil, ouviu? podemos nos perguntar se esses 195 (ou alguns deles) são fãs de cinema, de música, de logomarcas do vigiadíssimo império do entretenimento?

ok, é direito (autoral?) deles perseguir, encontrar, processar, punir, condenar quem "prejudica" os negócios e os interesses deles.

mas a blogosfera já repetiu zil vezes (e trent reznor também), e eu repito mais uma: estão criminalizando admiradores, fã(nático)s de cinema música videogame telenovela big brother entretenimento.

estão tratando como inimigos alguns (ou muitos? ou todos?) dos átomos formadores da nuvem dos que compra(va)m seus produtos, e dos quais os tubarões (por enquanto) ainda dependem para continuar sobreviventes.

eles podem fazer isso. e podem prpagandear que fazem. e podem proferir ameaças. mas tudo isso soa como declaração explícita de guerra.

e você sabe como se costuma responder a "pedido" de guerra. com... guerra. guerra como aquelas que, à parte diferenças no número de criancinhas mortas (e vendedoras póstumas de jornais), tornam israelenses e palestinos muito semelhantes uns com os outros. ou guerra entre produtores e seus consumidores, o que me parece algo "nunca antes visto na história" desta humanidade.

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aí, pronto, fui falar em guerra e me lembrei de uma música. terminarei este t(r)ópico com a letra de uma canção da safra 1968 de jorge ben, concorrente do iv festival de mpb da tv record, aquele cujo vencedor foi tom zé, com "são são paulo".

a caixa de cds de gilberto gil "ensaio geral", de 1999, credita a presença de gil, jorge e caetano veloso na gravação de "queremos guerra", mas não posso afirmar com certeza se os três estavam juntos no palco do festival - alguém sabe?

"queremos guerra" foi desclassificada no festival. e ficou plenamente esquecida pela história. quero dizer, pela (medíocre) história oficial. porque na história-no-duro, com h maiúsculo, ela está cravada e encravada, além de difundida e disseminada por este cybermundo por onde nos comunicamos agora.

o que jorge, caetano e gil diziam, explicitamente, naquele festival em que foram derrotados (e tom zé saiu vencedor), é que no ano da graça de 1968 os tropicalistas queriam mesmo era... guerra! era?

queremos guerra
(jorge ben)

(refrão)
guerraaaaaa, queremos guerraaaaaaa

mas só se não fizer sol amanhã
e se chover também eu não vou ficar em casa (*)
pois eu não estou aqui pra pegar uma gripe danada
e no fim da semana eu não poder ir ver a minha namorada

mas só se for pra brigar com a minha sogra
que ainda não sei por que não gosta de mim
eu sou um rapaz considerado, simpático, chego ser até adorado pela minha querida mãe
que desde pequenininho me ensinou o que é carinho
como é feia a guerra
como é lindo o amor

guerraaaaaaa é um só momento
depois da guerraaaaaaa vem o esquecimento

(*) há uma outra gravação de "queremos guerra", que saiu no mesmo 1968 num compacto de jorge ben (com o outro lado ocupado por "a minha menina", mais conhecida na versão dos mutantes em seu primeiro lp). nessa, na voz de jorge, esse verso é diferente, e não contém o desencontro (i)lógico do modo cantado por gil: "e se chover também eu não vou sair de casa". afinal, ele não queria pegar uma gripe danada, queria?

guantánamo, guantanameros

além de tudo ele é canhoto?!?


cê por acaso sabe como é chato escrever da esquerda para a direita (como a "maioria" das pessoas), passando a mão por cima da tinta recém-espirrada da caneta (como a "minoria" dos canhotos)? é chaaaaaato. mas que eu saiba ninguém ensina os canhotos a escrevermos da direita para a esquerda. ainda que ensinassem, a "maioria" não ia entender os escritos, né? ou ia? uai, mas se eu entendo os escritos deles, e até copio.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

pregos de nove polegadas, ou o curioso causo de benjamim botão

repare só a estranha simetria entre dois causos de que tomo conhecimento por intermédio do boletim jornalístico-musical music news.

o primeiro trata de um anúncio da "gigante" mundial warner bros., publicado, diga-se, no dia da posse do novo presidente do mundo, ops, dos estados unidos da américa.

o conglomerado wb é aquele que governava a madonna e co-produziu o (a meu ver sensacional, apesar de hollywoodiano) filme "o curioso caso de benjamin button", este em que o imaculado brad pitt nasce velho e morre bebê (e no meio do caminho vira dono de um império construído a partir de uma fábrica de botões), enquanto a imaculada cate blanchett nasce bebê e morre velhinha (como grande parte dos mortais, não custa esclarecer).

e foi esse conglomerado dos botões, ops, do entretenimento, que ontem anunciou que vai demitir algo como 800 funcionários around the world, equivalentes a cerca de 10% do operariado planetário da fábrica multinacional de filmes, discos e sonhos edulcorados.

pois então, olha só o teor do texto do chefão barry meyer, que segundo a agência de, er, notícias reuters foi enviado por e-mail a todas as sucursais da fábrica no mundo:

"É com muito pesar que anunciamos que, baseados na situação econômica global e nas previsões para os negócios, o estúdio terá de fazer uma redução de pessoal nas próximas semanas como uma medida de controle de custos".

"com muito pesar", ouviu?, e com a, er, promessa de que, "nas próximas semanas", como segue o comunicado, "informações específicas a respeito das medidas de corte de custos, incluindo redução de pessoal, serão compartilhadas com vocês através do gerente de cada equipe".

é possível fazer algum eufemismo ou isso é sadismo explícito?

eu aposto na segunda hipótese, naqueles rituais sadomasoquistas como demitir funcionários na última semana de dezembro, tipo "presente" de natal. atitude dark de banda punk de new metal thrash no auge do emo gótico e electro, não?

mas aí, por outro lado, há uma engraçadíssima entrevista do célebre trent reznor, líder do conglomerado, ops, da banda nine inch nails, de rock metal industrial dance alternativo pré-pós-tudo-bossa-band. você sabe, o trent deu um chapéu na indústria fonográfica e diz que está fazendo tudo sozinho, tudo do it yourself, yes he-we can.

(menino!, e a cobertura mega-ideológica da "nossa" imprensa à posse do homem? determinado jornal paulista simplesmente nem se referiu, em seus textos principais, à frase - para mim crucial - de que "o mundo mudou, e precisamos mudar com ele"! pô, justamente a frase e o trecho que, acredito, embutem nossa américa latina e nosso brasil?! pô!)

pois bem, o trent deu uma entrevista a um veículo independente de imprensa em sacramento, sacramento news & review, que o music news indicou na versão em português do portal rock press. dá só uma espiada em alguns trechos.

"Meu nível de desprezo para com a indústria musical nunca foi maior. Com certeza estou feliz por trabalhar fora do sistema, pois ele está obviamente acabado..."

(hello, mr. benjamin button, quero dizer, mr. barack obama! "acabado", será mesmo?)

"Nos anos 90, a indústria musical continuava a cair. Eles só falavam merda. Não se importam com a música; eles só se importam em vender discos e pronto."

"Estar livre de toda essa droga é muito bom, mas aterrorizante, pois é muito fácil enxergar o que não se deve fazer. Só olhe para o que eles estão fazendo! Estão processando fãs (...)."

"Se você perguntar para a maioria das pessoas nas gravadoras, se elas passam algum tempo online – ou se elas sabem o que é torrent, ou se conhecem o Twitter – a responta é geralmente negativa. Então como eles esperam entender se não procuram? Se não pensam a respeito disso? Se não sabem que seus consumidores sequer existem ou como interagem? Isso é parte do motivo do negócio ter sido destruído. (...) Estão presos na idéia de que podem fazer dinheiro vendendo plástico. Então, o que fizemos foi tirar vantagem dessa liberdade (...) e nos colocarmos num lugar onde podemos interagir diretamente com os fãs, onde podemos surfar e fazê-los sentirem que estão tendo o que querem de nós. Tentamos tratá-los com respeito... o que as gravadoras não fazem."

e só isso já bastaria, mas ainda tem o final hilário da entrevista, em que o músico e a repórter, chamada alia cruz (ou seria um repórter?, alia é nome de mulher?), dão um banho de ironia e de informação não-censurada (daquelas que dificilmente leríamos num jornalão), tal qual fosse uma conversa privada entre dois altos executivos de uma fábrica de botões, quer dizer, de jornais, ou melhor, de discos de plástico. ó (repórter em negritos, entrevistador em tipos regulares):

"Quando Closure sai em DVD?

Nunca!

O que?!

Você pode perguntar a Universal, pois eles são idiotas, e estão com medo de lançar.
Pessoas estão se morrendo por isso.

Sim, mas… existe outro meio.

Estou ouvindo. Há uns anos, alguém invadiu meus arquivos pessoais e fez um upload de todo o DVD Closure num site torrent.

Ah, que terrível.

Pois é, não sei quem poderia ter feito isso.

Hmm.

Então, isso significa que não precisa ser lançado em DVD.

Desculpe Trent, vou ter que roubar uma cópia.

Ah, você sabe que isso não é legal".

ora, ora. vai ver que toda essa embolada, esse samba, esse maracatu significa que the times they are a-changing, que tá tudo mudando. não foi o que disse o novo presidente do mundo, opa, do brasil, epa, dos eua, que o mundo mudou, e precisamos mudar com ele? cê tá escutando?, cê tá entendendo?

eu não consigo ser alegre o tempo inteiro!!

a carioca silvia machete é expressiva à beça, toda circense, e nesta "toda bêbada canta" (presente em seus dois primeiros discos, o independente "bomb of love - música safada para corações românticos", de 2007, e o emi "eu não sou nenhuma santa", de 2008) ela faz lembrar, em versão femininíssima, o punkbrega gaúcho wander wildner em algum de seus melhores momentos, tipo o wildner safado de "bebendo vinho" (1996), ou o wander romântico de "eu não consigo ser alegre o tempo inteiro" (2004). machete, como wildner, é bem bacana.



e "o curioso caso de benjamin button", de david fincher, hein?, não é bacana pacas? que vontade de ajudar a desmanchar a supremacia de clichês horrorosos com que encaramos o fato de envelhecer (doenças, tristeza, sofrimento, desistência) e tentar providenciar para mim mesmo uma velhice... divertida!!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

...ficar com certeza maluco beleza...

e já que o negócio agora é dobrar as ondas eletromagnéticas, deixa eu desdobrar esse assunto já iniciado na janela vermelha anterior, só pra desafogar um pouquinho o pasmo, o ataranto, o nó nos miolos produzidos por esta coisa aqui.

um novo material que manipula a curvatura da luz?

uma banda muito mais larga??

um metamaterial???

uma substância exótica????

diversas estruturas de camuflagem que conseguem dobrar as ondas eletromagnéticas?????

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será que no futuro, quando a indústria fonográfica vier para cima tentando prender os baixadores de mp3, vai bastar a gente tomar um banho de metamaterial e, pluft, deixar os advogados a ver navios? quando acabar o maluco sou eu...

sexta-feira, janeiro 16, 2009

o compromisso foi parar na seção dos congelados?

conheci um pouco mais o inquérito ao fazer, no início de 2007, uma prazerosa reportagem sobre o, digamos, "abrasileiramento" de rap, er, brasileiro.

[MENOS EUA, MAIS BRASIL, chama(va)-se a reportagem.]

agora recebo de renan, um dos integrantes do grupo, o disco novo dos caras (e da mina), que ouço agora mesmo pela primeira vez. (obrigado, renan!)

várias coisas já me dá vontade de falar sobre este "um segundo é pouco", mas espera aí, deixa eu ouvir mais.

por enquanto, copio abaixo (respeitando estritamente a grafia e a pontuação adotadas pelo inquérito no encarte) a letra da primeira faixa do disco [aaaaah, neste instante ouço aqui um sampler de "replay", minha música favorita do trio esperança! aaaaah!], que por estrita e ótima coincidência tem a ver com o papo de logomarcas em que chegamos a resvalar no tópico abaixo.

avohai, inquérito!


ABRE-TE SÉSAMO (Renan e Nicole)

1, 2, 3, 4, abre-te sésamo
Licença aí tiu aqui é o Inquérito
Segundo disco centésima letra
Muita treta pra pouca tinta na caneta
Uns usam Glock outros usam Colti outros Imbel
Eu? Calibre 0.7 Faber-Castel
De Hering branca e calça caqui
continuo o memo Renan Rayovac
Acelerando mais loco que u barato
Desse planeta gueto mais um terráqueo
Que queria cantar como o Tim tocar como o Ton
Jogar que nem o Pelé escrever igual o Drumond
Mas tá embaçado o rap virou mercado
O compromisso foi parar na seção dos congelados
Lembrei até da frase que eu ouvi uma vez:
"Todo homem é culpado do bem que não fez!"

CHAMA O PORTEIRO ABRE-TE SÉSAMO
LICENÇA AÍ PORQUE AQUI É O INQUÉRITO

Monstro não fala quem tem boca é vala
Engole ou entala não gostou pedala rala
Pega suas mala Nicole não cala
Sou doce até atingir meu ponto de bala
Preta guerreira mulher
"Fazedora" de música e de mamadeira
Mãe, mulher, M.C., maloqueira
Vai pensando que é brincadeira
O rap não tá morto é só "cê" parar pra pensar
Tem muito nego aí de "zói" que quer nosso lugar
Tá preocupado? "cê" vai ficar paradeo?
Se perguntando cadê os mano? Tá tudo mudado
Quem entrega o jogo é porque não tá confiante
"Tamo" aí na correria militante avante
Ninguém aqui tá preocupado com mérito
Sai da frente aqui é o Inquérito

REFRÃO

quarta-feira, janeiro 14, 2009

ne me quitte pas

hoje eu conheci o "novo" vice-presidente da sessão paulista da ordem dos músicos do brasil (omb).
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ele tem 80 anos e se chama plinio metropolo. eram mais ou menos 13h quando chegou, de bermuda jeans e camisa de veraneio, lá na sede da omb, na av. ipiranga, no miolão entre o terraço itália, o copan e o ex-hotel hilton (parece até música do tom zé).
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metropolo é músico profissional, pianista, e conta que tocou (piano) por muitos anos com a cantora mais "famosa" do momento no brasil, uma tal de maysa.
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evocou umas tantas historietas sobre a amiga íntima de muitos anos, opinou que ninguém no mundo cantou "ne me quitte pas" como ela, assinalou que também tocou, na europa, com o autor desse música, um tal de jacques brel. e, naturalmente, ironizou a "novela" em que a globo transformou a vida da tal maysa.
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é... há mais coisas entre o chão e o sexto andar do edifício da av. ipiranga, naquele incrível ambiente de repartição chamado omb, do que poderia supor minha (nossa?) vã ignorância.
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p.s. 1: o conselho regional paulista da omb, em tempos de mudança - vide o endereço do blog recém-aberto, www.novaordem.musicblog.com.br -, anuncia (e já fez publicar como portaria no "diário oficial"): estão canceladas e quitadas todas as "dívidas" de anuidades passadas, da gestão wilson sandoli, para todo e qualquer músico que pagar na sede a anuidade de 2009.
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p.s. 2: a gravadora da emissora que fez a novela da estrela que foi amiga do metropolo (por mera coincidência, juraria o nizan guanaes) anuncia que dentro de instantes transformará em cd quatro jóias musicais da coroa de maysa. são "maysa é maysa... é maysa, é maysa!", de 1959, "maysa canta sucessos", de 1960, "voltei", de 1960, e "maysa, amor... e maysa", de 1961 (e olha eu aqui fazendo divulgação para dona som livre, né mesmo?). pois então, alguém duvida que maysa, hoje, é mais famosa que maísa (a garotinha) e que mallu (a musa "folk" dos marmanjões)? e alguém aposta que durará mais que os 15 minutos de "fama" de andy-pop-warhol?
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p.s. 3, nada a ver, mas...: los hermanos vão tocar "com" radiohead e kraftwerk em são paulo e rio??? uai, mas não era esse conjunto que tinha acabado?? festifal de folk(raft)! pois então, diz o recibo "à" imprensa da assessoria "de" imprensa (in press porter novelli), l.h. "se reúne para dois shows inesquecíveis no festival (...)". os shows nem aconteceram ainda, e já são inesquecíveis, sei. devem ser mesmo, porque estou aqui tentando esquecer [olha eu aqui fazendo divulgação para o festival j(...)a(...)f(...), né mesmo?], e não consigo...
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p.s.4: post scriptum maior que o scriptum, mora?

terça-feira, janeiro 13, 2009

ei, mr. (jackson) do pandeiro, toque para mim...

daí (como dizem que se diz lá no paraná), continuo amarrado no graaaaaaande zé ramalho e fui passear pelo site dele, e eis-me aqui me divertindo em ler o mural de recados dos "fãs" do cara, daí. só umas palhinhas, pra quem quiser ver e comprovar que artista pode até ter "gramur", mas também sooooooofre, coitado, daí:


"oi zé sou fã seu e do raul eu queria um disco seu opos visionario . se vc mandar vou ficar muito grato."

"Ás vezes me faço perguntas diante de mim querendo saber do espelho o começo do fim...... Esses versos são de uma canção que fiz em sua homenagem. Espero vê-los gravados por Você."

"Zé.....continue levando sempre á todos suas canções, tenho certeza que fazem parte da história de vida de muitas pessoas, como da minha. Meu sonho ainda é você cantar uma letra minha!! Ah, e claro, casar comigo! haha beijos!!!"

"Que pena que seu ultimo show aqui nao deu certo,queria muito te-lo conhecido.Nesse dia num ataque de ciumes meu marido disse que se eu fosse ao show nosso casamento estaria acabado,apenas disse tchau e sai.Depois voltei com cara de tacho mas tudo bem por vc tudo vale a pena.EU TE AMO MUUUIIITO."

"Conheço diversos músicos, mas admiro apenas alguns. (...) Não pretendo divulgar nada, tenho meu ofício e não intenciono a ser o alguém que desconheço. (...)
Reconheço que posso não ser correspondido, entretando além de tudo sou brasileiro e vivo da história de meu povo, vivendo de história crio retratos sociais através de poemas. Interessando, queria que você apreciace algumas de minhas criações."

"ze voce é foda fez eu ficar no meio do monte de cawboy lá no estancia alto da serra,pra ver voce tacar (...)"

"Ola! Gostaria de saber onde posso encontrar o cd e dvd Ze Ramalho ao vivo. Quem tem pra vender ta cobrando mais de 200,00. Socorro."

"ve se gosta da letra de depois me diga oque acha de onde ela veio tem muito mais descobri meu dom de compor musicas"

"Não seria interessante uma parceria com a Bethânia, em disco ou no palco? Se pintar um dia a deprê, saiba ( eu não sei se vc tem noção), do quanto vc é lembrado e amado."

"olha ze sou casado5anos,vc deve perguntar porque eu estou falando isso a vc minha esposa ja me falou vc escolhe eu ou ze ramalho,adivinha eu escolhi vc sou seu fa eu nem imagino eu sem sua voz minha vida nao teria graça"

"Zé Ramalho, sou muito seu fã ~ tenho 14 anos mais sei de cor suas musicas ~ queria que o Senhor vinhesse fazer um show aqui em São José dos Campos ~ eu irrei e cantarei todas suas musicas ~ todo dia eu entro nesse site para ouvir suas musicas ~ o Senhor pra mim é como um Rei ~*---* (lll ³ ~"

"Hello there, is there any chance to order (credit card?, PayPal?) a copy of the Bob Dylan tribute CD? Thanks Holger from Germany"

"entrei no seu Site e amei seu novo disco. Parabéns!! prá vc e para o Bobo Dylan.
Bjs Maisa"

"Desculpe para o Bob Dylan."

"Sou grande fã do Zé Ramalho. Mas só agora, aos 46 anos, minha ficha caiu: não entendo o significado da letra da minha querida música Chão de Giz. Me ajudem..."

"Zé tu és dono de uma das mais lindas vozes da nossa MPB.te curto demais!!!! só acho vc muito sério nos shows soriia mais! vc é tudo de bom zé!"


e alguém poderia me explicar esta dúvida que nunca pára (ou "para"?) de me martelar? o que, afinal de contas, é um "fã", hein? quem é o "fã"?, por que o "fã" é "fã"? daí?

mas, me diz, não é incrível (além do disco em si) a capa deste "a peleja do diabo com o dono do céu", de 1979?:



que ele é folk, é "o" folk (esse aí que anda tanto na moda, não é mes...?). e no folk(lore) cabem, por que não? bob dylan neil young johnny cash. (quem mais?) jackson do pandeiro clementina de jesus paulinho da viola. marcedes sosa inezita barroso violeta parra milton nascimento. joni mitchell françoise hardy clara nunes. alceu valença belchior ednardo amelinha elba ramalho geraldo azevedo quinteto violado zeca baleiro. simon & garfunkel amadou & mariam ceguinhas de campina grande. joão bosco bruce springsteen amália rodrigues. (quem mais?) zé ramalho zé ramalho zé ramalho.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

diga odete, marinete, rosinete e orelina (*)

não tinha ido ao show, e só agora, com o disco, tomo conhecimento por dentro desse evento "três meninas do brasil", que reuniu no palco, por ordem alfabética, a mineira jussara silveira, a maranhense rita ribeiro e a carioca teresa cristina.


não é daqueles encontros em que um canta três músicas, outro canta três músicos, um terceiro canta três músicas e os três juntos só cantam uma. não, elas cantam juntas de fato, o tempo quase todo, que é o que engrandece o resultado, mas não só.

mais divertida é a seleção de repertório, bem liberta de obviedades (e diz aqui no encarte que a direção artística é de... jean wyllis). nem é a melhor das canções do graaaaaaaande zé ramalho, mas que delícia ouvir de volta o desassombro de "mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor".

(a propósito do graaaaaaande zé ramalho, estive meio receoso a princípio, mas o disco dele para bob dylan é disparado o meu favorito no momento. o repertório é sinuosamente colhido, os arranjos de robertinho de recife são elegantíssimos e a voz do graaaaande zé ramalho é a voz do graaaaande zé ramalho. e, como escrevi em notinha para a "carta capital", alguém pode se perturbar com letras como "bate, bate, bate na porta do céu", mas, ora, não é exatamente isso que mr. dylan diz no "knockin' on heaven's door" original?)

outra coisa que esse "três meninas do brasil" poderia (pode?) suscitar são (seriam?) reflexões sobre os preconceitos que rondam (ou não) composições sobre mulheres como as que as três moças reuniram (de moraes moreira, paulinho da viola, tom zé etc.). só a dobradinha entre "na cabecinha de dora" (de antonio vieira e pedro giusti) e "nega do cabelo duro" (de david nasser e rubens soares) já dá pano para manga, misoginias para cá ("na cabecinha da dora/ meu pensamento concentro/ tem muito rolo por fora/ e pouco miolo por dentro"), racismos para lá ("nega do cabelo duro/ qual é o pente que te penteia?". não?

em tempo: pode até parecer fofoca alcoviteira (e acho que é mesmo), mas eu sempre fico todo curioso por saber como é que se definem as ordens dos nomes nas capas desses discos de parcerias, tipo (nesta ordem) jussara silveira-teresa cristina-rita ribeiro, gilberto gil-milton nascimento, raimundo fagner-zeca baleiro, caetano veloso-jorge mautner e assim por diante (será que é cláusula de contrato?). mas cala-te boca!, que minha profissão não é catucar intriga (não é?)!

(*) esse título é porque, ao ficar nessas de "três meninas", me veio de volta a versão de daúde para aquele delicioso trava-línguas de domínio público "quatro meninas", que ela gravou no disco de 1995. por onde anda daúde? era (é) belíssimo o disco "neguinha te amo", de 2003, que eu saiba o último que ela lançou (foi mesmo?).

quinta-feira, janeiro 08, 2009

a brasa no tapete-coração

o sr. x já havia passado 190 de seus 150 anos de vida ocupado em despistar, negar e renegar suas próprias emoções, mas agora ele definitivamente não podia mais se emocionar.

sabe quando os médicos recomendam, "procure evitar emoções fortes"? pois então, dez mil anos atrás, coração sobressaltado, ele ouvira esse conselho, essa ameaça, essa ordem, da boca de um médico destrambelhado que via uma máquina no lugar onde fica o coração e não sabia bulhufas sobre o significado dessa palavrinha tão reles, p-s-i-c-o-l-o-g-i-a.

e, se antes mesmo seu x já o fazia, nos próximos 20 mil anos, sim, ele seguiria à risca os conselhos, as ameaças, as condenações de morte em vida do doutor. ou dele próprio.

mas aqui-e-agora era mais, mais que nunca. o sr. x não podia, de jeito maneira, se emocionar. nem precisou doutor, essa exacerbação da regra ele mesmo impôs ao seu coração.

então. vai daí que sempre que a emoção se aproximava lá na esquina de seu x, ele se embananava inteirinho, trançava braços e pernas, concedia férias por tempo indeterminado aos próprios neurônios cansados.

diante da emoção de receber na varanda o filho e o genro forasteiros em visita, enquanto em frente ao portão os cachorros lhes sorriam latindo, simplesmente desligava o interruptor. "onde vocês estavam?", perguntava, aéreo, desconcertando a família inteira. no aeroporto, aterrissando, uai. "aah."

na hora do "parabéns a você" à sra. y, disfarçado na emoção coletiva (e nem tão profunda assim, diga-se), postava-se orgulhoso ao lado da companheira de mais de 50 anos. mas ontem mesmo esquecera que ela faria aniversário, quem é que faria aniversário, quando haveria aniversário, decreto decisivo de "por favor, pare agora" à emoção que ensaiava se insinuar.

diante da meiguice e beleza da neta virada adulta, formada e recém-casada, desconectava, penumbroso: "quem é a sua mãe?". a família esclarecia, "filha da tua filha", e ele: "aaah".

nascido na boca de um riozão e pescador inveterado, daqueles para quem os peixes eram mais amigos que os humanos, seu x concedia acompanhar a tropa às barrancas do rio mais lindo das redondezas, mas ali morava emoção que não se podia suportar, mais caudalosa que a correnteza de um rio. simplesmente caía para trás, despencava rolando ribanceira abaixo, fazendo um strike de boliche na já sobrecarregada sra. y, quase tão velhinha quanto ele. pernas pro ar de um para cá, pernas pro ar de outra para ali, família atarantada por todo lugar.

o filho tinha de estrear na tarefa inédita de correr atrás do pai, ir resgatá-lo lá na baixada da estrada de terra, com medo de que ele se embrenhasse na mata. é que ele disparara em fuga da própria queda, emoção de tamanho incômodo seria a de encarar a queda e a vergonha de nem ter ajudado dona y a se levantar.

até sabia de qual mal padecia, "o doutor disse alzheimer", mas queria se aprofundar no assunto, não. agora portava, era simples, aquilo que os antigos chamavam de caduquice e médicos e artigos científicos de agora classificavam como um dos diversos tipos conhecidos de demência senil.

"demência senil"?, ui, que doído. sim. ok, mas... pois sim, os nomes podem revestir as coisas de veludo (nem que o veludo roxo da capa do conde drácula, mas ainda assim veludo, cotelê). mas o que o sr. x possuía mesmo em estado bruto e brutal era medo, pânico, terror da emoção (causadora obrigatória de sofrimento? será, será mesmo?). e, me diz, qual emoção há de ser mais forte que a emoção de morrer, depressa ou devagarzinho, um pitoquinho a cada dia, como estamos agorinha mesmo eu e você?

e, embora doesse a valer por dentro e nos arredores, esse era apenas um jeito de encarar à vida. um jeito freqüente, banal e comum a zilhares e zilhares e zilhares de habitantes daquele país que seu x ajudara quietinho a construir, no tempo comprido dos sentimentos enclausurados.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

cruzes!...

...a cabeça estava tão avoada no final do ano que nem título eu coloquei no último tópico!

(se agora a cabeça já desavoou? hum, sei não...)

veliz ano nofo!!!