sexta-feira, março 27, 2009

tava com um cara que carimba postais...

da apcm para o outro lado da fronteira: fala o google, conglomerado multinacional (será que posso chamar assim?) que engloba orkut, blogger, youtube..., cybercorreio versão anos 2000. fala o diretor de comunicação do google brasil, felix ximenes:


pedro alexandre sanches - qual foi o papel do google nesse episódio da comunidade do orkut?

felix ximenes - a gente não tem condições de afirmar o que aconteceu ou o que acontece caso a caso. mas foi um ato do próprio coordenador, ele desarticulou essa comunidade, sob protesto, pelas pressões da apcm. não houve nenhuma interferência do google. no passado nós já haviamos apagado alguns links dessa comunidade e de outras que levavam a conteúdo de copyright. e como é que nós agimos em relação a isso? sempre, sem exceção, não há controle prévio. não há censura ativa do google. o que fazemos é a política do notice and take down. se comunicados por alguém que tem direitos ou está incomodado com um conteúdo particular, o nosso time verifica a queixa e, se for procedente, tira. exceto para casos que violam de cara os termos de uso, como pornografia, nudez, onde há filtros automáticos que tiram automaticamente do ar essas coisas. mas, com relação a conteúdos protegidos, é sempre na base do notice and take down.

pas - então não se tira uma comunidade ou usuário do ar, e sim links?

fx - usuário às vezes, sim, mas em geral a gente tira links. a gente tira conteúdo. e aí adverte o usuário de que tirou do ar porque ele violou um termo de uso do orkut. está lá claramente nos termos de uso que não pode colocar material com copyright, não pode fazer pornografia, estão lá todos os nossos "não podes". nossa relação com o usuário é baseada na confiança. quando o usuário aceita o serviço ele tem que ler os termos e dizer "aceito os termos". a gente parte do pressuposto de que todos nós somos de boa fé. agora, na medida que há violações, se são muito explícitas, como sexo, nós tiramos do ar. se são violações que demandam uma interpretação judicial ou do dono dos direitos autorais, nós agimos mediante notificação. tá bom?

pas - certo. então não existe a história de que o google estaria pressionando usuários por estar sendo pressionado pela apcm?

fx - não, não procede. a gente não aceita esse tipo de pressão. o nosso compromisso é com o usuário. se o usuário está fazendo um bom uso da ferramenta, por mais que ele incomode... se ele não violar nenhuma lei nem direitos individuais, se for uma atividade de expressão, uma manifestação artística, uma opinião pessoal, ele pode se manifestar à vontade. essa é nossa filosofia. na hora em que ele passa do limite da lei ou viola algum termo de uso, somos obrigados a agir. mas a princípio nossa relação é de confiança com o usuário, é de delegar poderes a ele e compartilhar responsabilidade.

pas - mas o google sofre algum tipo de assédio por parte de gravadoras, ecad ou entidades desse tipo?

fx - de novo, não posso comentar caso a caso. mas a gente sofre pressão de diversas frentes. diversas frentes. desde ligas católicas - não, estou brincando, elas nunca ligaram -, entidades de classe, associações defensoras de direitos. mas a gente não se deixa abater. o nosso compromisso é com o usuário.

pas - deve ser uma avalanche de queixas?

fx - estando no google, que tem orkut, youtube, blogger, é o tempo todo.

pas - no caso específico do direito autoral, as denúncias no orkut são muitas? qual seria a quantidade?

fx - não tenho estatísticas a esse respeito. como falei, a gente recebe muitas denúncias de todo tipo, algumas procedentes, algumas nem tanto. o que a gente tem é um time de suporte que olha atentamente cada uma delas.

pas - da parte dos defensores do direito autoral, argumenta-se que provedores teriam de pagar, para o ecad, no nosso caso brasileiro. qual é a posição do google? existem negociações nesse sentido?

fx - na verdade o ecad é quando se executa música em público. nós não estamos executando música. quem está se manifestando aí é o usuário. são ferramentas que dão poder ao usuário, ele controla. não há execução in loco, então não faz muito sentido isso. mas, enfim, o responsável final pelo conteúdo é o usuário que importa, que subiu, que fez o download. isso não quer dizer que a gente se isenta da responsabilidade. sempre que a gente percebe o mau uso ou o abuso da ferramenta, somos obrigados a agir e tiramos o conteúdo. mas sempre, como falei, um dos valores mais fundamentais do google é o respeito ao usuário.

pas - o que você disse se aplicaria também ao blogger? os blogs estão lá com links para os discos, mas não estão executando música publicamente.

fx - isso. mas se uma associação dessas como a apcm notificar o blogger, nós vamos analisar e se tiver sentido nós tiramos do ar.

pas - isso tem acontecido?

fx - no blogger, muito menos. do blogger a gente não tem muita queixa. o pessoal pega mais no pé do orkut mesmo.

pas - engraçado, não é no blogger que estão, para os "piratas", os maiores tesouros?

fx - é, mas geralmente pegam no pé do orkut.

pas - você entende por quê?

fx - talvez por ser mais visível, por ter comunidades mais expressivas. é normal. a gente não acha que isso é pegação no pé por pegação de pé. é porque o produto está dando muito certo, tem muita visibilidade, é uma comunidade muito ativa.

pas - o que se pode entender disso é que cada blog individual deve ter uma frequência pequena, poucos seguidores, e portanto escapa da alçada dessa polícia, digamos?

fx - não diria que escapa, mas que é uma preocupação menor deles. em vez de ficar atacando uma comunidade que tem dez, cem usuários, atacam um orkut que tem 30 milhões.

pas - baseado em tudo que você falou, em que o google acredita? essa é uma questão que vai se regulando sozinha, ou seria necessário estabelecer...

fx - ah, boa pergunta. acho que essa pergunta é a melhor de todas, a gente vai gastar aqui umas três horas falando. o que a gente acredita é que as ferramentas sociais na internet realmente têm muito que ser discutidas ainda. muito debate na sociedade, nas empresas, nas associações, nos magistrados, enfim...

pas - ...governos também?

fx - governos. é uma revolução que está mexendo com muitos conceitos. a gente vai ter muito pela frente ainda. encaramos com serenidade essas discussões, porque sabemos que faz parte da mudança, que a rede e as ferramentas sociais como blog, orkut, youtube, twitter vão inexoravelmente mexer com conceitos arraigados que estão em xeque. não digo que está em xeque cobrar por música, mas como se cobrava antes talvez já não faça tanto sentido. não digo que não faça sentido cobrar pelo ingresso de um filme, mas o modelo da indústria como foi montado não contemplava a distribuição em massa, a rede peer-to-peer, os blogs, os microblogs. são questões que se colocam diante da gente hoje, que a gente tem que sentar e discutir. não há resposta fácil.

pas - o que acontece é que a velocidade disso é tão grande que não há discussão de legislação ou de avanço das gravadoras que possa acompanhar. estão sempre atrás.

fx - é verdade. mas, se você olhar um exemplo clássico, as gravadoras se queixam desde o napster de concorrência desleal, que estão perdendo dinheiro. aí vem uma apple, que nunca atuou nesse segmento, lança uma itunes store e é um tremendo sucesso. aí vem um monte de bandas na esteira, lançam modelos em que você paga quanto quer. o radiohead, uma banda mainstream, lança um disco pelo qual você paga quanto quiser. quer dizer, há dinheiro na indústria ainda, só tem que mudar o modelo mental. esse é o desafio que está diante de nós agora. eu adoro o exemplo da apple por isso. muita gente ficou digladiando, gritando, e foi uma apple, correu por fora e fez um negócio que ninguém conseguia visualizar. como é que se ganha dinheiro com um negócio desses?

pas - conversando com o produtor pena schmidt, ele dizia que no brasil é como se todos os ipods fossem ilegais, porque estão fora do domínio da legislação como a gente a conhecia.

fx - é, e aí o que se faz, sai prendendo cidadão, um por um? vê um adesivo da apple num carro, intercepta e diz "teje preso, você tem um ipod aí"? ou faz arrastão no metrô com todo mundo que está com foninho branco? é surreal.

pas - seria a indústria musical punindo quem gosta de música, se fizessem isso.

fx - exatamente. estão atirando nos seus usuários. em vez de abraçar os usuários, entregar o que eles querem, quando eles querem e como eles querem, estão tentando convencer os usuários de que a única maneira legal de fazer isso é como eles querem, como a indústria quer. é um debate que tem um bom chão para queimar ainda. é interessante, gosto dessa discussão. mas a gente, como parte envolvida, às vezes sofre um calor como esse de agora. mas nossa posição é muito serena, transparente, clara. nosso negócio é proteger o usuário, permitir que ele se expresse. se ele abusar a gente vai agir.

pas - o caso do orkut soa como uma atitude para gerar visibilidade, jogar uma ameaça num local que pode fazer barulho...

fx - não, não digo isso. digamos que estivesse na fronteira pegando imigrantes ilegais. a fronteira não tem uma estrada só. tem várias estradinhas vicinais que cortam, uma principal que corta e uma linha de trem que corta a fronteira. vou ficar parando carro a carro no meio do mato, na estrada principal, ou vou parar um trem? vou parar um trem. a chance de achar cem ilegais dentro do trem é maior que num carro de uma ou duas pessoas, porque pego um carro aqui enquato outro passa ao meu lado. vou ficar gastando energia atuando pontualmente enquanto estão passando cem pela fronteira? a analogia é mais ou menos essa.

pas - existe alguma chance desse tipo de ação ser eficaz? conseguiriam inibir compartilhamento de música com esse tipo de ação?

fx - essa é a queixa da indústria. espero que a indústria não esteja fazendo só isso, que enquanto tentam barrar a sangria estejam também tentando resolver a doença. uma imagem que me vêm à cabeça é aquela do esquilinho d'"a era do gelo". fura um buraquinho no reservatório de água, ele bota um dedo. fura do outro lado, bota outro dedo, outro dedo, o dedão do pé, o nariz, e a represa racha. a indústria não vai ficar tapando buraquinho por buraquinho.

pas - se a indústria é o esquilinho, então ela está mesmo em maus lençóis...

fx - a indústria está em maus lençóis, não. o modelo de negócios é que está. o modelo de negócios tem buracos, e buraco não é culpa do google. o que a gente tem que achar é que modelo de negócio se pode fazer que não tenha esse tipo de coisa. sinceramente falando, eu não sei qual tamanho de estrago uma comunidade como a discografias pode causar para a indústria fonográfica. me parece pequeno. punir exemplarmente uma comunidade, um usuário, pode ser emblemático para a campanha deles. mas me parece que seria mais vantajoso para todo mundo, em vez de matar seus usuários que gostam de música, tentar oferecer o que querem na hora que querem. alguém me disse isso, acho que um repórter da "folha online"... eu não conheço e nunca entrei nessa comunidade, perguntei o que ele achava da discografias, ele disse que gosta muito, porque lá estão bolachões clássicos de mpb que estão fora de catálogo, que não se acham nem em sebos. é um patrimônio histórico que precisa ser circulado. é a opinião do repórter, ok, eu concordo, mas por que não se sugere para a indústria fonográfica lançar isso em forma de mp3?

pas - é incrível que não tenham feito isso até hoje.

fx - a impressão que dá para mim é que tem dinheiro na mesa, tem gente querendo consumir esses produtos, e eles não querem vender.

pas - mas também pelo temor de que, se eles próprios soltarem isso na rede, estariam entregando de bandeja...

fx - mas cobra, o itunes faz isso. cobra 2 reais por uma música velha que já vendeu o que tinha que vender na época - isso é aqui entre nós, não é a opinião do google, é minha opinião pessoal.

pas - na prática a gente sabe que não seria assim, porque cobrou uma vez, mas aquilo vaza de mil outras maneiras, sem existe.

fx - sim, mas você pega algum, né? hoje não estão pegando nenhum.

pas - parecem esperar por regulamentação, e enquanto isso o tempo se perde.

fx - é. há pouco tempo, eu estava fazendo uma matéria para uma revista de macintosh - eu ainda escrevo -, e entrevistei maurício bussab, da tratore, aquela distribuidora de discos. ele me falou, são palavras dele: a indústria está atirando no próprio pé. para ele, é muito mais interessante vender discos como o itunes faz, ou como o sonora do terra faz, cobrar assinatura do usuário e deixar ele consumir a música que quiser, do que ficar tentando correr atrás e atirar no consumidor. é um cara da indústria. também entrevistei joão marcello bôscoli, ele fala a mesma coisa, que as majors estão cegas. esse cara tem uma visão boa. a trama virtual está fazendo isso, é um celeiro de novos talentos e o cara está ganhando dinheiro. não dá para dizer que a trama está indo mal.

pas - [depois de encerrar o interrogatório.] não sei se você sabe disto, mas no site do google tem um telefone de contato para a imprensa que cai numa clínica de depilação...

fx - é mesmo?

pas - a mulher lá se diverte, diz: "todo mundo liga, não é aqui, mas se você quiser fazer uma depilação a laser podemos marcar".

fx - [gargalhadas] na verdade é um problema sério aquele site, não consigo ter a senha de acesso a ele. é uma página perdida, não consigo mexer nela. mas vamos detonar um dia desses, vamos botar abaixo.

@

pensando aqui, só uma pergunta que eu não fiz ao diretor de comunicação, sobre o google sustentar que "o responsável final pelo conteúdo é o usuário que importa, que subiu, que fez o download". será que, num momento em que o google não estivesse forte como está hoje, essa afirmação poderia se voltar contra os usuários?, contra nós? e, se acontecesse, o google (etc.) não ficaria mais parecido com a indústria fonográfica do que gostaria?

quinta-feira, março 26, 2009

era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada

agora, a versão do "mercado", via apcm, associação antipirataria cinema e música, o braço antipirataria das indústrias fonográfica e cinematográfica.

[se você for ao link acima, vai ver o que eu mais adoro num blog de texto: aqui, as coisas têm passado, presente e futuro. mas não têm passado, nem presente, nem futuro. porque aqui a gente pode flutuar malucamente entre ontem, hoje, até amanhã (é onde você está se estiver lendo este texto em 2309, 302 anos depois de ele ter sido escrito). pra sacar o que mudou e o que não mudou, confirmações e contradições etc. e tal.]

quem fala pela apcm é antonio borges filho, diretor-executivo e delegado aposentado da polícia federal. sublinho a última informação porque a assessoria de imprensa da apcm me procurou queixando-se de eu ter escrito "ex-delegado" (foi a única queixa que me chegou de lá). prometi que da próxima vez tratarei o "dr." antonio como "delegado aposentado da polícia federal", mas acho que não é caso de "erramos", concorda, dunha?

[ah, não me furto de comentar, mesmo antecipadamente: algumas respostas, em especial aquela do item 4, me pareceram ir em direções totalmente alheias às das perguntas. tentei comunicar essa impressão à apcm. mas ficou por isso mesmo. também procurei entrevistar a abpd (associação brasileira dos produtores de discos), o ecad (escritório central de arrecadação e distribuição) e duas das sociedades distribuidoras de direitos autorais. mas não rolou.]

o dr. diretor-executivo respondeu só por e-mail, foi como topou atender à solicitação da "carta capital". a ele, sem mais delongas:


1
pedro alexandre sanches - Qual foi exatamente o embate entre a APCM e a comunidade Discografias, do Orkut? Eles se dizem "ameaçados", que ameaças seriam essas (que, segundo eles, partiriam da APCM)?

antonio borges filho - Não houve "embate" algum, muito menos ameaças. Apenas passamos a solicitar de forma mais intensa e sistemática ao Google (responsável pelo Orkut), a retirada de links postados ilegalmente na comunidade Discografias (assim como em várias outras comunidades do Orkut), que direcionavam os usuários para download igualmente ilegal, de conteúdo musical de titularidade de nossos associados.

2
pas - Que outros tipos de providência a APCM tem tomado contra a enorme proliferação de blogs que disponibilizam discos inteiros para download?

abf - Informamos ao provedor que hospeda o blog para que retire o conteúdo ilícito. Em geral, somos atendidos.

3
pas - A maioria desses blogueiros e mantenedores de comunidades argumenta não possuir qualquer fim lucrativo; estariam apenas compartilhando o prazer de ouvir música com outros apreciadores. Como a APCM interpreta a atuação desses consumidores?

abf - "Compartilhar" nesse caso é o equivalente a disponibilizar, que por sua vez é uma forma de distribuição. Conteúdo protegido por direito autoral só pode ser disponibilizado por seus titulares.

4
pas - Já houve algum caso concreto de processo, ou algo parecido? A APCM tem idéia sobre quem são as pessoas que disponibilizam música via blogs e comunidades do Orkut? Interpreta-os como - desinformados, antiéticos, infratores, criminosos?

abf - Por enquanto estamos aperfeiçoando a cooperação com provedores de acesso e conteúdo para retirada de conteúdo ilegal de sites, blogs, comunidades, fóruns de discussão etc.

5
pas - Há blogueiros que definem como princípio disponibilizar apenas discos que estejam fora de catálogo - ou seja, afirmam trazer de volta à circulação títulos que a indústria fonográfica não quer ou não pode colocar no mercado. Como a APCM e a ABDP reagem a essa argumentação?

abf - Nunca houve tanto acesso à música como há hoje. A digitalização dos acervos vem acontecendo em ritmo acelerado, mas ainda insuficiente em relação a todo o conteúdo musical produzido antes do digital. Entretanto, a não-disponibilidade temporária de determinado título não dá a ninguém o direito de disponibilizá-lo ilegalmente sem qualquer licença muito menos remuneração a seus titulares.

6
pas - Não haveria, atrás da repressão a esses casos que não disponibilizam discos em catálogos nem lançamentos e pré-lançamentos, uma postura do tipo "não lançamos e não deixamos ninguém ouvir", por parte da indústria cultural? Por mais que haja irregularidades e infração de direitos autorais, a atitude dos blogueiros não seria reação reflexa a uma outra atitude da indústria, de não colocar seu gigantesco acervo à disposição, de modo físico ou virtual, gratuito ou pago?

abf - De forma alguma. Para a indústria o desenvolvimento do mercado legítimo em variados modelos de negócio é prioridade.

7
pas - Conforme o mundo se adaptou a novas tecnologias no decorrer do século passado, criaram-se regras e regulamentações para a difusão de música, por exemplo via rádio e televisão, e hoje não ocorre a ninguém acusar proprietários de rádios e TVs de serem "piratas" ou de infringirem direitos dos artistas. Música não é como água saindo da torneira?, e nesse universo da internet não deveria ser tomado um caminho equivalente, de cobrar pela utilização de música, e não pela comercialização de produtos físicos?

abf - Formatos físicos ainda representam 80% do faturamento com música gravada no mercado mundial, segundo o IFPI [international federation of the phonographic industry]. Os modelos de negócio do mercado digital estão em pleno desenvolvimento e progresso e incluem tanto a venda de downloads como a subscrição de serviços de acesso a acervos quase que ilimitados. Estes modelos de negócio tendem a se desenvolver e popularizar nos próximos anos.

pas (8) - A atitude meramente repressiva, em vez de colaborativa e propositiva, não está cavando (se é que já não cavou) um gigantesco abismo entre os produtores de discos e os consumidores de música? Como seria possível lutar contra isso, fora do âmbito policial e de repressão?

abf - No caso presente, não estamos no campo da repressão, muito menos na área policial. Trata-se de solicitação ao provedor (no caso o Google), de retirada de conteúdo (ou links para conteúdo), cuja disponibilização para reprodução não autorizada ocorria de forma ilegal nas comunidades integrantes do sistema (Orkut) administrado pelo provedor (Google).

@

abaixo, uma lista dos membros associados à ifpi, retirada do site da própria (ih, será que é pirataria eu disponibilizar os links e os logos aqui?). meu deus, como ainda me causam comichão e arrepios vários desses logotipos!

daikiri

pirateei da flávia durante, que indicou esse blog sensacional, de pôsteres (lindos) de shows. design brasileiro de música, mora? e ronei jorge, direto da bahia.

quarta-feira, março 25, 2009

um passeio no mundo livre: banditismo por uma questão de classe

chamamos às falas agora carlos eduardo mirand. o cara é produtor musical de mundo livre s/a, raimundos, skank, o rappa, virgulóides (lembra o sensacional "bagulho no bumba"?), cordel do fogo encantado, cansei de ser sexy, móveis coloniais de acaju, entre muitos outros. foi o jurado mais divertido do "ídolos" e, depois, do "astros", no sbt. esteve na idealização do projeto trama virtual, ainda hoje inovador em terras brasileiras.

e é baixador assumido de música via internet. dá-lhe, miranda.

pedro alexandre sanches - de modo genérico, qual é sua opinião do cenário que está armado hoje, com blogs disponibilizando música, a indústria fonográfica perseguindo...?

carlos eduardo miranda - eu vou falar, sou fã de blogs de música, mas muito fã mesmo. sou usuário de blogs de música. mas acho que eles deveriam se restringir a a) megalançamentos, coisas novas antes de ser lançadas. para ser uma pré-estreia dos discos, a internet é o lugar mais quente. b) resgatar coisas que não estão em catálogo. e c) trazer músicas de lugares do mundo que a gente nunca ia imaginar, cada lugar se comunicar com os outros lugares do mundo. esses três tipos de coisas são muito interessantes - além de coisas alternativas, remixes. acho muito legal, baixo música direto em blog. no caso de a), para ter os discos em primeiríssima mão, e quando lança o disco eu compro. se eu tiver acesso ao disco, eu compro. no caso b), é um papel cultural que ninguém teve culhão e coragem de fazer. e c), por si só está explicado, intercâmbio. acho que devia ser legalizado, autorizado, até porque os blogs têm muito pouco acesso. e outra coisa, os blogs tinham que ser também incentivados a sempre escrever sobre o disco. a maioria tem textos, os mais legais todos têm, falam dos discos e dos artistas, contam histórias, às vezes recuperam discografia.

pas - são jornalísticos.

cem - é. isso eu acho incrível, cara. é o papel que as revistas desempenhavam antigamente, hoje os blogs desempenham. sou completamente favorável nessas condições. acho que é uma besteira um blog que fica colocando disco novo dos paralamas depois que já lançou. acho que o cara que faz isso é um merda. não tem por que pôr no blog, até porque tem no torrent. a não ser que esteja cumprindo essa função de ser um blog de intercâmbio. por isso digo que devia ser mais ou menos legalizado internacionalmente - é aquela coisa utópica, mas o blog de intercâmbio teria que ter textos em várias línguas. quem se enquadrasse em tal e tal conforme seria livre. é uma utopia, mas uma discussão sobre o assunto é muito bem-vinda.

pas - o que eu ia perguntar você já respondeu, mas o caso em que você é contra seria só esse que citou?

cem - não é que sou contra, só acho idiotice o cara ficar ocupando espaço e gastando o tempo dele para botar discos que você vai na esquina e compra, ou vai no torrent e baixa. acho uma inutilidade.

pas - o torrent, a rigor, não seria tão ilegal quanto os outros meios?

cem - mas o torrent é um lixão mesmo. se quero agora o disco do fulano, vou ali, pego e ouço. o torrent é o ensaio mais próximo do futuro, que vai ser o streaming. acho que o futuro é o streaming, ninguém mais vai guardar nada e vai ter acesso a todo o repertório da história da humanidade em qualquer lugar do planeta. só que isso só vai acontecer se não depender das gravadoras fazerem o upload das coisas, se elas deixarem o público fazer. senão isso não vai funcionar nunca. que seja o repertório livre e tu pague uma mensalidade, como paga água e luz. vai dar muito dinheiro pra todos, todo mundo vai ganhar dinheiro. vai acabar esse problema de quem ganha dinheiro e quem não ganha, porque tudo vai ser visível na internet no futuro. essa coisa do cara invisível na internet fazendo falcatrua vai acabar. uma hora você vai ter que usar seu cartão de crédito o tempo todo na internet, todo mundo vai saber quem tu é.

pas - e você não acha ruim isso?

cem - não, eu acho natural. a internet vai ser tão passível de ilegalidade quanto o mundo real. vai continuar sendo, mas vai ser subterrânea. hoje, não, hoje internet é primeiro lugar em ilegalidade, está à frente das lojas, de tudo. no futuro isso vai inverter, em primeiro lugar na internet vai estar o comércio legal, que vai ser muito útil, e tudo vai ser visível e exposto.

pas - você diz que o problema acaba se venderem música com mensalidade, mas vê alguém tomando alguma providência nesse sentido? o que a gente vê é outra coisa...

cem - é o que estou dizendo, se depender das gravadoras, mesmo que esteja funcionando a parte tecnológica para isso, elas não vão dar conta de fazer. as gravadoras vão ter que ter acordo com usuários, de que todo mundo vai poder fazer upload de tudo e todo mundo vai receber também uma fatia desse dinheiro. mas acho que ninguém vai ter que guardar nada. tu liga no carro, quer ouvir tal coisa, quer ouvir o programa do fulano. bota lá, o programa toca as músicas que quer. gostei dessa? quero ouvir mais ouvir música desse cara, pronto. o futuro é assim.

pas - daqui a quanto tempo?

cem - ah, depende da evolução da tecnologia de transmissão de dados. não sei dizer porque não tenho conhecimento muito profundo aí. mas vai depender disso.

pas - mas você vê gravadoras se adaptando a isso, ou elas vão ser extintas no processo?

cem - é que gravadora, no formato tradicional, já está extinta, né?

pas - só não está porque está lá, entrando na justiça e processando gente.

cem - é, estão só atrapalhando o processo. em vez de se preparar para o futuro, estão se agarrando ao passado e atrapalhando o andamento do processo. deviam olhar para frente e se preparar para o que vem, que vai dar dinheiro para todo mundo. e tem que abrir para o público. só os usuários vão conseguir fazer upload de tanta riqueza que existe de música. as gravadoras não têm nem controle, elas nem sabem o que têm.

pas - e os baixadores, se somarmos todos juntos, parecem saber.

cem - o público sabe. os usuários sabem. os blogs são exemplo disso. tem cada blog incrível, né, velho?

pas - miranda, se o futuro é esse, como você explicaria o atual momento, de a apcm ameaçar e pressionar para fechar comunidade no orkut?

cem - uma vergonha. acho isso uma vergonha. deveriam tomar vergonha na cara, porque estão vendendo a mesma música várias vezes. já venderam em vinil, a mesma música já venderam em cd, e estão querendo vender agora a mesma música em download. já paguei por aquilo, cara, posso usar aquelas músicas quanto eu quiser na vida, pô. podem parar de me roubar? não digo que é roubar, mas é injusto isso. outra coisa: a pessoa ter as músicas digitais é uma coisa muito frágil, se dá um pau no hp tu perde tudo. então não é assim, baixa as músicas e é livre. é como a fita k7, se enrolou no som do carro, acabou, perdeu. vai ter que ir lá baixar de novo. e o trabalho que dá? então é isso, somos todos cientistas em busca do futuro, testando.

pas - você diz que é uma vergonha. essa atitude é também um erro de avaliação, um erro tático?

cem - com certeza, é um erro tático. deveriam ir lá conversar e tentar entender essas pessoas, por que isso acontece, quem usa aquilo, para saber como fazem para ganhar dinheiro com isso, ao invés de trancar. trancando não vão descobrir nada. não mate sua cobaia.

pas - você disse que baixa música, que é entusiasta. aos olhos deles você é um "criminoso"...

cem - ...e aos meus olhos criminosos são eles, que não relançam os momentos importantes da música, que são exatamente os que vou procurar nos blogs. não vou pro blog para baixar o novo do radiohead nem o do u2. vou procurar discos que estão fora de catálogo há muitos anos. eu não teria acesso a esses objetos culturais de tanta relevância se não fosse o cara do blog. não estou indo para pegar o que a gravadora está me oferecendo, isso eu compro.

pas - mas muita gente faz isso...

cem - por exemplo, se é caso de um lançamento, vou no blog, baixo, escuto, e assim que eu conseguir eu compro o disco. não é assim que eu tiver dinheiro, é assim que eu tiver acesso ao disco, porque sou um comprador que compra. poucas pessoas compram disco na mesma quantidade que eu. eu sou um criminoso? faz-me rir, faz-me rir. não tenho mais onde pôr disco na minha casa, todos comprados legalmente.

pas - compra quantos, em média?

cem - uma média? hoje baixou um tanto essa média, mas ainda compro uns 40 discos por mês. antigamente comprava uns 90, hoje compro uns 40, porque discos lançados no mercado nacional praticamente se extinguiram, com exceção de um ou outro.

pas - quer dizer, você compra menos porque tem menos para comprar, e não porque está baixando mais música?

cem - porque tem menos para comprar, é. eu compraria muito mais, com certeza. importo tudo que consigo. tudo que gostei eu encomendo, tudo, sem exceção. tem disco que pago mais de 100 reais, comprei uma coleção de discos de hillbilly, 120 reais cada cd, com o maior prazer. compro mesmo. então eu não sou um criminoso. criminoso é quem não lança isso, é quem impede a cultura de andar. não tem crime maior que impedir o livre trânsito da cultura.

pas - e sobre o argumento mais usado pela indústria, de que ao fazer download você prejudica os artistas, que não irão receber direito autoral?

cem - é uma questão muito relativa, em transformação. o autor vai começar a receber de uma maneira diferente daqui pro futuro. vão achar maneiras novas de pagar, acredito que ele vá ser o cara que vende a música que fez para um cantor. não acho que o autor deva ser desmerecido, mas ele não pode ser um empecilho para o avanço da tecnologia e para o livre desempenho e distribuição da cultura. se o autor se acha tão ligado à cultura, tão importante, ele não pode fazer nada que impeça que a cultura se espalhe, senão é um criminoso também. tenho a maior admiração pelos autores, quando falo isso de maneira alguma é um demérito, mas vão ter que rever a maneira de ganhar o dinheiro deles, de acordo com o mundo novo que está se configurando. se tu não quer que o ladrão entre na tua casa, tenha uma porta que impeça isso. se o ladrão consegue abrir essa porta, você teria que ter uma porta melhor.

pas - o que você quer dizer é que, dependendo do ângulo, todos os lados podem ser vistos como criminosos, a gosto do freguês?

cem - é, quer dizer que a humanidade inteira é criminosa. todo mundo baixa música. então todo mundo é criminoso, ou criminoso é quem tenta impedir? a visão do que é crime aí está muito equivocada.

pas - é difícil os artistas se manifestarem sobre o modo como estão entendendo isso tudo. como produtor que convive muito com artistas, o que você sente a respeito deles?

cem - alguns artistas têm muita clareza e fazem questão de participar desse universo, inclusive mandando seus próprios discos para os blogs. já outros, mais agarrados aos velhos tempos, estão super-rígidos em relação a isso, querem continuar com os velhos padrões, sem saber que estão sendo cúmplices do atraso.

pas - quem você indicaria entre os que veem o tema com clareza e poderiam falar a respeito?

cem - ah, os de sempre, né? curumin acho legal para falar, ele tem bastante noção. os móveis coloniais de acaju vão lançar agora um disco muito legal, que produzi, e estão disponibilizando uma música por dia, mas em versões inéditas, que não as do disco. e vão botar o disco inteiro de graça no projeto disco virtual da trama. tem uma série de artistas, gilberto gil..., dj dolores, que nem lançou o disco novo no brasil.

pas - com exceção do gil, você citou artistas mais novos. são esses que têm mais clareza, de modo geral?

cem - é, porque conhecem mais este mundo.

pas - mas também são os que precisam mais se impor e se expor do modo novo, porque provavelmente de gravadoras não podem esperar nada.

cem - é, também é útil para eles. já sabem que é assim mesmo que têm que fazer. essa geração nem considera mais os outros caminhos. ninguém mais acredita em nada. eu ainda acho que vai existir cd para sempre. mas os caras são mais radicais, tem gente que estou gravando que nunca nem teve cd em casa, só conhece mp3. nem sabem de lançar disco em cd [ri]. mas o mais curioso hoje é que está havendo um terceiro tipo de pessoa que gosta só de vinil e mp3, não se interessa por cd. compram vinil, pagam caro e baixam mp3. continuam comprando, mas tudo em vinil. ninguém compra música digital.

pas - o cd é o patinho feio da temporada.

cem - é, exatamente, mas que vai durar por muito tempo. duvido que o cd vá morrer. não acho injusto as gravadoras se preocuparem com a propriedade delas. é justo, é delas, bancaram. mas é o seguinte: nós não vamos fazer nada com aquilo. todo mundo tem que conversar, ser parceiros. é o diálogo que vai trazer a transformação.

pas - você sobe música? faz blog?

cem - não, nunca fiz. nem tenho muita vontade de fazer, não. vontade empírica até teria, mas tenho a maior preguiça.

pas - não peço que cite nomes, mas você conhece gente que faz, gente do seu convívio?

cem - conheço, cara. tenho um amigo que faz isso, e sobe coisas obscuras, mega-obscuras.

pas - que não dariam lucro para gravadoras?

cem - é, nem teria risco de lançar nada disso.

pas - qual é o perfil médio do cara que constrói esses blogs, na sua opinião?

cem - do tipo de blogs que frequento, são amantes da música, e a maioria deles muito próxima da legalidade. na grande parte dos blogs que visito, são os próprios artistas que mandam material. e são blogs que, inclusive, têm link para compra do disco, coisa que também acho muito certa. deviam obrigar os blogs a ter link dos discos. a qualidade da música é outra. num futuro breve a gente vai ter uma resolução disso também, porque a qualidade de áudio vai voltar a valer. os aparelhos estão ficando baratos, e com qualidade. a gente vai reviver o velho e bom três em um, mas vai ser tv, som, computador. ninguém vai se contentar com mp3 tosco.

pas - se são os amantes da música que têm blogs e comunidades virtuais, é com esses que a indústria está brigando. tem alguma coisa errada aí, né?

cem - é, a indústria está brigando com quem sustentou eles a vida inteira. se alguém fez a indústria viver foram eles, esses caras sempre foram os cabeças do boca-a-boca. se algum disco da indústria vendeu muito porque se espalhou o boca-a-boca popular, foi por causa desses caras. então estão em guerra com quem os sustentou. deveriam rever suas estratégias, porque no futuro vão precisar desses caras. deviam contratar esses caras para ser executivos deles. os que ficaram lá são coitados que não sabem como fazer. como não entendiam nada de música, não entendem nada do mercado de música, de como age quem gosta de música. não entendem nada de nada. dizem que estão defendendo a música, quando na verdade estão defendendo os empregos deles. têm que fazer alguma coisa, que seja brigar com os usuários [ri].

pas - isso é dramático, porque se acreditava que pelo menos do mercado eles entendiam.

cem - é, é uma pena. mas estão olhando o aliado e enxergando como vilão, tem algo muito errado. mas acredito que com o tempo o pessoal vai conversar. ninguém vai ficar preso na cadeia porque fez um blog. se ficar vai virar mártir. tudo acaba sempre bem, pode ficar tranquilo.

terça-feira, março 24, 2009

o pior que pode acontecer é os "pingo" da chuva me molhar *

olhemos para a contramão um pouco agora.

vão em direções divergentes das de pena schmidt as posições de marco mazzola. atual dono da gravadora independente mza e ex-diretor de multinacionais como as falecidas philips e ariola, ele é produtor de discos históricos que hoje povoam e alegram a blogosfera, assinados por artistas como elis regina, raul seixas, jorge ben, gilberto gil, rita lee, milton nascimento, chico buarque, ney matogrosso, martinho da vila, elba ramalho, marina lima, rpm, chico césar, zeca baleiro, ivete sangalo etc. e tal.

mazzola conversou por e-mail, foi mais ou menos assim:

@

pedro alexandre sanches - qual sua opinião geral sobre o atual momento do conflito entre indústria fonográfica e internet, especificamente esse focado nos blogs compartilhadores de música? por um lado, consumidores disseminam sem autorização material que é de propriedade de gravadoras, editoras e autores. por outro, a indústria tem de reprimir e ameaçar justamente aqueles que deveriam ser seus maiores aliados, os amantes de música. não há algo descompassado aí?

marco mazzola - claro que os moldes estão errados. na minha opinião, quando esta história de internet surgiu, as gravadoras como sempre fizeram "ouvidos moucos" para a questão, achando que isso nunca iria acontecer. de algum tempo pra cá a realidade deste assunto tomou proporções absurdas, e logo as gravadoras internacionais começaram a tentar proibir e punir os que praticavam este ato e tentar acordos de vendas com os provedores que distribuem música paga. as gravadoras demoraram para acompanhar a nova tendência, as autorizações para venda de música digital são muito morosas, portanto até o momento de um artista ou gravadora conseguir disponibilizar TODO o seu catálogo para a venda, se passou muito tempo. enquanto isso, elas já estavam desde o dia do lançamento nos sites compartilhados. agora a indústria corre atrás do tempo perdido para fazer que estes admiradores da música encontrem em todos os sites a música que gostam e está cada vez mais fácil. a briga é uma questão de hábito. e, pelos números citados no final do meu e-mail, acho que vamos conseguir.

pas - particularmente, você se sente prejudicado por este novo mundo em que todos os discos, de raridades fora de catálogo a pré-lançamentos, vão rapidamente parar na rede e são disseminados gratuitamente?

mm - sim, na minha opinião, as medidas que devem ser tomadas tem que ser no nível radical, punindo e prendendo os que praticam esta causa, como já vem sendo feito nos estados unidos e inglaterra. você fica três meses dentro de um estúdio criando com o artista um CD, gastando em músicos, estúdios, capa, marketing etc. e em seguida ao lançamento, e muitas vezes até antes do produto estar no mercado, este produto já está disponibilizado na rede. às vezes até mesmo raridades que não estão no mercado (muitas vezes para a gravadora que detém um catálogo imenso e discos que não estão à venda do mercado, a própria gravadora, como sabemos, como sempre não está preocupada em vender poucos cds, levando com isso ao descaso este trafego de música ilegal.

pas - compartilha da posição muito difundida entre instituições ligadas à música, de que todo baixador de música via internet é "pirata", portanto "criminoso"?

mm - o cara que faz este tipo de negócio para vender para terceiros, sim, está cometendo crime.

pas - vê algum modo pelo qual pudéssemos equacionar e harmonizar os pontos de conflito, de modo a buscar soluções, e não só as brigas e censuras que gastam enormes energias hoje em dia?

mm - acredito que estamos começando a organizar este tipo de negócio. hoje em dia, praticamente todo o catálogo do artista já está disponível para a venda, em todos os sites do mundo, basta o sujeito procurar pela música nos sites de buscas que irá encontrar um site com a VENDA de música. é muito fácil e surgem cada vez mais facilidades e promoções via internet e celulares para quem baixa música PAGA.

alguns dados recentes da abmi [associação brasileira da música independente, criada como uma alternativa ao domínio da abpd, associação brasileira dos produtores de discos, que é controlada pelas multinacionais e pela som livre (da globo)] para você ter uma idéia de como estamos evoluindo neste caminho:

- em 2007 o comércio de músicas on line registrou um aumento de 1.619%;

- estima-se que em aproximadamente cinco anos as vendas física e digital dividam 50% do mercado fonográfico;

- em 2007 a venda de música digital cresceu 185% em relação a 2006;

- em 2007 as vendas de músicas digitais foram estimadas em 9 bilhões dé dólares;

- em 2007 a venda de álbuns virtuais cresceu 54%.

temos um exemplo de um grupo chamado el niño, que é desconhecido da grande mídia e foram registrados mais de 250 mil downloads pagos a 3,99 reais. ou seja, a população começa a mudar seus hábitos.

@

avisei a ele que a reportagem tinha saído e mazzola, em comentário generoso, reclamou gentilmente de no texto eu ter deturpado o que ele disse. reavaliando agora, acho que tem toda razão (e aí você pode ver o perigo de mau jornalismo, quando o repórter recebe de má vontade uma opinião da qual ele próprio discorda). eis o que ele esclareceu (e para o que eu de fato tinha feito "ouvidos moucos") num segundo e-mail:

"oi pedro, muito boa a matéria.

porém você não colocou minha citação mais importante e o que representa a indústria e minha opinião.

o cara que faz este tipo de negócio para vender para terceiros [este grifo é dele], sim, está cometendo crime.

são para essas pessoas que eu defendi a punição, e não para qualquer internauta ou colecionador que disponibiliza a música gratuitamente, apesar da legislação ser muito omissa neste sentido. o tema ainda é embrionário e existem inúmeras opiniões.

como a matéria também está no seu blog, existe a possibilidade de fazer esta correção ON LINE?

se puder, agradeço!"

posso, e devo, mazzola! está feita a correção on line. e olha só que interessante a convergência: eu admito que interpretei de má vontade uma posição "da indústria", e mazzola dispõe da blogosfera para retificar e reafirmar sua opinião (que tomei a liberdade de adaptar para letras minúsculas, o que é uma bobagem, mas tem lá sua simbologia). bacana. bem bacana.

(de brincadeira, imagina só como seria essa mesma correção no cantinho do "erramos" da "folha". imagina como seria na escalada do "jornal nacional".)

(*) o título foi adaptado de "os 'pingo' da chuva" (1973), dos novos baianos. ao que me consta, mazzola não os produzia naquela época. mas, sei lá por que, essa história me trouxe aquela letra à cabeça.

segunda-feira, março 23, 2009

deixa eu te ver, peixe

e abaixo um extrato dos comentários à "caiu na rede é peixe", no site da "carta capital". tento captar uns que abordam aspectos ignorados na reportagem e na entrevista com pena schmidt, e também uns que se valem retórica bem diferente daquelas usadas diariamente na mídia (às vezes até com erros de português, mas quem se importa com a forma diante dessa variedade de conteúdo?).

GILBERTO TEOTONIO DA SILVA
"(...) voce ganha 450,00 compra um butijâo de gas, paga a luz a agua, faz a feira, faz o mercado, compra uma roupa, nâo muito boa, paga uma prestação, nâo da para compra um dvd, original nâo nem um cd, é muito caro."

Carlos R Merlin
"(...) Se não fossem os blogs e a troca p2p, eu não teria as músicas antigas que sempre ouvi no rádio. Além de não encontrá-las no mercado, o preço cobrado é absurdo. Há que se falar também dos impostos e lucro das indústrias, que são bem maiores que os 'direitos' autorais. Trata-se realmente de dinheiro: quem sempre ganhou demais e controlou o que é 'vendável', não sabe perder um pouco. Se eu não conseguisse as músicas pelas trocas na internet TAMBÉM NÃO TERIA CONDIÇÕES NENHUMA DE PAGAR O PREÇO COBRADO PELOS CD'S E DVD'S. (...)"

GOODPLAYER
"Esse tiro de canhão que a APCM deu matou uma mosca. Na outra semana já havia a comunidade Discografria - O Retorno."

Gilson
"(...) Proibir a livre expressão na internet? Perigoso, parece chavismo."

Thor
"A Industria de Entreterimento esta Louca, quer enfiar goela abaixo seus carissimos projetos, cultura só para quem pode comprar,Isso é um absurdo. Quando tirarem todos os Links de Download que eles consideram pirataria, Nós usuários Vamos colocar na internet nossa arte, e Eles os Exploradores seram esquecidos e teram que jogar no lixo suas produções. Usuários nos seremos a nova ordem!!!!!!!!!!"

Rodrigo Bentivenha
"O que acontece é que a indústria está vendo seu poder de domínio do mercado ser comido pelas beiradas por um meio democrático. Na minha adolescênica, cd's eram vendidos a 12, 15 reias, hoje o preço médio é 30 reais. Isso significa ter de deixar de comprar comida para comprar cd, aí está o verdadeiro roubo. Violação de direitos autorais? Isso é piada, pois todo mundo sabe quem é que lucra de verdade com a venda de cd's e não é o artista, são as gravadoras, o artista é um funcion?rio encarregado de produzir renda para a industria. os blogs e comuidades de compartilhamento de mp3 representam a democracia virtual. (...) Crime é colocar um cd a venda pelo preço absurdo que colocam, obrigar a população a deixar de comer, de beber, de vestir se quiser ouvir música."

Eliel
"(...) o Problema q os artista ñ querem abrir mão da vida de luxo q eles levam. (...)"

leilane
"na matéria esqueceram que existe uma discussão bem avançada em relação a propriedade intelectual. e q existe um tal de azeredo com seu projetinho de lei tramitando no senado para regulamentar os crimes na internet. o texto poderia trazer mais vozes para enriquecer a discussão. achei quase pobre. o óbvio."

emerson aguiar
"Muito engraçado essa tal Associação Antipirataria Cinema e Música exercer pressão sobre os blogs e comunidades que disponibilizam cultura e arte, GRATUITAMENTE, para as pessoas que não em acesso aos materiais, muitas vezes, raros ou inexistentes no Brasil. Só por vontade da famigerada indústria fonográfica que, como os senhores do café ou os operadores do mercado financeiro, querem utilizar a pressão para afastar as iniciativas de insurreição ou de controle do mercado, e para isso utilizam de toda sua truculência, digo, influência. (...) Temeis senhores feudais e operadores de subprime do mercado fonográfico, que ainda vociferam por presenciar a agonia de um modelo de mercado cultural que está falindo. A oligarquia cultural está com as barbas de molho, pois a queda da bastilha está a caminho (...)."

marcosomag
"(...) As gravadoras não defendem direitos autorais. Ameaçam todos aqueles que buscam a distribuição remunerada direta de obras musicais dos artistas para o público. A RIAA ameaçou processar o serviço espanhol peer-to-peer Piolet, que propunha pagar os downloads direto aos artistas. As gravadoras são um entrave ao progresso. (...)"

Fabio
"Eles alegam que disponibilizar é crime mas escondem a frase mais importante: 'COM INTUITO DE LUCRO'.. é assim que está escrito na lei e eles não divulgam.
Para mais detalhes leiam esse artigo.
http://www.conjur.com.br/2007-ago-20/download_filmes_livros_uso_privado_nao_crime "

Marko
"(...)a maioria dos musicos sempre cortou um dobrado pra viver da Musica. Agora, a partir dos ultimos 10, 11 anos Chegamos a 'Economia da Cauda Longa' (tb mas nao apenas) na Musica. Entao, o choro das gravadoras e d uma minoria d astros pop, do ponto d vista capitalista, embora seja por um lado compreensivel no esperneio juridico, o mesmo eh amplamente questionavel (...)"

Fernando
"Chegou a hora da libertação da cultura."

Alex Arcanjoleto
"(...) É fato que com a internet a produção e qualidade cultural cresceram muito porque fugiram de um determinado controle dos mainstream de rádios, canis de tv e orientação das gravadoras pela famoso 'jabá', hoje mais sofisticado. (...)"

@

em tempo: fui conferir o artigo indicado pelo leitor fabio, publicado no consultor jurídico, e de fato. nem é novo (na real é de quase dois anos atrás), mas entre outras coisas de grande importância explica porque não somos criminosos os que baixamos música na internet, nem sequer o são os que compram discos piratas no camelô.

não sei quanto a você, mas eu confesso que nunca tinha ouvido falar nisso. e acho que o próprio texto, assinado por manoel almeida, explica por que é que isso de que estamos falando não é assunto popular (alô, leoni):

"As campanhas anti-pirataria são cada vez mais intensas e agressivas e os meios de comunicação (muitos dos quais pertencentes aos mesmos grupos que detêm o monopólio sobre o comércio e distribuição de músicas e filmes) cumprem seu papel diário de manter a opinião pública desinformada".

caiu na rede é peixe

e a "carta capital" colocou na rede a reportagem "caiu na rede é peixe", está aqui, e provocando vários comentários por parte de um público mais ou menos diferente do que vem sempre (ou às vezes) aqui ao blog. tempos líquidos!

sexta-feira, março 20, 2009

é pau, é pedra, é pena

segue abaixo uma das várias boas entrevistas feitas para a reportagem "caiu na rede é peixe", da "carta capital" 538, nas bancas neste fim-de-semana.

trata-se de pena schmidt, ex-executivo, diretor e produtor de gravadoras mulltinacionais (esteve na warner à época do advento de titãs, ira!, ultraje a rigor e outros), ex-dono do selo independente tinitus, ex-presidente de associação de gravadoras independentes, diretor de palco em grandes festivais de música, atual diretor do auditório ibirapuera (patrocinado pela telefônica tim, registre-se). entre muitas outras coisas.

a quantidade de temas importantes - e fascinantes - aqui abordados é praticamente incontável, então elejo apenas algumas frases e termos-chave para ressaltar com negritos. mas a íntegra é que é, uma verdadeira aula de amor à música.

à entrevista, ela fala por si só:


pedro alexandre sanches - gostaria de ouvir suas opiniões sobre o modo como hoje se compartilha música, via blogs e comunidades virtuais, sobre a repressão por parte das gravadoras e sobre o fechamento da comunidade discografias, no orkut. ela foi fechada, na verdade pelos próprios coordenadores...

pena schmidt - ...atendendo a pedidos, né? você não está no twitter, não, está?

pas - estou, mas não me habituei ainda...

ps - estou começando a me divertir com isso, botei uns três comentários sobre isso hoje [segunda-feira 16]. pintou um link que o leoni botou e eu passei para frente, de uma matéria de um cara inglês que escreveu de uma forma sensacional. assim: devemos esperar consolidar o modelo do negócio, ou podemos pular no abismo?

pas - o cara é de gravadora?

ps - é. ele explica, um raciocínio bacana, não é meu, mas está lá. meu, a revolução dos livros no tempo do gutemberg foi feita assim. ninguém sabia para onde ia, nem o que fazer. a igreja e o estado eram contra, por princípio, e de repente um fulano inventou o livro menorzinho, que gastava menos papel, era mais rápido de imprimir. e foi, acabou, não teve como segurar ou administrar. é a mesma coisa. aí tem uma frase no final, extraída da internet de 1990 e poucos, o cara dizia assim, ó: "se um garoto de 14 anos nas horas de folga pode detonar o seu negócio, e ainda por cima não por ódio, mas por amor, você tem um problema" [ri].

pas - é até uma mistura de amor e ódio, não?

ps - mas é por amor à música. aí os caras vão lá e tiram 920 mil inscritos na comunidade, quase 1 milhão de amantes de música. botei um comentariozinho assim: "marketing moderno: a indústria da música vai vender os seus produtos para quem não gosta de música". são 920 mil consumidores a menos. você acha que são 920 mil que vão gostar mais das companhias, que vão tentar entender o porquê das coisas? não, é gente que está sendo alienada.

pas - é a já velha máxima de que a indústria está brigando com quem ela deveria agradar.

ps - é, e que negócio pode prosperar nessas condições? botei uma frasezinha lá, um resumo: na verdade temos uma defesa de modelo de negócios. se alega a defesa do direito autoral para fazer esse tipo movimento, de fechar site. mas de verdade é só a defesa de um modelo de negócio, de um modelo que demonstra ser incompetente para cuidar dos interesses dos autores.

pas - você está dizendo que não é verdade que eles tenham o interesse de defender o direito autoral? é discurso?

ps - é, só discurso, porque o que estão defendendo é o modelo de negócio deles.

pas - eles é que não sobrevivem se pararem de vender disco.

ps - não sabem fazer de outra maneira, e querem que o mundo todo pare para eles, para eles continuarem sem descer do mundo. não estão tendo capacidade a se adaptar a um novo meio de comunicação. estamos falando de uma indústria que sempre lidou com essa ambiguidade. a indústria, sempre, desde o seu princípio, deu para poder vender. no tempo que a música ainda era no piano de rolo, chiquinha gonzaga e zequinha de abreu eram demonstradores de loja. ficavam tocando piano para chamar atenção das pessoas. as primeiras vitrolas ficavam na calçada tocando música. quando começam a rádio nacional e as gravadoras, já era exatamente isso: toca no rádio para vender o disco, e de lá até 1990 e... quando mesmo fechou a última rádio de música [risos]? ainda tem uma ou outra, né? enfim, o caminho normal seria am, fm, mp3. os três significam a mesma coisa, veículos para divulgar. a indústria se recusou a entender a internet como isso. dá até para entender no primeiro momento, mas se recusou a se adaptar, pô, durante já 15 anos, dez no mínimo.

pas - e há uma contradição nisso, porque, tudo bem, a veiculação de música gratuita em rádio e tevê está regulamentada, eles recebem por ela, mas nesses meios ninguém reclama de que a música está sendo dada de graça ao consumidor.

ps - eles se recusaram a entender internet como um meio de comunicação. se recusaram a sentar na mesa e propor, conversar e buscar dinheiro no ecad [escritório central de administração e distribuição, que centraliza o recolhimento e repasse de direitos para os autores]. re-cu-sa-ram o direito do ecad de buscar dinheiro dentro da internet. se existe é uma coisa minúscula, quando na verdade deviam ter se juntado e forçado o ecad a se tornar um distribuidor.

pas - mas não é o ecad ou o brasil - a indústria daqui não está sempre simplesmente cumprindo ordens das matrizes lá fora?

ps - sem a menor dúvida. isso é outra parte do discurso do problema. uma parte do problema se chama internet e suas relações com a indústria, a outra parte do problema se chama multinacionais, as majors, a centralização do mercado versus o mercado, ou versus o público consumidor. a centralização é isto: quatro companhias administradas de londres, sem contato com seus consumidores. não existe mais produtor, departamento artístico nem porra nenhuma dentro de companhia de música. eles são só administradores mercantis.

pas - antes era napster, kaazaa, e-mule. agora a cultura dos blogs e, no caso brasileiro, do orkut suplantou aquilo, tornou tudo mais fácil ainda. como você vê isso?

ps - é o famoso "a tecnologia sempre vence", quem falou isso? as coisas são afetadas pelo avanço da tecnologia que é inexorável, o avanço da capacidade de atender demandas, o pc mais rápido, a memória mais barata, a banda se proliferando, o celular se transformando num mobile, numa unidade móvel manual, que tem banda, processamento, teclado, fala por escrito, tira foto, carrega música. não é isso? as pessoas compram, e usam, e querem mais. na fase atual o transporte de dados é uníquo, já está no ser humano. alguém falava outro dia que 97% dos cidadãos brasileiros usam o google [será mesmo, pena, tudo isso?]. não precisa ter computador ou celular, se encosta numa lan house e a primeira coisa que se aprende é usar o google.

pas - e, supostamente, é justamente o google que a indústria estaria pressionando para fechar as comunidades.

ps - tem uma escola de pensamento falando que existe uma batalha oculta para que se acabe o direito autoral, vinda para o interesse da microsoft, da intel, do google. [suspira] é fácil, né?, fulanizar os problemas.

pas - mas você acha que não tem cabimento isso?

ps - não é verdade, não é possível. o direito autoral da música nessa história, como a gente dizia antigamente, é o cocô do cavalo do bandido, perdido lá numa nuvem de poeira no fim do horizonte. estávamos falando de uma outra coisa, que é modelo de negócio. como se vai querer enfrentar tudo que estamos descrevendo, a mudança da sociedade?

pas - no fim do horizonte você veria algum consenso que pudesse ser criado para encontrar soluções? não se sai mais desta fase apenas de repressão, que não funciona, até aqui não tem funcionado.

ps - acho que uma próxima fase que pode se transformar em algo contemporâneo nos próximos anos é que algumas sociedades já enxergam isso como um problema de estado. deixou de ser um problema consumidor versus fornecedor, problema de procon. não, o estado precisa ajudar o mercado a se rearrumar. e uma das coisas que o estado tem o poder de resolver é atuar pela legislação, certo? do que estamos falando?, esqueci?, por causa de 22 pessoas 50 milhões se transformaram em criminosos? não, acho que é mais fácil a gente refazer a legislação para encarar a realidade social. na inglaterra já tem uma provocação do governo, que uma hora vai andar para frente. o governo está emitindo opiniões ou se manifestando a respeito do assunto, com certa frequência, de falar sobre cultura digital, de ir nos encontros da indústria e dizer "por que vocês não se entendem?, por que os distribuidores de banda larga e os distribuidores de conteúdo não sentam numa mesa e resolvem?", incentivando o dia que a telefônica for conversar com o ecad, que é uma das alternativas.

pas - na verdade a telefônica está deixando o ecad se enforcar sozinho, não?

ps - entendeu? a lei me permite fazer o que faço sem precisar me mover, e o ecad fala "só vou conseguir me mover se eu chamar todo mundo de bandido, pirata, ladrão", e nessa noção de "estou sendo perseguido até a morte, vou morrer". o estado se manifesta, há algumas tentativas de começar a discutir no canadá, na frança...

pas - pode-se dizer que no brasil também, não? o ministério da cultura também faz um pouco isso.

ps - existe uma preocupação de falar a respeito. ainda não é uma tentativa, mas é um movimento na direção de se discutir uma nova lei do direito autoral. sim, vai ter que passar por isso. o direito autoral no brasil faz parte da constituição, tem uma lei própria, é muito bem amarrado. e essas amarrações todas foram feitas de comum acordo com a indústria, 30, 40, 50, 60 anos atrás.

pas - você palpitaria que o brasil vai ficar a reboque, vai esperar acontecer em outros lugares para fazer igual, ou podemos tomar nossas próprias atitudes?

ps - é tudo muito difícil, né? temos aí uma campanha para presidente, já pensou se isso vira pauta? quando você olha, pô, isso não é problema tão sério assim, vamos falar de educação, de saúde. mas se continuar essa política uma hora as pessoas se declararão de saco cheio. e a gente não pode ficar sem leis.

pas - você vê alguma possibilidade de que dê certo a repressão por parte da indústria, da apcm [associação antipirataria cinema e música], um negócio que foi criado aqui?

ps - o que está se fazendo é gerar massa crítica para amanhã pressionar seu deputado e dizer: "deputado, assim não dá, vamos mudar essa lei". até ontem, era uma situação de incomodar pessoinhas físicas, tirar do ar sitezinhos, coisas miúdas. agora, não, começou uma coisa de tirar sites de formadores de opiniões - de formadores de opinão cheios de opinião, dos blogs. eles começam a enfrentar uma cultura que hoje é mais madura. o cara que está baixando sua música pela internet hoje vai começar a falar de "meus direitos digitais", que também é outro discurso interessante, direitos da cópia, como existem direitos humanos, da mulher, dos gays. agora quais são meus direitos digitais, que advêm do fato de eu ser fluente na cultura digital, de ela fazer parte da minha vida 24 horas por dia?

pas - mas muitos desses tem discursos precários também, não? às vezes se aproveitam da vitimização da indústria e meio repetem o discurso, se dizem perseguidos por ela, e não vai muito além disso. alguns dizem que só disponibilizam discos fora de catálogo e que pirataria é disponibilizar novidades. não faz sentido chamar alguns desses de piratas, ou criminosos?

ps - não sei, pedro, é tão difícil... a lei é o fato, a gente tem que trabalhar em cima dela. a lei diz que você não pode tirar seu cd para dentro do seu ipod, ponto final. o crime não é muito diferente de disponibilizar no seu site mediante um link ou colocar dentro do seu ipod. esse tipo de mudança de formato ou disponibilização não pode, fim, ponto. então tem alguma coisa errada com a lei, vamos começar por aí? o bom senso diz que sim. começa o chamado direito das ruas: eu já paguei, quantas vezes vou precisar pagar pela música?

pas - tanto que todos os blogueiros argumentam que não ganham nada com isso, que fazem sem fins lucrativos.

ps - isso. todo mundo nessa hora fica sem razão e com razão. sem razão pela lei, não tem como dizer que disponibilizar catálogo é menos crime que disponibilizar novidade. não é, é tudo igual. pode ser um pouquinho menos criminoso, mas é criminoso. a lei não dá abertura, não se encontra, não tem esse momento de contato com a realidade digital. então o resto todo é batalha de palavras, em defesa do meu negócio. "porque a internet fechou as lojas de discos", não é verdade. "porque quem tem a cópia pirata não compra disco", não é verdade. "cada vez que circula um disco pirata deixa de circular um disco legal", não é verdade. é guerra de propaganda. eu até diria até que é tentativa de se posicionar melhor para o momento em que haverá essa transação, para segurar meus direitos.

pas - pena, você esteve lá dentro por muito tempo. por que o catálogo das gravadoras não está disponível para download legal e pago? reclamam que os outros estão fazendo, mas não se faz nada, pelo menos aqui no brasil simplesmente não dão a alternativa. assim a indústria não fica sem discurso?

ps - pedro, de novo, são vários problemas complicados, grandes, enormes, mas um se chama joão, outro antônio, outro manoel. são problemas diferentes. o problema de onde está o conteúdo da indústria fonográfica, do que foi feito com ele, é assim: entre 1985 e 1990 houve uma mudança que foi a globalização que causou, a consolidação das empresas. aí você tinha empresas que eram tocadas por donos do negócio que tinham conhecimento artístico, de música, cultura popular, que tinham um passado, as continental, chantecler, beverly. você leu o livro da márcia tosta dias, "os donos da voz"?

pas - sim.

ps - ela faz lá um balanço na hora certa, acho que eram 17 companhias nacionais, que de repente fecharam todas, e entraram os conglomerados multinacionais que existem até hoje. a política dos conglomerados era pouco artista para vender muito. artista bom é o que vende 10 milhões. é melhor vender para 20 compradores que para 5 mil - e aí acabaram com as lojinhas, entraram os supermercados e as redes de lojas. esse tipo de política comercial, custo-benefício, a visão de administrador sem contato com o negócio, olhando só planilha, levou para isso, cara. hoje exacerbou de uma forma que, assim, para que lançar os discos velhos da angela maria? para que lançar uma caixa que vai vender 500 discos em seis meses e nunca mais?

pas - mas exatamente por isso, por que não colocar os discos da angela maria no site deles, por 50 centavos, ou o que for?

ps - pelo que estou te dizendo: não são administrados por gente que entende que isso tem valor. eles não entendem, um site de 920 mil pessoas se manifestando diariamente a favor da música não é a favor do negócio deles. o negócio deles é: que disco vai vender? então vende o que vende, fim. o resto não é problema meu. e o fato de eu ser dono do repertório, de eu estar sentado em cima do repertório, é problema meu, você não tem nada a ver com isso, não é problema da cultura.

pas - ou seja, no modo de ver deles a gente não tem nem o direito de cobrar isso?

ps - a lei diz que não. eles são legítimos representantes dos autores. por isso digo que entra uma questão de estado. não sou eu, não é você, talvez não seja a imprensa que vai ser capaz de forçar um dono de negócio a mudar sua política. os consumidores já se manifestaram contra, agora a imprensa talvez se manifeste contra, mas isso tudo ainda não tem o poder. a crise econômica global? os caras estão na última volta do torniquete, mas não abrem mão. está se transformando num teste de resistência.

pas - parece muito suicida, você concorda?

ps - 100%, eles não sabem o que fazer porque não são do ramo. o iron maiden esteve aí com 60 mil espectadores, certo? você acha que tem disco do iron maiden nas lojas por causa disso? não. acha que existe algum site que venda tudo do iron maiden por 5 reais? não tem.

pas - sua opinião particular é que eles não vão vencer essa guerra? ou pode ser que sim?

ps - eles vencerem essa guerra significa o quê? que o ipod será retirado do mercado? a lei será cumprida? você sabe essa história de que para cada ipod vendido são vendidas só 20 músicas no site da apple? é só fazer a conta, quantos ipods venderam e quantas músicas venderam.

pas - conclusão óbvia...

ps - todo ipod é ilegal. especialmente no brasil, onde é proibido pela lei tirar do seu cd para dentro do ipod.

pas - se no brasil não existe itunes, então aqui 100% dos ipods são ilegais.

ps - isso. no momento em que não sei quantas centenas de milhões já devem ter tocadores de mp3 no brasil, você acha que consegue tirar do mercado um aparelho que já cabem três dentro de uma caixa de fósforos?

pas - mas você acredita que podem tentar fazer isso? acho que não, né?

ps - essa seria a vitória deles.

pas - mas seria a vitória confiscando o aparelho que faz tocar música.

ps - se exacerbar, seria a próxima batalha. só não entram nessa porque eles não são bobos. a indústria fonográfica inteira, que é zero vírgula alguma coisa no orçamento da apple, vai brigar com a apple? você acha que querem bater de frente com a apple? não. então ficam nessa sacanagem. a indústria sempre teve esse desembaraço no trato com a imprensa, a indústria é do espetáculo. está promovendo um espetáculo de martirização.

pas - e a gente vê isso acontecendo em várias áreas, a "folha de s.paulo" chamando a ditadura de "ditabranda" e deixando seus leitores indignados com ela, por que estão fazendo isso? todo mundo pulando no abismo [silêncio]. você conhece blogueiros que põem música na internet?

ps - não, mas eu sei quem não faz isso, por exemplo, que é a maria luiza kfouri, que tem o site discos do brasil, que acho maravilhoso, e nunca foi a esse ponto para tentar manter aberta uma linha de diálogo - mas por mera decência da parte dela, porque ela não tem apoio de ninguém em lugar nenhum.

pas - haveria gente de dentro da indústria colocando música nos blogs?

ps - estamos falando de que, de vazamento?

pas - é, de pré-lançamentos, por exemplo.

ps - mas, pedro, isso existe desde que fizeram duas cópias do primeiro acetato. sempre, sempre. isso não é privilégio de hoje. e pior, a indústria sempre deitou e rolou com o vazamento do disco novo do roberto carlos ou do michael jackson, desde os anos 1960.

pas - hoje já não deita e rola mais.

ps - hoje, não. hoje ela simplesmente não sabe o que fazer com isso. como chama aquele cara que toma conta da propriedade do patrão capitalista? é só isso, o raciocínio é que está escapando uma galinha do meu galinheiro. não que ele possa fazer uso disso, não tem a menor noção de que isso pode ser uma coisa boa.

pas - perguntando de outro modo, qual é para você o perfil do blogueiro disponibilizador de música?

ps - não sei, pelo que a gente varre de um lado a outro, você tem o fã da banda, o colecionador que disponibiliza obras completas...

pas - ...por que o colecionador vai dar de presente para os outros? a gente não é da época em que ele tinha sua coleção como uma relíquia?

ps - sim. e ficava em casa. porque não podia andar com ela por aí, precisaria de um carrinho de mão. então o que ele fazia? chamava os amigos para vir tomar cerveja em casa para poder partilhar. colecionador solitário é tema de filme, não existe. a coleção é feita para a gente dividir, e nos acharmos, os que gostamos de raul seixas. o que os caras fazem? embrulham para presente, que o mundo goste do que eu gosto. é proselitismo de causa própria mesmo, quero mais que todo mundo ouça minhas obras completas.

pas - se alguém pedisse a você "me dá seu ipod inteiro para eu copiar", você daria, com prazer?

ps - depende de com quem estou falando. é igualzinho quem me pede para emprestar meu canivete suíço. para uns eu empresto, para outros digo que não trouxe. a relação aí tem sempre um filtro.

pas - pergunto para você porque confesso que me dá uma tremedeira pensar nisso. passei a vida inteira fazendo aquilo, está tudo dentro de um ipod e posso entregar para todo mundo.

ps - mas é para qualquer um? se alguém esbarrar com você na rua vendo um fone no seu ouvido e pedir para copiar, você deixa? ainda não. daqui a uns anos talvez isso seja tão social quanto perguntar que horas são. você não perde nada, certo?

pas - certo, é isso que a própria indústria não entende. mas porque ela ganha dinheiro com isso, ao contrário do consumidor comum.

ps - pedro, você viu o livro "a morte do cd", o livro virtual?

pas - não vi.

ps - pô, anota aí, pel'amor de deus. é futurodamusica.com.br. sérgio amadeu fez uma coletânea de textos, e eu pus meu texto lá. é bacana, uns 20 artiguinhos de pessoas lidando com a morte do cd.

pas - espera, eu interrompi, você estava falando os perfis do blogueiros, o fã da banda, o colecionador, quem mais?

ps - quem mais? acho que tem uma categoria de agitadores que promovem festas, inventam gírias ou modas na escola e de repente falam "o negócio é soltar meus discos na internet", muito mais como postura que como qualquer outro raciocínio.

pas - um suposto inimigo da indústria, estaria entre eles?

ps - não existe isso, cara! não é possível alguém ser inimigo da gessy lever por princípio, ela faz o sabonete que eu uso.

pas - existe o "no logo"...

ps - não, isso tudo é imaginação fértil, vai. não é um fato. não existe o ativismo anti. os independentes, que teriam todas as razões e até suas perdas de negócios pelo modelo maldito que os caras inventaram, não chegam nesse ponto, não batem de frente. eu como presidente fazia isso, o atual presidente faz, a gente prefere tentar achar um diálogo, o que temos no mínimo em comum.

pas - é que pelo menos no discurso existe muito isso, a oposição à indústria, se não como motivo pelo menos como pretexto.

ps - é difícil falar de esquerda e de direita hoje, porque fica tudo muito fraco, mas...

pas - os terroristas?...

ps - tá, até tem um trecho dos que se exprimem através da internet que tentam criar um discurso contra. mas, na soma de tudo que se acha por aí, acho que é cada vez menos. não é importante, significativo. tem a ver com gente frustrada, "não consegui dar certo com minha banda". a oposição a esse modelo comercial, de negócios, é o creative commons - não é, eles se colocam como sendo complementares, não querem acabar com o direito autoral. o direito autoral acha que o creative commons é um inimigo, que é o inimigo, e se puder detona, se tiver oportunidade diz que é coisa de criança e ridiculariza gilberto gil porque ele se diz a favor, mas não põe sua obra dentro. mas o outro lado fala: "não, não sou seu inimigo, você tem que continuar existindo e eu quero ser uma alternativa, uma válvula de escape para uma outra coisa". os independentes não são inimigos da grande indústria, não estão em guerra declarada. ouvi um cara dizer outro dia que é um filósofo da música. tá bom, vamos dizer que há uma certa filosofia, os futurólogos que ficam falando do futuro da música. eu parei, tá?, decretei que não falo mais do assunto [ri], o presente já é confuso o suficiente. são pessoas que ficam fazendo um discurso filosófico neste sentido que nós dois estamos tendo aqui, de conversar sobre o assunto e tentar enxergar, ir apalpando o assunto para entendê-lo, porque é complexo para caramba.

pas - mas é fascinante também, né?

ps - fascinante, especialmente se você souber algumas coisas que estão acontecendo nessa trama - o papel dos editores, da sociedade, o que faz a gravadora, o independente, onde entra o google no meio disso tudo, por que o nó é impossível de desatar. é um nó que se estende por procuração em cinco camadas, uma atrás da outra: o dono original que assina um papel que passou procuração para outro representar que virou sub-editor que cedeu a música para não sei quem... o autor tem o direito de dizer não, portanto ele tem que ser consultado, em qualquer circunstância.

pas - o autor fica um pouco boiando dentro do tiroteio. falam em nome dele, mas ele próprio não se coloca muito, não se sabe o que ele pensa.

ps - sim, a não ser que ele seja diretor de sociedade autoral.

pas - a não ser que ele seja o fernando brant.

pas - ou ronaldo bastos. ou walter franco aqui em são paulo. mas o discurso deles é muito assim, de "manutenção do meu condomínio". já tentei conversar sobre creative commons, "você já leu o que é?", "não, não li, não quero saber e tenho ódio de quem já leu". é um pouco por aí. mas o quê?, a gente estava falando de quem disponibiliza música? os seres humanos normais, 98% da quantidade dos que disponibilizam música. gente que já ultrapassou esse primeiro impulso que você tinha quando alguém pedia para copiar seu ipod, de ainda não dizer "sim" imediatamente. quem tem de 14 a 34 anos hoje em dia não vê o menor problema, já sabe que não dói, pode pegar, sirva-se. o impulso é igual a você ter um radinho de pilha e o cara falar "posso ficar perto para ouvir o fim do jogo?".

pas - vou perguntar, você responde se quiser: você já disponibilzou música?

ps - [suspira] no tempo do napster.

pas - hoje isso é igual a perguntar "você usa maconha?".

ps - é. era muito simples, muito fácil, era quase semi-automático. entrava música por música, você tinha uma bibliotequinha ali e tudo que você tinha ficava no mesmo lugar. a estrutura era meio pronta para isso. hoje em dia eu pego torrent? pego. pego música uma por uma? cada vez menos. é mais difícil de achar. onde circulam músicas sozinhas, kaazaa, é muito poluído, um ambiente que ficou muito cheio de cópia fácil, empresa de vigilância lançando vírus, sacanagem. tô fora, isso é perda de tempo. agora, se você entra no pirate bay e pergunta se tem raul seixas, ele fala que tem obras completas, que venha. se eu quisesse achar raul no meu supermercado mais próximo, que era o último lugar que vendia música, não tem mais, o que eu faço? para você ver como tudo isso inclusive é anacrônico, chega aqui na minha mesa a dani gurgel. o que faço para saber quem é dani gurgel? entro no youtube, no myspace e no google, acabou. você vê o filme, ouve músicas que ela mesma botou lá e o google te dá uma cobertura. e se eu perguntar: "google, você me acha um mp3 da dani gurgel?", ele imediatamente me entrega onde está esse arquivo! não é questão mais nem de pirate bay, é o google, o google sabe onde está tudo.

pas - você acha que vão fechar o pirate bay?

ps - é só em abril que a gente vai saber o resultado, né? minha expectativa é que não. a defesa foi muito frágil, muito tecnicista. os caras ainda estão achando que existe uma galinha que foge do galinheiro pelo buraco, mas não é nada disso. eu acho que o resultado disso tudo é ter um profundo incômodo na sociedade. pode se transformar num futuro incômodo.

pas - explica?

ps - talvez seja necessário mudar as leis, sim, porque tudo isso nos incomoda. nos coloca na condição de criminosos e não diz respeito mais ao que está acontecendo hoje. não há prejuízo, não há nenhum tipo de mercadoria roubada.

pas - a mercadoria é virtual.

ps - é. é aquela história, se a minha vela acesa acende a sua vela você não me roubou o fogo.

pas - e a mídia tarda em tentar se debruçar sobre o assunto, não?

ps - cá entre nós? o problema não é de muito fácil comunicação. é uma coisa que afeta todo mundo, música, diz respeito a 100% da população. mas realmente você acha que tem alguém preocupado de se sentir criminoso? não. acha que alguém está deixando de fazer as coisas? não. e não acredito que a campanha publicitária ou o fechamento do site vá mudar a vida das pessoas de verdade. fechou uma? vão nascer muitas, muitas discografias.

terça-feira, março 17, 2009

o que é que maria tem?

e aqui, a versão "carta capital" das reflexões sobre maria alcina. saiu na edição 536, de 11 de março de 2009. e um leitor da revista reclamou, com toda razão, de eu não ter mencionado nenhuma vez a personalidade própria que alcina imprimiu a "kid cavaquinho", de joão bosco e aldir blanc. registre-se então: com sua gravação, "kid cavaquinho" passou a ser mais alcina do que bosco, mais a mineira maria do que o mineiro joão. ao texto:

O QUE É QUE ALCINA TEM?
A cantora de "Fio Maravilha" volta apoiada por músicos da nova geração

POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES

"Quando eu me perdia, me perdia mesmo", afirma a mulher de 59 anos que, quando moça de 23, conquistou uma multidão no Maracanãzinho, a bordo de Fio Maravilha. Maria Alcina fez-se conhecer pelo Brasil naquele 1972, quando a versão "black power" para o hino futebolístico de Jorge Ben (hoje, Ben Jor) venceu o VII Festival Internacional da Canção (FIC) no grito, grave e viril.

De lá para cá, a mineira nascida em Cataguases, em família pobre descendente de negros, índios e portugueses, seguiu errática pela música até reencontrar sucesso radiofônico nos anos 1980, agora como "a cantora do duplo sentido", ao som chulo dos forrós É Mais Embaixo, Bacurinha e Prenda o Tadeu. Maria Alcina era do povo, de uma vez por todas. Na rota previsível das modas efêmeras, saiu das paradas tempos depois e deixou a carreira musical estacionada nalguma dobra do tempo.

Pois hoje Alcina vive mais uma pequena revolução interior, iniciada em 2003, quando lançou o disco Agora, em parceria com o grupo paulista de música eletrônica Bojo. A guinada confirma-se neste 2009 no álbum Maria Alcina Confete e Serpentina, editado, como o anterior, pela gravadora independente Outros Discos, de Maurício Bussab (do Bojo).

Nesses dois trabalhos, a cantora que abanava o "calor na bacurinha" soa não só moderna, como sofisticada. E coloca temas elegantes de Paulinho da Viola (Roendo as Unhas), Sérgio Sampaio (Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua), Tom Zé e Lô Borges (Açúcar Sugar) em contato com novas safras de músicos, em composições e parcerias com Wado, Ronei Jorge, Numismata, Roseli Martins, Tatá Aeroplano, Moisés Santana.

"Esses meninos têm 20 e poucos anos e eu, só de carreira, tenho 37", espanta-se. "Mas eles dizem que me ouviam quando eram pequenos." Ouviam, portanto, não só a Maria Alcina quase "chique" de Fio Maravilha, mas a quase "brega" de Bacurinha e Prenda o Tadeu.

"Tem tanta gente chegando. Por que dizem que não tem? Não sei por quê. Ou até sei, mas não quero falar...", deixa no ar essa artista que gosta de sublinhar repetidas vezes sua condição de "muito ignorante de estudo", mas de aguçada intuição.

Quando diz que se perdia e se perdeu vezes seguidas, remete-se ao fato de ter conquistado lugares ao sol na marra, sem apoio palpável de ninguém. "Nunca fui uma menina protegida, muito pelo contrário. Saí de casa porque tinha aquelas desavenças de comportamento, o pai exigente, a mãe exigente. Eles querem uma coisa e você pula para outra, tem aquelas coisas de...", interrompe a frase no ar e ri, e suspende a fala. "Sou operária, venho do operariado. Cantava jovem guarda e trabalhava em fábrica. Foi Gilberto Gil quem me deu o tom, quando cantava olha, lá vai passando a procissão/ se arrastando como cobra pelo chão.

Alcina lembra que, antes do berro de Fio Maravilha, houve a máquina de escrever. Ela aportou no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970, instigada pelo talentoso compositor, arranjador e pianista Antonio Adolfo, autor de sucessos pop como Sá Marina (lançada por Wilson Simonal) e Teletema (com Evinha).

Futuro pioneiro na gravação independente de discos no Brasil, Adolfo vencera o tumultuado FIC de 1970 com BR-3, interpretada em tom de manifesto "black power" por Toni Tornado. Abriu a empresa Brazuca Produções, com o objetivo de construir a carreira musical de Tornado, afinal abortada entre episódios nebulosos de prisão pela ditadura, logo após a consagração no festival.

Foi na Brazuca que a mineira franzina encontrou abrigo, dois anos antes de virar ela própria vencedora de outro turbulento FIC, no qual o júri mais intelectual pendia para a concretista Cabeça, de Walter Franco, e o público (mas também a Globo) preferia Fio Maravilha.

"Antonio Adolfo me arrumou o emprego para que eu pudesse ficar no Rio. Tentei ser secretária, mas, quando começava a bater máquina, aquele som lembrava o quê? Lembrava música, ritmo. Eu era cantora, tinha ido ao Rio para cantar. Falei: 'Prefiro servir cafezinho, varrer, lavar banheiro, mas ficar batucando aqui para lembrar que sou cantora, não vou'."

Pelas brechas e com o apoio de Adolfo, agarrou a oportunidade de cantar na abertura dos shows de Tornado. E afinal estreou show-solo sob direção de Severino Filho, fundador do grupo vocal Os Cariocas. Dali pulou para a vitória no FIC e para o LP de estreia, produzido em 1973 pelo radialista Walter Silva (morto há poucos dias). Os arranjos agressivos, entre Carmen Miranda e tropicália, se distribuíam entre marchinhas carnavalescas (Alô, Alô, Como "Vaes" Você, Me Dá, Me Dá) e baiões (Paraíba, Mulher Rendeira). O sucesso foi maciço. E ela não segurou a barra.

"Se você segue o caminho de se tornar um ídolo, atendendo às expectativas do outro, isso sempre está na sua frente. Vi isso começar quando fiz muito sucesso com Fio Maravilha. E, por algum distúrbio meu (ri), acho que não seguro, não, sabe? Nunca segurei", explica. E emenda com uma confissão: "Sempre estive na música, estive no Maracanãzinho, e estou até hoje, com muito medo. O medo do sucesso é algo que acontece, mesmo".

Razões para temor não faltariam. A ditadura esteve de olho em Fio Maravilha desde o pontapé inicial. "Fazia assim com a mão e o microfone (gesticula), e para a censura eu estava sugerindo masturbação", conta. Afirma que os embates não eram conscientes e alterna para recordações mais pessoais: "Eu era magrinha, barriga de tanquinho. Mas é que também tinha muita fome, né? A gente passava uns perrengues".

Justifica com candura a afinidade com gerações mais jovens, enquanto outros artistas e críticos reclamam da inexistência de novos autores e canções: "Fui criada sem rádio. Tudo que eu tinha de ouvir para me formar como cantora e gente não ouvi por falta de oportunidade. Então, a vida inteira estou me formando, ouvindo. A música, para mim, sempre vai ser nova".

Na segunda onda de sucesso, a malícia sexual lhe abriu as portas televisivas dos programas de Raul Gil, Bolinha e companhia. E tampouco essa barra ela parece ter segurado. "A gravadora queria continuar naquela do duplo sentido, e eu preferi pedir rescisão de contrato. Sabia que, se continuasse naquele caminho, eu ia acabar com a minha carreira. Às vezes é preferível não fazer que fazer qualquer coisa. Então fiquei solta, cabeça de bicho solto. Funciono como uma cabeça livre."

Adiante, relativiza a autonomia do "bicho solto": "A gente fica falando assim, mas vai ver tomei pé na bunda da gravadora mesmo". Não esconde que passou anos sem conseguir contrato com gravadora qualquer. E sabe que, hoje, diante da derrocada da indústria do disco, isso tem mínima importância.

"Maurício colocou o novo disco primeiro na internet. Nem sei como funciona, continuo na era do cajado. Mas muita gente me diz que ouviu o CD, que viu matéria aqui e ali. O disco botou o bloco na rua sozinho. Eu digo, nossa, que maravilha, há quanto tempo não me sinto nessa situação."

A mudança vira sua história ao avesso e resulta em discos elegantes que as gravadoras chamariam de anticomerciais. Sob esse prisma, a relação entre Alcina e a cantora "sacana" de outrora fica conflituosa. Conta com pesar do show recente em que uma mãe na plateia tapou os olhos da filha pequena enquanto ela cantava Bacurinha. Primeiro, se defende: "Isso ainda me espanta, me incomoda. Para mim, estou brincando, estou sendo criança ali. E aquela mãe faz o contrário com a criança, enquanto eu estou ali sem mãe e sendo aquela criança. É a mãe que pensa em maldade, ali, na fila do gargarejo, não a criança. Eu ainda recebo de frente aquele momento, porque isso é uma censura, né?"

Em seguida, busca a autocrítica: "Não pense que acho tudo levianamente interessante. Eu me preocupo. Na verdade, queria frear esse meu jeito (ri). Mas não tem jeito. É tão gostosa a brincadeira".

Hoje, as tantas personagens que passaram por Maria Alcina convivem nela com certa harmonia. A afinidade profunda com Carmen Miranda a beneficia no ano do centenário da cantora. Alcina viaja o Brasil com show dedicado ao repertório daquela que é sua principal referência. A Bacurinha não arrefece nunca, seja junto ao povão, seja em festas "modernas" de paródia envergonhada, seja junto a jovens que não haviam nascido quando ela, anestesiada, beliscava a ditadura travestida de odalisca jogadora de futebol.

Como sempre fez intuitivamente em música, interpreta com simplicidade a reviravolta vivida e a harmonia entre as várias Marias Alcinas, de ontem e de hoje: "A idade vai chegando, a vida vai andando. E você começa a se encontrar de novo com aquilo que está fazendo".

sexta-feira, março 13, 2009

toque o berrante, seu moço

não, esta eu preciso compartilhar com vocês.

olha só o e-mail de agradecimento que recebi (em companhia de trocentas outras gentes, por certo) da planeta tela comunicações.

obs.: no meu caso, os agradecimentos são 100% não-merecidos, porque eu ainda não assisti a "o menino da porteira" nem escrevi uma linha sequer sobre ele (ops, agora escrevi!, cáspite!) - não que eu tenha nada contra "o menino da porteira" (sou fã confesso de "os 2 filhos de francisco", por exemplo), muito pelo contrário.

mas é que acho esse bombom de congratulações um tanto quanto vexatório para nós, jornalistas, como um todo.

então lá vai:

@

"Pessoal, muito obrigado a todos os colegas repórteres, fotógrafos, articulistas, críticos, cronistas, blogueiros, tuiteiros, enfim a todos que ajudaram a tornar o filme 'O Menino da Porteira' um fenômeno incrível de repercussão jornalística, com um incontável número de matérias publicadas em todos os cantos do Brasil.
Abração!".

@

"colegas"?

"ajudaram"?

"fenômeno incrível de repercussão jornalística"?

hum.

depois dizem que só relógio é que trabalha de graça.

e depois os bois e as vacas é que são gado.

hunf.